Depois de uma música brega ou uma paródia de hino do clube em ritmo de toque do celular anunciando o gol em algum jogo de mata-mata, o narrador e a produção gastam alguns segundos fazendo contas rápidas até explicar ao telespectador o que cada time precisa para se classificar à próxima fase de alguma competição.
– Com esse gol do time A, o time B vai precisar de três gols se quiser a classificação. Isso porque o gol fora de casa marcado pelo time A entra como critério de desempate depois da partida vencida por dois gols de diferença na ida.
Queimo meus neurônios tanto ou mais do que nas aulas de matemática, das quais me salvei por ter facilidade com regras de três e porcentagens – para o restante de cálculos e números, sou tão inábil quanto um cachorro andando de bicicleta.
Balançar as redes adversárias ganha uma peso maior quando em jogos como visitante.
Se até o número de escanteios já foi critério para definir quem avançava ou ficava no meio do caminho das competições, não é de se estranhar. Mas o leitor que proclama elogios à cada vez mais modorrenta e repetitiva “Champions” – pois os últimos anos nos brindaram com os mesmos times nas fases finais, numa concentração de renda e qualidade que não se vê na Libertadores, por exemplo – verá tal regra no mínimo controversa em sua menina dos olhos, na qual até a prorrogação fica difícil de ser explicada aos leigos quando o gol fora de casa é mais importante do que a campanha em toda a competição.
Gol qualificado? Diria Dadá Maravilha que não existe gol feio, eu sei. Mas como qualificar um gol? Pela beleza de uma bicicleta ou chute disparado do meio de campo? Uma triangulação de deixar-nos tontos feito labirintite até o toque final e sutil cara a cara com o goleiro?
Antes fosse, pois basta que dentro de campos cada vez mais teatrais com a elitização crescente, há quem chegue a comemorar empates quando não se toma um gol diante de sua torcida ou mesmo entre em campo com regulamento por (muitas) vezes esdrúxulos, deixando o brilho do (cada vez menos) esporte em segundo plano.
Pouco importam as campanhas memoráveis de quem tem na sequência incontestável o credenciamento para o favoritismo em uma competição: aquela bola vadia no apagar das luzes longe de suas terras não poderia ter valor maior do que outros lances resultantes no maior momento do maior esporte.
Gol é gol, meu amigo. Aqui, aí, na China. Gol é gol.
Existem golaços pela qualidade estética, mas o lugar nunca será determinante quando a beleza do orgasmo futebolístico.
Preservem a melhor campanha, joguem mais trinta minutos, deem de ombros para a televisão e sua programação quadrada, nos brindem com pênaltis e sua mania de caçar o erro dos craques. Não sei, se virem, mas procurem outro critério de desempate em todas as competições existentes.
Mas acabem o quanto antes com o gol qualificado, esse nome tão fresco para uma desculpa esfarrapada e um fim de embate precoce.
Nós, que amamos um futebol sem distorções por regulamentos, agradecemos.