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É por isso que eu amo futebol

Dois mil e vinte um vem sendo um ano difícil. O novo coronavírus segue existindo e a perspectiva de que finde ainda parece distante. O Brasil segue batendo recordes de morte e em meio a tudo isso, existimos. O interesse pelo futebol acabou diminuindo. Mas num domingo a tarde de rodada de futebol internacional, eu recuperei minha alegria de acompanhar futebol com um gol de goleiro.

A Premier League é de longe minha liga predileta, gosto de tudo que a envolve, da competitividade dos times, da rica história dos clubes, da paixão de seus torcedores e da variedade de grandes técnicos e jogadores que por lá atuam. No entanto, nesta temporada não pude acompanhar da maneira que gostaria, assisti a poucos jogos do Manchester City, outros do Leeds e uma quantidade razoável de partidas do Liverpool.

Anfield Liverpool
Anfield, casa do Liverpool. Fonte: Wikipédia
A temporada de muitas equipes foi marcada por altos e baixos, mas acho que o time que mais sofreu foi o Liverpool. Em dado momento da competição os “Reds” perderam sua zaga titular e reserva, tiveram de improvisar meias na posição e testaram diversas formações. Foi um ano tão esquisito para o time de Jürgen Klopp que só restou brigar por uma vaga para a próxima edição da Liga dos Campeões da Europa.

E para se classificar o Liverpool precisa entrar no G-4. Uma vitória contra o já rebaixado West Bromwich Albion era fundamental para seguir na cola do Leicester. O retrospecto antes de entrar em campo contra o West Brom era de seis vitórias e dois empates em oito jogos. É a equipe de melhor aproveitamento nesse período: 20 pontos no total.

O roteiro parecia o mesmo de outros jogos. Liverpool começa atrás, segue pressionando, consegue o empate, mas não faz o gol da virada. Eu já estava distraída a certa altura do segundo tempo, abrindo uma aba aqui e outra acolá no computador. Por sorte, quando retomei minha atenção para partida o imponderável, que só o futebol é capaz de nos proporcionar, aconteceu!

A partida ganhou contornos dramáticos nos acréscimos. Eis então um daqueles momentos de bola parada de “tudo ou nada”. Os dez jogadores estavam na grande área, incluindo o goleiro Allison.

Trent Alexander-Arnold, o lateral-direito do Liverpool, bateu o escanteio visando o zagueiro Nate Phillips, mas quem cabeceou mesmo foi Alisson! O goleiro subiu sozinho e cabeceou lindamente para virar o jogo, colocando o time na briga pela classificação e entrou para história do clube como primeiro arqueiro a fazer um gol na Premier League.
Alisson Liverpool
Alisson cabeceando livre para o gol da virada do Liverpool contra do West Bromwich Albion. Foto: Reprodução Facebook

Aquele dezesseis de maio de 2021, no estádio The Hawthorns, ficou marcado na história do jogador brasileiro não só pelo resultado esportivo, mas principalmente pelo simbolismo. Alisson marcara seu primeiro gol meses depois de perder o pai. Parecia que os deuses do futebol conspiravam para premiar o atleta que sequer pode dar o seu último adeus a sua figura paterna, devido as restrições do novo coronavírus.

A virada do jogo no finzinho da partida. O gol do goleiro. A redenção de um time em busca de redenção. Parecia que o roteiro guardava mais surpresas e reviravoltas do que eu poderia imaginar. E é por momentos como este que a gente vai, pouco a pouco, se alegrando com a vida. Obrigada, futebol!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Leila de Melo

Ex-atleta frustrada e jornalista por vocação. Fã de Kobe Bryant e de esquema 4-4-2. Escreve sobre esporte, porque a vida não  é o bastante. Jornalista formada em comunicação social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Como citar

MELO, Leila de. É por isso que eu amo futebol. Ludopédio, São Paulo, v. 144, n. 12, 2021.
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