Das últimas 10 edições da Copinha, em 8 delas algum atleta do time campeão se tornou jogador da Seleção. O talento presente na competição é inegável e, consequentemente, o nível é altíssimo. Contando com uma diversidade gigante de juniores do país, a competição se torna mais um dos “atalhos” que o atleta encontra em sua carreira. O nível do campeonato é reconhecido tanto pelos profissionais da área, como pelos torcedores, que se adaptam para conseguir acompanhar o time de base durante o mês de janeiro, fato que se torna bem mais raro em outros momentos do ano. 

O campeonato é curto e simples. Os objetivos se renovam a cada vitória, mas sendo sempre o mesmo: vencer o próximo jogo. Sob os olhares de muitos e estádios lotados, muitos jogos acontecem todos os dias durante todo o mês. Alguns times não se encontram no nível do campeonato e são eliminados cedo. Alguns outros times são eliminados em lances específicos de jogos com alto nível de tensão, e assim o campeonato vai afunilando.

A promessa está posta: ganhe o campeonato e as portas se abrirão. Jogam 128 times e ganha um. Campos ruins, situações caóticas, alto nível de atenção para não cometer erros e eles jogam. Primeiras experiências com a torcida, peso do trabalho do grupo, peso da responsabilidade com a família: tudo isso entra em campo. A pouca idade e o nível de jogo pesam de forma pessoal em cada um e só fica quem ganha.

Quanta força mental você precisa para ser eficiente nesse nível esportivo sob essas condições? Quanta força mental você precisa para não errar uma ação em 90 minutos sob essas condições? Por todos esses motivos é que a Copinha, ainda hoje, é considerada o maior torneio de categorias de base do Brasil. E é por isso que, após sua realização, cada um dos quatro grandes paulistas merece uma análise de sua performance. Afinal, presente e futuro de cada um dos clubes é nos mostrado nessa competição mais do que especial.

Copinha

Palmeiras: Muito além do título (e de Endrick)

Não existe outra palavra para descrever a campanha das Crias da Academia que não seja HISTÓRICA. A conquista do inédito título da Copinha, com campanha imponente e goleada por 4×0 contra o Santos na final, coroa um ciclo extremamente vitorioso de reconstrução das categorias de base palmeirenses, que já haviam conquistado todos os objetivos que o departamento de formação de um clube pode querer: convocações para seleções de base, títulos e, o principal, aproveitamento de atletas no time de cima. O investimento, que teve início em 2013 com Paulo Nobre, dobrou nas gestões de Maurício Galiotte e hoje se encontra em cerca de 30 milhões de reais por ano, sob a gestão do diretor João Paulo Sampaio. Com a mudança de postura no mercado de transferências adotado a partir de 2020 (e que, ao que tudo indica, deve se manter com Leila Pereira), deixando de contratar de “baciada” e dando oportunidade à garotada da base, tal evolução pode ser vista com clareza na equipe profissional, com vários desses atletas tendo papéis fundamentais nas conquistas de títulos das seguintes temporada.

A equipe da campanha histórica da Copinha não era, nem de longe, desconhecida dos olhos do torcedor palmeirense. Diversos atletas já haviam atuado no time de cima, principalmente durante o Paulistão 2021 e como opções no banco de reservas de alguns jogos do Campeonato Brasileiro e da Libertadores. Após a conquista do tri continental, com a antecipação das férias do elenco principal, um time quase idêntico ao escalado na Copinha foi a campo para a disputa das três últimas rodadas do Brasileirão, vencendo duas delas e empatando uma. Um papel para lá de digno.

A impressão do palmeirense é que, de alguma forma, todos os jogadores da equipe titular da Copinha já teriam condições de integrar o time principal, com papéis maiores ou menores na equipe de Abel Ferreira. Cabe, portanto, destacar seus pontos principais. Mateus foi um goleiro seguro durante toda a competição, e já integra a equipe principal como quarto goleiro. Naves e Lucas Freitas formaram uma dupla de zaga segura por cima e por baixo, ajudando muito também no início da construção das jogadas. Garcia, lateral direito, mostra um grande potencial para a vaga de Marcos Rocha nos próximos anos, sendo destaque ofensivamente, com gols e assistências, e defensivamente, fechando com maestria seu setor. Vanderlan, lateral esquerdo, é um jogador de grande versatilidade que, em diferentes momentos na base e no profissional, fez também a zaga e a ponta esquerda, e de quebra foi autor de duas assistências na grande final. Fabinho e Pedro Bicalho formaram ótima dupla de volantes, seja no combate, seja na construção, tendo também marcado gols na competição. O meia Jhonatan foi um “destaque silencioso” da equipe, sendo o grande armador das jogadas ofensivas, mesmo sendo menos conhecido e badalado que o trio de ataque. Giovani, ponta direita, mostrou mais uma vez toda sua habilidade com a perna esquerda, sendo o terror dos laterais que tentavam anulá-lo, marcando gols nas quartas, semi e final da competição. Gabriel Silva, ponta esquerda, mostrou que pode sim atender às grandes expectativas criadas em seu entorno nos últimos anos, fazendo grande competição e marcando duas vezes na final. Por fim, o fenômeno Endrick de 15 anos assombrou a competição, fazendo seis gols na Copinha, sendo um deles na final, conquistando os prêmios de melhor jogador do campeonato e gol mais bonito.

Se a Copinha consagrou uma equipe já vitoriosa, o torcedor teve ainda mais certeza do que já sabia com Renan, Danilo, Patrick, Gabriel Menino, Wesley e Verón: tem que respeitar as crias! E que, pros próximos anos, o time principal já tem garantidos diversos ótimos reforços. Se tivesse que apostar, diria que Garcia, Vanderlan e Gabriel Silva ainda este ano começarão a ter sequência no elenco de Abel Ferreira em papéis secundários, Lucas Freitas e Bicalho devem ser emprestados para ganharem mais rodagem e Giovani e Endrick têm tudo para serem nomes frequentes entre os relacionados para os jogos do time de cima.

Palmeiras
Foto: Divulgação/ Palmeiras

Santos: Mais meninos da Vila

A última impressão não é a que pode ficar. E a primeira também não. O último campeonato brasileiro sub20 não foi um campeonato espetacular para a equipe Santista – terminou em 18º na tabela, e a final da Copa São Paulo de Futebol Júnior foi um ponto fora da curva da equipe na competição. O time se mostrou consistente, conquistando os 9 pontos na fase de grupo, com 7 gols pró e 1 contra. Na fase posterior, o Santos eliminou o Chapadinha, depois a Ferroviária nos pênaltis (após um jogo ruim), venceu o Fluminense, e o Mirassol na semi.

Também não é possível falar que só há flores na base Santista, mesmo com diversos jogadores cotados para a equipe principal, e alguns já buscando o seu espaço no time – Kaiky, Ângelo, Marcos Leonardo, Sandry e Pirani tinham idade para competir entre os juniores -, o time mostrou-se um pouco desorganizado em alguns momentos, não conseguiu segurar o resultado contra Ferroviária e Mirassol, sem falar que a gestão não foi organizada, tendo em vista que 3 técnicos (Aarão Alves, Rodrigo Chipp e Elder Campos, o técnico da copinha) comandaram a equipe. Para 2022 pós Copinha, já foi contratado. Ele é Wesley Carvalho, e teve passagem pelas categorias de base do Palmeiras.

Apenas com uma grande contratação para o ano – Ricardo Goulart -, o Santos certamente recorrerá à base em busca de soluções caseiras. O histórico pesa a favor. Incontáveis casos de meninos da base que subiram, conquistaram seus devidos espaços na equipe titular, e muito contribuíram com o time. Alguns títulos marcantes tiveram essa característica: Santos de 2002 e 2004, além dos times de 2010, 2011 e 2012. Para 2022, Rwan Secco e Lucas Pires devem lutar pela titularidade, e certamente contarão com o apoio da torcida Santista.

Diógenes se mostrou um goleiro seguro e ótimo pegador de pênaltis. Sandro, lateral direito que se machucou, deve ser promovido. Possui características defensivas. Ofensivamente, não vai bem. Já na lateral esquerda, Lucas Pires, que tem passagens pelas seleções de base, é um nome com grandíssimo potencial. Habilidoso, veloz, com ótima visão de jogo, e que fecha bem os espaços defensivamente, deverá figurar nos 11 titulares com certa regularidade. A dupla de zaga composta por Derick e Jair não deve ter espaço, mesmo sendo jovens promissores. Jhonatan e Balão devem permanecer na base. Ed Carlos, meia clássico com ótima visão de jogo, aguarda por uma oportunidade. Já o trio de ataque deve ser promovido após grande destaque: o veloz e driblador Wesley Patati – que teve seu contrato renovado recentemente -, Lucas Barbosa, meia atacante artilheiro, e Rwan, ótimo e técnico centroavante.

Além do aspecto técnico, pesa a favor da promoção dos meninos o aspecto financeiro. O Santos tem dificuldades para contratar novos jogadores, e repetirá a fórmula que fez e tem feito sucesso há tempos, privilegiando o DNA ofensivo dos meninos da vila. O futuro é promissor, e sobretudo, o lugar de resposta dessas ansiedades. Esperemos.

São Paulo: Cotia continua forte!

Podemos ficar tranquilos São Paulinos, porque Cotia continua produzindo! Apresentamos para a Copinha de 2022 um time muito forte. Com uma base técnica e tática de alto nível, conseguimos ser protagonistas de muitos jogos e sofrer poucos sustos. Nosso time era muito jovem (a maioria por volta dos 18 anos) e isso, além de nos dar esperança com esse elenco, nos trouxe uma diferença física que pesou no confronto contra o Palmeiras, por exemplo.

Não acredito ser um time que apoie o elenco principal. Acredito que os únicos que podem beliscar algo em 2022 são o Nathan, lateral direito, e o Vitinho, ponta. Porém, por ser um elenco jovem e fazer uma Copinha sólida, podemos acreditar que essa seja uma geração que demore para chegar ao profissional, mas com carinho e paciência podemos colher ótimos frutos. Entretanto, não podemos deixar de citar a grande primeira Copinha como treinador de Alex. O time do São Paulo tinha um nível altíssimo, mas ele soube montar e remontar a equipe durante a competição, além de todos os jogadores terem um nível tático altíssimo, característica essa que fala mais do treinador do que dos atletas.

A Copinha gera identificação e experiência demais para jovens atletas. Sendo assim, termino meu texto levantando o questionamento: Porque Talles Costa e Juan não estavam nesse plantel? O Marquinhos é entendível, pois está produzindo já no time principal. Porém, impedir que esses dois atletas disputem a Copinha para que eles possam compor algumas semanas de treinamento pós férias dos profissionais é no mínimo insensato. O jogo contra o Palmeiras foi pesado e importantíssimo para a formação de jogadores. Além de que, tivemos a oportunidade de impedir o título inédito do Palmeiras e talvez com esses dois (ou até três) em campo, o resultado seria diferente.

Corinthians: Inexperiência e Incompetência. Hora de reformular e acabar com o tabu.

O maior campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior, com 10 títulos no total, o Corinthians fez uma copinha para ser esquecida, desde a estreia a equipe demonstrava enorme dificuldade para dominar os adversários (algo que tornou-se natural para a categoria nos últimos 15 anos) e já demonstrava que teria a mesma dificuldade encontrada no Paulista Sub20 anterior, em que a equipe sofreu para ganhar de equipes com bem menos expressão e era amassada nos clássicos, mesmo que de vez em quando arrancasse uma vitória ou outra nesses jogos. 

Com uma base que praticamente não foi formada no clube, já que metade dos titulares chegaram pela captação já para a categoria Sub20, aliada com bons valores da equipe Sub 17 que fora campeã paulista, os talentos ainda em desenvolvimento não conseguiram suprir as dificuldades do fraquíssimo sistema de jogo apresentado. 

A eliminação aconteceu ainda na segunda fase das eliminatórias, quando perdeu para a muito organizada equipe do Resende, com um gol aos 48 minutos do segundo tempo, de bola parada, após uma falha grotesca do lateral e capitão da equipe Reginaldo. 

Mas nem tudo foram cinzas na campanha e como o principal objetivo dessa competição é ser um estágio na formação profissional desses garotos, embora nenhum demonstre que já esteja preparado para os desafios da temporada pesada que a equipe terá, muitos demonstraram que estão no caminho para no futuro compor o elenco e ajudar a equipe. Nomes como Robert Renan, Alemão, Matheus Araújo, Guilherme Biro, Giovanni e Felipe Augusto terão entre 1 e 3 anos de Sub20 para se desenvolverem e demonstrarem ser verdade, as boas impressões que passaram na fraca campanha desta temporada. Reginaldo e Alan Gobetti não tem mais idade sub 20 devem subir, mas não ter tantas oportunidades na equipe principal, Reginaldo, principalmente deve ser emprestado para ganhar rodagem até a venda de Lucas Piton, algo iminente. Biro e Felipe Augusto devem, se bem trabalhados, serem dois jogadores de MUITO VALOR dentro do clube além de possuírem o perfil técnico e físico para serem vendas altas para fora. 

Com a fraca campanha, o ceifeiro de treinadores chamado Sport Club Corinthians Paulista demitiu Diogo Siston, o responsabilizando pelo vexame e remanejou Danilo, o Zidanilo, para a vaga. Uma troca polêmica, já que o EXCELENTE Gustavo Almeida, treinador do Sub 17 e exímio formador de atletas já tinha aceitado o cargo e com o remanejo posterior, pediu demissão fazendo com que o clube perdesse um profissional exemplar e dedicado ao clube para colocar uma aposta. Essa polêmica só escancara o antro de incompetência que impera nas categorias de base do clube, comandada por pessoas acusadas de diversos crimes e que mandam e desmandam em profissionais que trabalham com crianças e adolescentes no clube e a perspectiva é que a máfia da base continue e que os nossos meninos continuem tendo essas boas influências na sua formação. 

O futuro dentro de campo pode ser bom, mas o futuro fora dele tende a ser extremamente sombrio. 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Gustavo Dal'Bó Pelegrini

Professor de Educação Física e mestrando na área de Educação Física e Sociedade. E um pouco palmeirense. @camisa012

Vitor Freire

Mestre em Educação Física na FEF-UNICAMP, amante de Esportes, são Paulino desde sempre.@vitordfreire@camisa012

Gabriel Bernardo Monteiro

Graduado em Educação Fisica pela Universidade Estadual de Campinas

Como citar

PELEGRINI, Gustavo Dal'Bó; FREIRE, Vitor; OLIVEIRA, Lucas Rocha; MONTEIRO, Gabriel Bernardo. Copinha 2022: Resumo dos grandes de São Paulo. Ludopédio, São Paulo, v. 152, n. 9, 2022.
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