174.25

Conseguiram

Pedro Zan 25 de dezembro de 2023

Quarta-feira, 6 de dezembro de 2023. Última rodada do Brasileirão, a qual a CBF conseguiu organizar mal de tal forma que teve que ocorrer no meio da semana – que saudade de quando os campeonatos acabavam em um domingo. 

Nesse dia, o Santos “jogaria a sua vida” para se manter na Série A, algo inédito, já que mesmo em 2008, 2021 e 2022, o time já estava livre do “fantasma da B” com certa antecedência. Pela primeira vez, o clube de Pelé chegava à última rodada de um Brasileirão tendo que vencer para se salvar. E acordei com a certeza de que não iria vencer.

Esse time do Santos, o pior da sua história, nunca seria capaz de derrotar o bom Fortaleza de Vojvoda. Mas, (in)felizmente ainda havia esperança, já que mesmo com um resultado negativo o Peixe se manteria na primeira divisão com determinada combinação de resultados: ou o Bahia não derrotava o Atlético Mineiro na Fonte Nova, ou o Vasco era derrotado pelo Red Bull Bragantino em São Januário. E acordei com a certeza que nenhum desses resultados aconteceriam naquela noite.

Acordei com a certeza do rebaixamento por um motivo: se algum desses times merecia o rebaixamento neste ano, esse time era o Santos.

O agora ex-presidente Rueda, que admitiu em debates em 2020 que “não sabia nada de futebol, e tinha raiva de quem sabia” conseguiu fazer exatamente o que prometeu: tomou todas as piores decisões esportivas possíveis. Seja por meio de contratações equivocadas, como a de um trio de jogadores vindos do Água Santa, seja por escolhas inexplicáveis de treinadores, como a de um que acabava de vir de seu primeiro trabalho para tentar escapar do rebaixamento. Isso além, claro, de trazer para o seu lado “especialistas” da bola, como o assediador, que preferia ver Wimbledon a acompanhar o time que ele montou, levar uma histórica goleada no Morumbi. Nesse sentido, a gestão de Rueda cumpriu aquilo que era esperado dela.

André Rueda
Ex-Presidente do Santos, Andrés Rueda Foto: Pedro Azevedo/Santos FC./Divulgação.

Por outro lado, o ex-presidente não conseguiu realizar sua única plataforma de campanha: acertar as contas do clube. É claro que a situação era muito ruim, talvez pior do que o que o próprio Rueda esperava. Mas foi o próprio “gestor” que prometeu, na virada de 2022 para 2023, que o novo ano seria um em que o clube conseguiria investir mais no futebol – e logo de cara vieram três reforços que ou brigaram para não cair, ou foram rebaixados no Brasileirão anterior. Por mais que a gestão Rueda tenha, de fato, sanado certas dívidas graves e imediatas (acreditem se quiser, mas o Santos terminou de pagar Leandro Damião NESTE ano), a situação financeira do clube não chega nem perto daquela que o ex-presidente prometeu. A tal da “austeridade” não funcionou, muito porque não tinha como funcionar: montar um elenco ruim significa, necessariamente, ter um time ruim para a temporada, perder premiações para o presente e para o futuro – sim, na próxima temporada o Santos disputa apenas duas competições em todo o ano, no caso, o Paulistão e a Série B, já que conseguiram perder a classificação para a Copa do Brasil.

Além disso, o próprio “papo” da austeridade, que elegeu Rueda, foi deixado de lado assim que a “água bateu na bunda”. Assim como em 2021 e 2022, no meio da temporada a gestão teve que “tirar o escorpião do bolso” para trazer jogadores caros, teoricamente melhores, que “salvassem” o time da queda – se podia fazer isso no meio do ano, por que não fazer no começo, não é mesmo? Talvez tenha sido tarde demais.

Não quero entrar aqui, agora, em críticas merecidas ao elenco, formado majoritariamente por jogadores que não se importam com o clube, indisciplinados, que ou se recusam a treinar sob o comando de determinado técnico, ou chegam alcoolizados nos treinamentos; um elenco vagabundo (com o perdão o termo), que decidiu correr apenas quando o limitado taticamente “amigão da galera”, apreciador de pastel de presunto, se tornou o comandante – por ele vocês correm, né? Todos são culpados, é indiscutível. Mas se o Santos brigou contra o rebaixamento nos últimos três anos, e culminou nesta melancólica queda, o culpado tem nome e sobrenome: Andres Rueda.

Era impossível um time que terminou a competição com incríveis -25 gols de saldo não ser rebaixado. Era iminente. Conseguiram rebaixar o maior time da Terra, no ano em que o maior jogador que o mundo já viu, e que vestiu e tornou a 10 do Santos a camisa mais icônica do esporte, se foi. Nem mesmo o espírito de Pelé conseguiria evitar o inevitável. 

Era óbvio que o Santos ia cair. O torcedor se recusa a entender, busca incentivar, dar o apoio incondicional que a incrível torcida alvinegra ofereceu a um elenco que nunca mereceu nem um por cento disso, mas não dava.

Os últimos três jogos do campeonato deixaram isso muito claro: não havia mais força. O elenco mal montado pela gestão Rueda, que passou por três trocas de técnico no mesmo ano, além de trocas na direção, promovidas pela gestão Rueda, não tinha mais condições de lutar. Esse time até chegou a ser “guerreiro” no segundo turno: teve que correr atrás de viradas contra times fortíssimos, como Flamengo e Palmeiras; teve que vencer e empatar jogos no último minuto, como foi contra Bahia, Grêmio, Goiás e Botafogo. Mas uma hora cansa. Era nítido que não havia mais impulso, mais gás. Contra Fluminense, Athletico e Fortaleza, podia-se jogar até o dia seguinte, que o Santos não conseguiria sair com os últimos três pontos que faltaram para se safar do inédito, porém esperado, rebaixamento.

E o futuro? Marcelo Teixeira acaba de ser reeleito depois de 14 anos – e já começa a fazer das suas, como anunciar um treinador sem acertar sua liberação com o clube japonês do qual vem. O futuro santista é tenebroso – não se surpreendam se o time se mantiver alguns anos na Série B.

Carille
Carille é o novo treinador do Santos para 2024. Foto: Guilherme Kastner/Santos FC.

Conseguiram rebaixar o Santos. Parabéns Andres Rueda, gestores, jogadores e treinadores (nessa ordem) que passaram pelo clube entre 2021 e 2023. O Santos está na B. E agora?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Pedro Zan

Quase formado em Filosofia na Unicamp, mas bom mesmo é falar de futebol. Santista desde sempre, também tenho um podcast, "Os Acréscimos", e sou um dos administradores da página "Antigas Fotos do Futebol Brasileiro".

Como citar

ZAN, Pedro. Conseguiram. Ludopédio, São Paulo, v. 174, n. 25, 2023.
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