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O mundo não gira, ele capota

Lucas do Carmo Santos 6 de julho de 2023

Imagino que a média da expectativa dos tricolores fosse um ano que o São Paulo conseguisse chegar a fases avançadas da Copa do Brasil, brigasse para uma classificação direta para Libertadores, e as finais do Paulista e da Sulamericana para quem sabe beliscar um título. Também imagino que essa expectativa não durou dois meses de temporada. A queda precoce no Paulista acendeu uma luz de alerta. O desempenho da equipe de Ceni oscilava de razoável para ruim e potenciais problemas resolvidos voltavam a aparecer com lesões e a falta de profundidade do elenco desequilibrado, como foi com Galoppo.

Em abril, com a demissão de Ceni e a chegada de Dorival, o time do Morumbi retomou o bom futebol. A expectativa que era baixa com Ceni foi jogada aos céus novamente, e o bom futebol foi corroborado com um sentimento que se estabelecia no coração são paulino de que esse ano seria incrível. O Brasileirão é difícil, a realidade bateu, mas as boas atuações se tornaram consistentes, e o rebaixamento se afastou da mente do torcedor.

Após alguns meses de trabalho, Dorival ajudou na recuperação do bom futebol de alguns atletas que estavam em baixa, deu rodagem para quase todo o elenco do São Paulo, conseguiu resultados importantes na Sulamericana, está a cinco pontos do segundo colocado do brasileirão, tem um confronto complicado nas quartas de final da copa do Brasil (que já deveria ser dado como objetivo alcançado em um planejamento lúcido) e a torcida segue confiante no trabalho do treinador.

Dorival Júnior
Fonte: twitter São Paulo

Com tudo isso em mente, é importante lembrar ao são paulino que ele não pode se enganar. A possibilidade de títulos da Copa do Brasil e Brasileirão caracterizaria um ano absolutamente apoteótico para o São Paulo. Apesar da aparente blindagem do elenco feita por Dorival, em algum momento do ano, a gestão da diretoria tricolor vai respingar na trajetória do elenco.

Em termos gerais, é preciso ser racional na avaliação. O São Paulo ainda convive com inúmeras lesões e retornos demorados, e o tricolor que liga as notificações do time no celular vê com frequência a necessidade de uma “dívida milionária” ser quitada. Por isso o trabalho de Dorival é ótimo: ele faz o time jogar apesar do ambiente.

O torcedor que sonhou com títulos em 2023, no período pré temporada, já achou que o rebaixamento era certeza ao início do Brasileirão, e agora ele não pode achar que a sétima colocação no Brasileiro é pouco para esse time. Um amigo meu costuma dizer que o mundo não gira, ele capota, e o ano tricolor é prova disso. De um grande ano para um possível rebaixamento em dias.

Hoje o São Paulo vive boa fase, e o meu medo é que o Dorival seja vítima de um sucesso improvável como foram Diniz e Aguirre. Se hoje está tudo bem, é preciso lucidez para avaliar, porque amanhã, se o mundo capotar novamente, a receita continua sendo a mesma lucidez na avaliação.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Lucas do Carmo Santos

Formado em educação física, professor de ensino médio e são paulino.

Como citar

SANTOS, Lucas do Carmo. O mundo não gira, ele capota. Ludopédio, São Paulo, v. 169, n. 6, 2023.
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