169.14

Mais de mil jogadoras de futebol participam de Festival feminino de várzea em SP

Aira F. Bonfim 14 de julho de 2023

Evento acontece no dia 16 de julho no Parque Sete Campos, na Zona Sul de São Paulo, e reúne 80 times formados por mulheres das periferias da cidade e mais de mil jogadoras que ocupam simultaneamente os campos, quadra de futsal e de futebol de sete . Com entrada gratuita, das 8h às 17h, o público pode acompanhar as partidas e uma programação diversificada com oficinas de skate e de pipa, circo, música, além de um bate-papo com Roseli (ex-jogadora da seleção brasileira de futebol) e a narradora esportiva Vivi Falconi.

2023 é o ano da Copa do Mundo feminina de futebol, que será realizada entre 20 de julho e 20 de agosto na Austrália e Nova Zelândia. Com toda essa atmosfera de atenção crescente para o esporte, acontece O Maior Festival Feminino de Várzea do Mundo – III Edição no dia 16 de julho, das 8h às 17h, no Parque Sete Campos, na Zona Sul de São Paulo. Oitenta times, formados por mulheres das periferias da cidade e mais de mil jogadoras, ocupam simultaneamente os campos, quadra de futsal e de futebol de sete.

O evento é uma realização da Liga Feminina de Futebol Amador de Parelheiros, uma entidade independente e formada por voluntárias apaixonadas pelo esporte. O festival ainda conta com a correalização do Museu do Futebol, do Sesc São Paulo e da Prefeitura de São Paulo, além do apoio da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, da Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor, da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, do Ministério do Esporte, do Governo de São Paulo, da Poker Esportes e do app Ritmo do Esporte.

Cada parceiro e apoiador contribuiu com uma parte do trabalho e estrutura para organização, que também possui uma programação com oficinas de skate e de pipa, circo, música, além de um bate-papo com Roseli (ex-jogadora da seleção brasileira de futebol) e a narradora esportiva Vivi Falconi. Diferente de um torneio, o festival não tem caráter competitivo. O objetivo é reunir as atletas amadoras para um grande momento de celebração e confraternização, entre elas e suas famílias.

O futebol de várzea feminino é uma prática de amor e resistência das mulheres da periferia paulista e vem florescendo na última década. Entre 1941 e 1979, as mulheres foram proibidas por lei de jogar futebol no Brasil. Embora a prática tenha continuado com base em muita resistência e resiliência mesmo nesse período, a proibição prejudicou o desenvolvimento da modalidade até mesmo como lazer, fazendo com que os campos de várzea fossem ocupados quase que inteiramente por homens. Atualmente, a paixão renovada pelo esporte é o que move as atletas amadoras a buscar espaços para jogar, mas ainda tendo que enfrentar muita resistência e preconceito.

“Há menos de 5 anos era evidente o desconhecimento da prática do futebol amador por mulheres na cidade de São Paulo. Elas não só jogam hoje como fazem isso há mais de 100 anos. Tanto o Festival como as pesquisas acadêmicas recentes têm sido estratégicas em visibilizar esse futebol e reivindicar políticas públicas próprias para fortalecer o esporte como um direito”, ressalta a historiadora do esporte Aira Bonfim, uma das voluntárias na organização do Festival.

Histórico

A Liga Feminina de Futebol Amador de Parelheiros, encabeçada Maria Amorim, jogadora, técnica e dirigente de várzea da equipe Apache, nasceu de forma orgânica da articulação e visibilidade da modalidade feminina de futebol, no boca a boca, de rede em rede social, colocando em contato mulheres varzeanas de diferentes lugares da cidade através do WhatsApp.

Em 2019, poucos anos após sua criação, a Liga já somava mais de 100 agremiações, com um conjunto expressivo localizado nos bairros da zona sul de São Paulo. Abrangência que estimulou a organização de um festival esportivo – modalidade tradicional do cenário varzeano – só com equipes de mulheres da cidade de São Paulo e redondezas. Em conjunto com os dirigentes das agremiações responsáveis pelos campos de futebol do Complexo Esportivo do Campo de Marte, foi organizada, em 15 de novembro de 2019 e 2021, feriado nacional, as primeiras edições do Festival, disputada simultaneamente nos seis campos do local.

Números

Com um trabalho de pesquisa por meio de um projeto de extensão da PUC-SP, coordenado por Aira Bonfim, Alberto Luiz dos Santos, Enrico Spaggiari e José Paulo Florenzano, foi realizado um extenso levantamento sobre o futebol de várzea feminino junto com a Liga Feminina de Futebol Amador de Parelheiros e outras jogadoras. A iniciativa teve como objetivo mapear a distribuição espacial das equipes femininas amadoras de futebol na região metropolitana de São Paulo (SP) e traçar um perfil social da composição dos times.

De acordo com o mapeamento realizado em 2022, foram identificados 146 times de várzea em atividade na Grande São Paulo, dos quais 95 concordaram em participar da pesquisa. O estudo apontou que a principal dificuldade enfrentada pelas jogadoras é o acesso aos campos e quadras, com times masculinos resistindo em ceder o espaço. Os times femininos simbolizam espaços de inclusão, com 28,2% deles tendo atletas trans em suas equipes.

A pesquisa ainda revela uma minoria de mulheres na liderança deste futebol, seja gerindo uma equipe ou administrando um campo de futebol. O levantamento mostrou que 67,4% das equipes são treinadas por homens e somente 29,5% têm mulheres como treinadoras.

Programação

Gramado (espaço do parque em torno dos campos)

*9h às 16h – Recreação Esportiva (Futebol Callejero, bambolê, cabo de guerra, paraquedas, estafetas);

*9h às 16h – Oficina de pipa ;
*9h às 11h – Oficina de malabarismo – com a Cia Supercirco;

*10h30 – Aula de ritmos com educadores do Sesc Santo Amaro;

*12h – Aula de ritmos com educadores do Sesc Santo Amaro;

*13h às 14h – Festa no Céu e outras alegrias – contação de histórias;

*15h às 16h – Olimpíada de malabarismo – espetáculo com a Cia Supercirco.

Pista de Skate

*9h / 16h – Vivência de Skate.

Campo de Futebol

*9h / 16h – DJ Licciss e MC Brisa De La Cordillera (locução e intermediação dos jogos).

*10h30 – Bate-papo com Roseli (ex-jogadora da seleção brasileira de futebol) e Vivi Falconi (Narradora esportiva);

Serviço

O Maior Festival Feminino de Várzea do Mundo – III Edição
Parque Sete Campos – Estrada do Alvarenga, s/n – Cidade Ademar, São Paulo
16 de julho de 2023 – Das 8h às 17h. Entrada Gratuita.

Assessoria de Imprensa Colaborativa

Museu do Futebol
Renata Beltrão – [email protected] | 11 99267-5447

Sesc Santo Amaro
Renato Fernandes – [email protected] | 11 97286-6703   
Adriana Balsanelli    - [email protected] | 11 99245-4138    
André Luiz Silva    – [email protected] | 11 5541-4016

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
Seja um dos 14 apoiadores do Ludopédio e faça parte desse time! APOIAR AGORA

Aira F. Bonfim

Mestre em História pela FGV com pesquisas dedicadas à história social do futebol praticado pelas brasileiras da introdução à proibição (1915-1941). É produtora, artista-educadora e por 7 anos esteve como técnica pesquisadora do Museu do Futebol. O futebol de várzea, os  debate sobre patrimônios e mais recentemente o boxe e o circo, são alguns temas em constante flerte... 

Como citar

BONFIM, Aira F.. Mais de mil jogadoras de futebol participam de Festival feminino de várzea em SP. Ludopédio, São Paulo, v. 169, n. 14, 2023.
Leia também:
  • 178.30

    Ser (ídolo) ou não ser…

    Eduarda Moro
  • 178.28

    Projetos sociais e práticas culturais no circuito varzeano

    Alberto Luiz dos Santos, Enrico Spaggiari, Aira F. Bonfim
  • 178.27

    Torcida organizada e os 60 anos do Golpe Civil-Militar: politização, neutralidade ou omissão?

    Elias Cósta de Oliveira