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Experiência inicial com a coleta de dados de público da Copa do Nordeste

Uma das atividades do projeto de iniciação científica “Estruturação, mercantilização e espacialização nos primeiros 10 anos da fase contemporânea da Copa do Nordeste (2013-2022)” (Pibic-Ufal 2023-2024) é a coleta de dados de público total. Há a compreensão de que é um dos elementos quantitativos que pode refletir a importância do torneio.

Esta atividade consta dentre aquelas desenvolvidas no do plano de colaboradora 2, “Sinais e consequências da identidade estadual alagoana pela Copa do Nordeste (2013-2022)”. O objetivo geral é entender de que forma estruturação, mercantilização e espacialização deste torneio regional impactaram no reforço da identidade do torcedor alagoano.

O primeiro passo foi a análise de público total da Copa como um todo para, em seguida, fazer o recorte dos clubes de Alagoas. Este texto irá comentar alguns dos resultados iniciais, dificuldades e algumas considerações prévias.

Método

A coleta de dados foi realizada no site oficial da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) a partir das informações dos borderôs dos jogos da Copa do Nordeste. À princípio, foi feita a coleta do ano de 2013 e, posteriormente, a cada mês, um triênio. Até o momento, fomos até 2019.

Foram coletados os dados de público total, registrados em páginas diferentes de uma planilha. Na mesma linha de registro, foram incluídos: fase, jogos disputados, estádio e público total. Além disso, no último triênio feito foi possível calcular a média de público por fase e a média total.

Dificuldades

Os boletins financeiros são facilmente encontrados no site da CBF, no entanto, passamos por algumas dificuldades. Como comentado por Santos e Gonçalves (2024), a leitura de documentos preenchidos de forma manual às vezes impedia de enxergar bem os números.

Da mesma forma, confirmamos aqui como principal dificuldade a falta de padronização dos boletins financeiros e a negligência da maioria dos clubes, pelo menos até 2018, em disponibilizar com clareza o público total. De maneira que para os dados que precisávamos, em muitos casos, tivemos que nos basear no número de ingressos vendidos.

Copa do Nordeste
A taça da Copa do Nordeste. Foto: Lucas Figueiredo/CBF.

Observações prévias dos dados

Mediante a coleta dos dados de público total, foi possível observar algumas coisas

Do período coletado, importante informar que as edições de 2013 e 2014 contava com representantes de 7 estados do Nordeste, com o formato da competição sendo de 4 grupos com 4 equipes cada.

De 2015 a 2017, com a entrada de representantes de Maranhão e Piauí, a competição vai para 5 grupos com 4 equipes cada. Assim, a quantidade de jogos salta de 62 para 74 (Santos; Gonçalves, 2024). Em 2018, há nova mudança, com o retorno dos 4 grupos com 4 equipes cada na fase maior, mas o acréscimo de uma preliminar, com 4 confrontos no sistema de ida e volta. Assim, a competição diminuiu para 70 partidas.

O modelo mudaria novamente em 2019. A competição mantém os 8 jogos da fase preliminar, mas se transforma para 2 grupos com 8 equipes cada, com confrontos de times de um grupo contra os do outro. Além disso, as quartas-de-final e semifinais passam a ocorrer em jogo único. No geral, aumentou para 72 partidas.

Apresentado isto, é também possível observar o crescimento da presença do público nos estádios ao longo dos anos. Uma hipótese a ser trazida e avaliada ao longo da pesquisa é a maior cobertura midiática que a Copa do Nordeste recebeu do Esporte Interativo (EI). No ano em que o EI deixou de ser uma emissora, por exemplo, a média de público total caiu de 18.690 (2017) para 12.662 (2018).

Outras observações importantes são sobre os elementos que interferem na presença do público no estádio. Times das capitais possuem mais relevância dentro do próprio estado, especialmente, Bahia, Pernambuco e Ceará, estados dentro do Nordeste que se destacam economicamente e que possuem grandes estádios.

Outro fator relevante a ser considerado é a transição para a “Copa dos Clássicos”, em 2019. O foco da mudança do regulamento era garantir desde a primeira fase a maior quantidade de jogos entre clubes de um mesmo estado, algo garantido nas regras do sorteio. Se os clássicos colocam mais público – algo observado, para o caso do Campeonato Alagoano em Moreira Aristides dos Santos, Lima e Gomes dos Santos, 2022 –, esta mudança gerou aumento na média da primeira fase: de 4.242 pessoas em 2017 e 3.221 pessoas em 2018; para 6.367 para 2019.

Confirma-se ainda, como tratado por Santos e Gonçalves (2024) para o caso da renda líquida, e por Moreira Aristides dos Santos, Lima e Gomes dos Santos (2022) ao estudar o Alagoano, que a fase do campeonato também é relevante.

Sobre os times alagoanos, apresentam uma presença de público estável, entre 1 mil e 6 mil, mas que são interceptados pelos elementos citados acima.

Assim, os dois maiores públicos com mando de campo de equipe alagoana no período foram dois “Clássicos das Multidões” na primeira fase da competição: CRB X CSA, em 2017, com 12.328 pessoas; e CSA X CRB, em 2019, 12.025 pessoas. Entre os 5 maiores, aparece ainda ASA X Campinense, final do Nordestão de 2013, realizada em Arapiraca, com 10.235 pessoas.

O menor público foi a partida entre Coruripe e América-RN pela primeira fase da edição de 2016, realizada na cidade de mesmo nome do clube do litoral sul alagoano, com 544 pessoas.

Considerações parciais

Desse modo, apesar das dificuldades encontradas, a coleta de dados se mostra relevante e com mais aspectos positivos, não tendo que interromper a pesquisa em nenhum momento, de maneira que possibilita atingir o objetivo demandado.

A padronização dos boletins fica mais evidente no ano de 2018, no entanto, alguns clubes ainda deixam a desejar nesse cuidado, assim fica essa recomendação. Ademais, é necessário preservar a qualidade visual do conteúdo presente nos boletins.

Por fim, o que foi feito até agora está alinhado com a proposta da pesquisa e corresponde ao que se era esperado. Este texto traz diversos elementos que confirmam hipóteses definidas em outras publicações, além de deixar um caminho para aprofundamento no segundo semestre da nossa investigação científica.

Referências

MOREIRA ARISTIDES DOS SANTOS, Anderson; DE LIMA, Brendo Henrique; GOMES DOS SANTOS, Anderson David. Análise dos fatores associados à receita líquida e ao público pagante dos jogos nos estádios de futebol do campeonato Alagoano, 2009-2019. PODIUM Sport, Leisure and Tourism Review, [S. l.], v. 11, n. 3, p. 605–636, 2022. DOI: 10.5585/podium.v11i3.21451. Disponível em: https://periodicos.uninove.br/podium/article/view/e21451. Acesso em: 7 mar. 2024.

SANTOS, Anderson David Gomes dos; GONçALVES, José Mateus. Experiência inicial com a coleta de dados de receita líquida de jogos da Copa do Nordeste. Ludopédio, São Paulo, v. 176, n. 12, 2024.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Anderson Santos

Professor da UFAL. Doutorando em Comunicação na UnB. Autor do livro "Os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de Futebol" (Aprris, 2019).

Como citar

SANTOS, Anderson David Gomes dos; SANTOS, Joyce Kelly Maia Serafim dos. Experiência inicial com a coleta de dados de público da Copa do Nordeste. Ludopédio, São Paulo, v. 177, n. 20, 2024.
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