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A emocionante vida do torcedor tuiteiro

Leandro Marçal 25 de setembro de 2018

Pesquisadores, cientistas, estudiosos etc. deveriam se debruçar sobre uma espécie pouco rara e muito relevante na sociedade futebolística. O torcedor tuiteiro merece ser analisado pelas melhores faculdades do mundo, por meio de artigos extensos, teses de mestrado e doutorado, livros e documentários.

O cotidiano do torcedor tuiteiro pode parecer comum a um desinformado qualquer. Nada disso. É de suma importância seu acesso diário aos noticiários esportivos. Desconfio, inclusive, que haja algum setor especializado nos clubes, e que analistas monitorem, preocupadíssimos, a atuação militante desse ser invejável.

O torcedor tuiteiro lê todos os portais da internet. Sem falta. Anota as vírgulas mal colocadas, mesmo que não seja especialista em interpretação de texto. No seu caderninho, estão os nomes dos setoristas, com todas as reportagens negativas de seu clube de coração.

Porque se essa imprensa manipuladora publica uma ou duas linhas contrárias ao time, tão perseguido e injustiçado por sociedades secretas envolvendo a presidência da república e a CIA, é papel do torcedor tuiteiro denunciar os desmandos.

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Acha um absurdo os boatos sobre canalhices de dirigentes, outra espécie tão digna de estudos científicos. Confere uma a uma as notas baixas para o desempenho dos jogadores rodada a rodada. Desforras assim são sempre inadmissíveis, devem ser combatidas. A atuação coerente e embasada do torcedor tuiteiro cumpre esse papel.

Não para por aí. Ele vai até o perfil pessoal de cada um desses jornalistazinhos para criticar com muita propriedade todo tipinho mal intencionado. Ao notar o clubismo dessa raça de urubus – os jornalistas – ataca cada um deles nos comentários dos portais. Até quando ninguém mais enxerga isso, é que o resto do mundo está cego. Caça repórteres para atacá-los pessoalmente – segundo uma lógica meio estranha, dizem as intrigas da oposição. Que poder essa ralé pensa ter para tratar de assuntos menos sérios, como a política nacional, por exemplo? Se mal falam decentemente o que se deseja no futebol, é muita ousadia ver pitacos sobre a vida.

Palavrões, xingamentos e desqualificação moral são a melhor forma de aniquilar esse mal. Quando possível, convém divulgar os números de celular e endereço dessa raça de víboras, para entenderem de uma vez por todas que não se brinca com o torcedor tuiteiro.

Tudo isso nos intervalos do escritório, na hora do recreio na escola, entre uma e outra marretada na oficina, nas idas ao banheiro durante o expediente, nos momentos de lazer. A dedicação a essa tarefa imprescindível à sociedade é por pura paixão, uma missão de vida.

Só assim para manter as coisas como estão: na tranquila paz e normalidade do clube de coração do torcedor tuiteiro, o maior do Brasil, tão perseguido e odiado pelo resto da população mundial. Pura inveja.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Leandro Marçal Pereira

Escritor, careca e ansioso. Olha o futebol de fora das quadras e campos. Autor de dois livros: De Letra - O Futebol é só um Detalhe, crônicas com o esporte como pano de fundo publicado (Selo drible de letra); No caminho do nada, um romance sobre a busca de identidade (Kazuá). Dono do blog Tirei da Gaveta.

Como citar

MARçAL, Leandro. A emocionante vida do torcedor tuiteiro. Ludopédio, São Paulo, v. 111, n. 25, 2018.
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