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Depois da tempestade vem outra tempestade?

Lucas do Carmo Santos 1 de maio de 2023

No último sábado (22), o São Paulo recebeu o América Mineiro no Morumbi e venceu por três a zero. Com gols de Luciano, Calleri e Marcos Paulo. O bom resultado foi um presente para os mais de 40 mil torcedores que foram até o estádio acompanhar o jogo.

Esse até poderia ser o início de um texto super positivo comentando os 3 pontos e a vitória dominante no Morumbi pelo Brasileirão. Uma derrota fora de casa e uma vitória em casa é um início razoável para um time que se propõe a brigar por uma vaga na Libertadores ao final do campeonato e ainda tem duas vitórias na Sulamericana. Mas não é isso que vai acontecer.

Essa é a cilada do “resultadismo”. Os dois jogos da “Sula” foram, no mínimo,  conturbados e o 3×0 não refletiu o que se viu dentro de campo, e na Copa do Brasil a vitória sobre o Ituano foi melancólica, isso sem citar a demissão absurda de Ceni que aconteceu no meio da semana passada. Nesse momento a sensação do torcedor tricolor, ou pelo menos a minha, é a de um marinheiro no meio da tempestade, sendo virado onda após onda, esperando que a última onda gigante que quase levou o barco a pique tenha sido a última.

De fato, Ceni vinha com dificuldades e é difícil apontar o principal motivo. Ideias complexas, mudanças constantes na escalação e no sistema de jogo e a “falta” de jogadores são alguns dos fatores. Aliado a isso, alguma nebulosidade no vestiário foram motivos suficientes para decretar a segunda demissão do ex-goleiro como treinador do São Paulo.

O que não posso deixar de citar é o timing horroroso para decisão da diretoria sobre a troca de treinador. Após a precoce queda no Paulistão, o time teve pouco mais de 20 dias de treinamento. Tempo importante para que o treinador conseguisse recuperar jogadores, trabalhar ideias de jogo e construir um time, fosse esse treinador Rogério Ceni ou qualquer outro do planeta terra. Ceni mantido, e aí está o problema, após esses 20 dias e 3 jogos. Veio a queda do treinador e, o principal, o desperdício desse período que poderia ser um divisor de águas para a temporada.

É justamente daí que vem a sensação de tempestade. Alguns fatores parecem estar intrínsecos ao Tricolor: lesões incontroláveis, demora para recuperação de jogadores, contratações sem critério, e uma crise financeira interminável que faz o time se desfazer das suas jóias sem nunca resolver o problema. Nenhuma decisão da direção tem convicção ou argumentos, e o Tricolor permanece um time que, entra ano e sai ano, não consegue encontrar identidade. O que vimos nesses 4 meses de 2023 não foi exclusivo desse período, tem sido a regra no time do Morumbi. E agora mais um capítulo.

Dorival Júnior
Fonte: twitter São Paulo

Dorival chegou, e recém campeão do principal torneio do continente com o Flamengo, é um treinador experiente que assume um time conturbado. Embora seu último trabalho possa acender uma luz de esperança, os anteriores não tiveram o mesmo brilhantismo. Dorival é uma peça importante, mas não é chave para a mudança de rota que o São Paulo precisa.

Pode parecer um absurdo pensar que o treinador não seja a chave para consertar esse barco, mas o torcedor não pode se enganar. A organização é o primeiro passo. Ajustar a saúde financeira, retomar a estrutura e o staff que um dia já foram referência é a prioridade, ou pelo menos deve ser, para que ao menos possamos entrar em tempos de calmaria.

Nada contra Dorival, pelo contrário, tudo a favor (tem toda a minha torcida). Mas imaginar que ele resolva o São Paulo é vê-lo como um milagreiro que dificilmente será. Entretanto, se tem alguém que pode colocar o São Paulo em uma calmaria, é ele. Essa vitória ao menos é a oportunidade de respirar, e que possamos usar dessa tempestade para que alguém na gestão Tricolor decida tapar os furos gigantes que tem nesse barco.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Lucas do Carmo Santos

Formado em educação física, professor de ensino médio e são paulino.

Como citar

SANTOS, Lucas do Carmo. Depois da tempestade vem outra tempestade?. Ludopédio, São Paulo, v. 167, n. 1, 2023.
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