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Cânticos de torcida podem ser fontes orais?

Imagem: Fábio Soares/Futebol de Campo

Quem frequenta arquibancada de estádio canta. Sabemos disso. Em nosso território, cantar é uma obrigação. Eu fui criado assim: cantando em arquibancadas. E os cânticos de arquibancada sempre me chamaram a atenção. Seja da minha torcida, seja das adversárias.

Os cânticos de torcida são tão parte do futebol que quando a torcida ficou afastada dos jogos nos estádios durante a pandemia, colocaram a torcida cantando gravada. Se não, o jogo fica sem trilha sonora. Mas o que a gente canta?

A gente canta um monte de coisa. E eu sempre fiquei pensando nessas coisas que a gente canta na arquibancada. E me espanta que nossas pesquisas sobre futebol quase não falam sobre o que a torcida canta, como canta, quando canta e o que quer dizer quando canta. Na área de História então, são menos ainda.

Imagem: Fábio Soares/Futebol de Campo

Quando a Revista História Oral, editada pela Associação Brasileira de História Oral, lançou a chamada para o dossiê “Esportes e Fontes Orais” eu pensei, pensei, pensei e no meio de tanto trabalho, resolvi me fazer esse desafio: fazer um artigo que pudesse colocar os cânticos de torcidas como fontes orais e submeter a este dossiê. Mas seria uma tarefa pesada. Um artigo teórico-metodológico exige um trabalho imenso.

E assim o fiz. Enquanto ia escrevendo e articulando os referenciais teóricos que me ajudaram a pensar, eu lembrava as músicas que cantei minha vida inteira na arquibancada e de como elas me serviam como “vias de acesso” ao passado. E depois de uns bons cinco meses trabalhando no texto, fiz a submissão.

Imagem: Fábio Soares/Futebol de Campo

O título do texto tem um pedaço de um cântico que cantei muito em estádio: “Recordar é viver! Evair acabou com você!”. Quem cantou e quem ouviu essa canção sabe muito bem do que estou falando. Mas no texto, para não haver qualquer tipo de identificação, não usei o nome de Evair. Apenas o trecho inicial “Recordar é viver”, que me pareceu perfeito para o título.

Após um tempo de expectativa, a resposta: APROVADO. Os/as pareceristas fizeram sugestões, que foram acatadas e que agradeço aqui publicamente, ainda que não saiba quem foram os ou as pareceristas. Eu mal podia acreditar. Aquilo que eu fiz minha vida inteira (e que pretendo fazer o resto da vida), cantar nos estádios….

Mas, eu não vou dar “spoiler”. Vim aqui para convidar você a ler o artigo “Recordar é viver”: cânticos de torcida, memória e fontes orais e viajar comigo. Principalmente se você pesquisa futebol e canta em arquibancada. Mais ainda se você trabalha com pesquisa histórica e torcida. E convidar você a incorporar os cânticos de torcidas como fontes em suas pesquisas.

Cantar, recordar, viver, pesquisar. Tudo misturado. Espero que gostem. Eu amei. Mas eu sou suspeito.


Não percam o debate de lançamento do dossiê, com a participação de Sergio Giglio, Raphael Rajão e André Capraro, que também publicaram artigos neste dossiê. Acontece dia 21 de outubro de 2021. Mais informações neste link.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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João Malaia

Historiador, realizou tese de doutorado em História Econômica pela Universidade de São Paulo sobre a inserção de negros e portugueses na sociedade carioca por meio da análise do processo de profissionalização de jogadores no Vasco da Gama (1919-1935). Realizou pós doutorado em História Comparada na UFRJ pesquisando as principais competições internacionais esportivas já sediadas no Rio de Janeiro (1919 - 2016). Autor de livros como Torcida Brasileira, 1922: as celebrações esportivas do Centenário e Pesquisa Histórica e História do Esporte. Atualmente é professor do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e atua como pesquisador do Ludens-USP.

Como citar

SANTOS, João Manuel Casquinha Malaia. Cânticos de torcida podem ser fontes orais?. Ludopédio, São Paulo, v. 148, n. 19, 2021.
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