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Do DM ao Crespo: A frustração de um torcedor desiludido

Lucas do Carmo Santos 24 de agosto de 2021

Na última rodada do último campeonato brasileiro, o torcedor são paulino estava frustrado e eu estava no meio dessa multidão. O time abriu uma vantagem que parecia impossível de ser revertida e, faltando poucas rodadas para o fim do campeonato, os comandados de Fernando Diniz conseguiram a proeza de perder a liderança e terminar o campeonato brasileiro em um surpreendente, em todos os sentidos, 4º lugar. Fernando Diniz tinha um time frágil, com algumas boas peças, mas sem um grande jogador capaz de mudar o time de patamar. Um futebol estratégico, bem posto, arriscado, frio, mas sem amadurecimento de ideias no campo de jogo. Com dificuldade de criar contra times bem organizados defensivamente e que sabiam escapar da armadilha do tricolor, faltava criatividade e juízo naquele São Paulo, mas poucos torcedores esperavam o G4 no início do campeonato.

A diretoria mudou, aqueles que eram responsáveis pela fase decadente do time saíram, um novo projeto foi montado. O elenco que antes tinha bons valores, mas ainda era frágil, tomou cara de um bom projeto, com muitos reforços, mas em posições onde existia carência. Reforços colocados sob o comando de Crespo, um treinador jovem e com poucos jogos na carreira, mas que já apresentava boas ideias. Em seu primeiro campeonato, provavelmente por influência da diretoria, fez tudo o que era possível para ser campeão para tirar o tricolor da fila, e deu certo.

Crespo foi rápido em dar a cara ao time. Mudança para três zagueiros, busca da posse de bola no campo de ataque, Daniel Alves jogando onde ele realmente mostra o seu melhor e muito torcedor iludido. Eu dou razão para eles, o trabalho estava começando com os melhores resultados possíveis, o time em outro esquema tático, os jogadores focados e concentrados em jogos decisivos, foi lindo. Mas eu não me empolgo fácil, prefiro ser cético.

Hoje, pouco mais de 6 meses da apresentação de Hernán Crespo, após a eliminação na Libertadores e um início historicamente negativo no Brasileirão, eu estou frustrado. Não acho que o ano acabou, nem que a eliminação nas quartas de finais da Libertadores tenha sido um resultado muito ruim, afinal não esperava ser campeão, e além de tudo ainda temos a Copa do Brasil que ainda pode render algumas alegrias na temporada. Não vou me arriscar a dizer que o Crespo é um treinador ruim, mas apesar dele não me iludir, conseguiu me frustrar.

Hernán Crespo
Hernán Crespo. Foto: Reprodução Twitter

O São Paulo desde aproximadamente a 4ª semana de Crespo não evoluiu, e talvez os grandes responsáveis pelo título do São Paulo no Paulistão sejam Miranda e Benítez, que jogaram em muito alto nível e elevaram o jogo de todos ao redor deles. O time tem os mesmos problemas da última temporada, que era um elenco menos qualificado que o atual. Uma posse de bola estéril, circulação de bola lenta, falta de agressividade, cruzamentos aleatórios, e como se tudo isso não fosse o suficiente agora contamos com um treinador que parece seguir uma lógica que ninguém entende. Deixar o Liziero como único volante custou caro contra o Flamengo e ele repetiu no segundo tempo na última partida contra o Palmeiras. Escalando três volantes precisando ganhar o jogo, insistir em jogadores como Pablo e Vitor Bueno. Por essas e por outras é que o maior motivo da minha irritação é o treinador tricolor.

E antes de expressar minha revolta, é importante pontuar algo. Existe algum mistério no departamento médico tricolor. Dá pra contar nos dedos as rodadas do campeonato brasileiro em que o técnico teve todos os jogadores a disposição e provavelmente nenhum desses jogos com todos os jogadores do elenco com 100% da condição física. Esse departamento que já foi referência no mundo no tratamento de lesões e recuperação de jogadores não consegue colocar em condição nomes importantes como Luciano e Benitez, e com frequência recebe outros nomes. É revoltante como em todos os jogos um jogador sai lesionado, e alguns não se recuperam em um tempo razoável, como foi com Rojas e como atualmente tem sido com Éder e Walce, esse último que a torcida nem deve se lembrar mais que existe..

Apesar disso, Crespo não está isento de culpa. Foi um grande jogador, mas ainda é um treinador novo. Com menos de 150 jogos profissionais na nova carreira, sua inexperiência se mistura ao que me parece teimosia e falta de convicção. Ele foi muito bem implementando os três zagueiros, mas nos momentos de crise parece não acreditar muito na plataforma de jogo que escolheu, mudando o sistema tático no meio do jogo. Ele tenta ajustes para surpreender os adversários que mais atrapalham do que ajudam o time a ter constância e evoluir a ideia de jogo. Além de que, às vezes parece não ter noção nenhuma do que seus atletas no banco podem oferecer e qual a melhor mudança para determinado momento do jogo. Óbvio, não estou falando que entendo mais de futebol do que o Crespo, muito menos que seria melhor treinador que ele, apenas que ele precisa mostrar mais evolução do que nos mostrou até agora.

Com certeza o argentino é promissor e deverá se tornar um treinador relevante ao menos no futebol sul-americano, mas essa experiência está cobrando o seu valor ao São Paulo, que tem sofrido muito com lesões, com o calendário brasileiro, que já era insano antes, e ficou ainda pior no período da pandemia e isso com certeza influencia no trabalho do treinador. Eu sinceramente simpatizo com Crespo, as derrotas tendem a ensiná-lo para que ele mude a sua postura, e que isso aconteça a tempo, porque ainda tem muita temporada pela frente e se classificar para a libertadores na próxima temporada é imprescindível para que o São Paulo continue sua caminhada de retorno ao protagonismo no futebol brasileiro.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Lucas do Carmo Santos

Formado em educação física, professor de ensino médio e são paulino.

Como citar

SANTOS, Lucas do Carmo. Do DM ao Crespo: A frustração de um torcedor desiludido. Ludopédio, São Paulo, v. 146, n. 44, 2021.
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