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Copa do Brasil: da desconfiança ao sucesso?

André Alexandre Guimarães Couto 16 de novembro de 2014

Hoje, às vésperas de conhecermos o campeão da Copa do Brasil de 2014, no clássico mineiro entre Atlético-MG e Cruzeiro, numa final que há muito se esperava devido ao tamanho destes dois times e também à grande rivalidade dos mesmos, me veio uma questão: será que a Copa do Brasil sempre foi bem vista?

Retornamos, então, ao ano de 1989, há 25 anos atrás. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) resolvera criar um novo torneio de futebol de caráter nacional. Motivos? Vários, dos quais podemos comentar alguns: a necessidade de virar a página da malfadada Copa União (que gera discussão e debate até os dias de hoje), a ideia ainda que realizada de forma tacanha e politizada de modernizar o futebol brasileiro aos moldes do futebol europeu e a possibilidade de ampliar o caixa da CBF com mais jogos em um torneio mais curto e de eliminatórias desde a sua primeira rodada e ainda com direito a uma vaga na Taça Libertadores da América, principal torneio de futebol na América do Sul até os dias de hoje.

Obviamente, não poderíamos nos esquecer da possibilidade de ganhos políticos com a inserção dos representantes de cada federação do futebol brasileiro. É importante lembrar que o formato inicial previa os campeões de cada estado e mais alguns vice-campeões dos estados com maior importância e arrecadação financeira no cenário nacional. No total, 32 times de todas as federações, disputavam este torneio no ano inicial. Se pensarmos que a Copa União diminuiu radicalmente a quantidade de clubes na primeira divisão do campeonato brasileiro (em 1986, eram 44 equipes, o que já significava um declínio se considerarmos que em 1979 eram 94 clubes), entendemos o porquê da criação deste torneio.

Atlético-MG x Cruzeiro em jogo válido pela Copa do Brasil 2014, no estádio Independência. Foto: Gualter Naves – VIPCOMM.

É interessante também pensarmos na ideia de modernização do esporte, copiando os modelos quase seculares de torneios nacionais deste porte em países europeus como a Copa do Rei (Espanha), Copa da Itália, Copa da Liga Inglesa, Copa da Inglaterra e Taça de Portugal, por exemplos.

Porém, apesar do apoio das federações e da ideia interessante, pois vencer um estadual poderia levar uma equipe a uma competição nacional, ainda assim a imprensa e várias personalidades do esporte diziam que a competição não iria adiante.

Jogadores famosos como Zico davam declarações que o novo torneio não passava de um “caça-níquel” e, de forma diferente mas também crítica, parte da imprensa carioca e paulista não acreditava que jogos entre times grandes e outros pequenos pudessem gerar grandes rendas. Algumas equipes, inclusive, poupavam jogadores mais importantes nos jogos iniciais.

Jornal Correio do Povo (reprodução).

 

Até mesmo a imprensa gaúcha que vibrou com a vitória do Grêmio contra o Sport, só passou a se animar (?) com a possibilidade real de um título como podemos ver acima (contra o Sport, na final) e abaixo (contra o Flamengo, na semifinal):

Jornal Zero Hora (reprodução).

Se o primeiro jogo da final, na Ilha do Retiro, teve como público pagante 36.117, o segundo jogo, apoiado pela imprensa local e pela vantagem de jogar em casa, levou 62.807 pagantes ao Estádio Olímpico em Porto Alegre.

Pronto (como dizem os nossos amigos do nordeste): estava aberta a porta para a CBF continuar investindo em um torneio nacional mais ágil e político (a despeito da mudança de regulamento de 1989 para cá, incluindo, em 2013, 86 times nesta disputa).

Tabela da Copa do Brasil de 1989.

Apesar de jogos deficitários neste primeiro torneio, as primeiras resistências, inclusive da imprensa eram vencidas. A imprensa carioca, por exemplo, lamentava o fracasso das equipes cariocas, apostava em um bom desempenho das mesmas no campeonato brasileiro (que O Globo, por exemplo, ainda chamava de Copa União), mas dava um grande destaque ao torneio, como podemos observar abaixo.

Jornal O Globo (reprodução).

Desta forma, temos hoje um torneio inchado, ainda com problemas deficitários, mas pouco questionado na imprensa esportiva. Aliás, questiona-se, por alguns cronistas, o formato do campeonato brasileiro por pontos corridos, já consolidado pelo modelo adotado em 2003. Contestações, aliás, que não víamos lá há 11 anos atrás, por parte destes mesmos jornalistas. Mas, esta já é outra conversa.

Por ora, deixo os gols daquela final de 1989, principalmente para os gremistas matarem a saudade de um time que tinha Assis, Cuca e Mazzaropi. Aliás, como Cuca jogava bola…

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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André Couto

Professor, historiador, especialista em História do Brasil (UFF) e em Educação Tecnológica (CEFET/RJ) e mestre em História Social (UERJ/FFP). Doutorando em História (UFPR).

Como citar

COUTO, André Alexandre Guimarães. Copa do Brasil: da desconfiança ao sucesso?. Ludopédio, São Paulo, v. 65, n. 5, 2014.
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