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Futebol na Literatura de Língua Alemã – Parte IX: O futebol na RDA dos anos 1960, em um romance de Erich Loest

O escritor Erich Loest

Erich Loest nasceu em 24 de fevereiro de 1926 em Mittweida, uma cidade no interior do Estado da Saxônia, nas proximidades de Dresden. Como adolescente, passou inevitavelmente pelas instituições de doutrinação nazista – a Juventude Hitlerista e o partido NSDAP – e foi alistado no exército alemão – a Wehrmacht – em 1944. Depois da derrota da Alemanha nazista, o jovem Loest ingressou no Partido Socialista Unificado (SED) em 1947 e começou a trabalhar como jornalista em Leipzig, na zona de ocupação soviética e, a partir de 1949, no novo Estado socialista, a República Democrática Alemã (RDA).

Os acontecimentos do 17 de junho de 1953 – a revolta popular em Berlim contra o governo socialista e a sua repressão violenta – abalaram a confiança de Erich Loest nos ideais da RDA, e em 1957 o seu posicionamento crítico levou à sua expulsão do SED e à sua prisão, acusado de “formação de grupos contrarrevolucionários”. Nesse período de encarceramento, que durou até 1964, Loest começou escrever literatura (cf. STEINLEIN, 2012).

Erich Loest em 1955. Fonte: Arquivo Federal Alemão / Bundearchiv, Wikipedia

Nos anos 1950 e 1960, Erich Loest se tornou escritor conhecido na RDA, porém sempre observado e ameaçado com represálias pela sua postura crítica ao regime. Em 1981, ele se mudou finalmente para “o Oeste”, a República Federal da Alemanha (RFA), onde continuou a carreira de escritor e se transformou numa voz que conhecia, pela vivência pessoal, os dois lados do muro de Berlim e da “cortina de ferro”. Depois da reunificação da Alemanha em 1990, Loest voltou, parcialmente, para Leipzig e passou a dividir o seu tempo entre o Oeste e o Leste do país.

Em 1995, Loest publicou o seu romance mais famoso e influente, Nikolaikirche, sobre os últimos anos da RDA, particularmente sobre o movimento popular que se reunia ao redor da igreja do mesmo nome em Leipzig e que, com as suas manifestações de segunda-feira (“Montagsdemonstrationen”), contribuiu para o fim do regime na Alemanha Oriental. Além do romance, ele escreveu os roteiros para a versão cinematográfica e a versão televisiva da história, ambas lançadas no mesmo ano e dirigidas por Frank Beyer (https://www.imdb.com/title/tt0113985/).

De maneira semelhante como essa obra definiu a sua fama enquanto escritor, a vasta e diversificada obra de Loest é associada, principalmente, com a sua biografia entre as duas Alemanhas e com a representação crítica da RDA, seja desde dentro na primeira fase, seja desde fora depois de 1981. Também na Alemanha reunificada, depois de 1990, Loest continuava sendo percebido principalmente como um representante literário da parte oriental do país. De maneira trágica, o escritor se suicidou em 12 de setembro de 2013, saltando da janela de seu quarto num hospital em Leipzig, onde estava internado por uma doença grave.

O futebol na obra de Erich Loest

Numa resenha publicada na revista de cultura futebolística 11 FREUNDE por ocasião do lançamento da mais recente reedição do romance em 2018, Ulrich von Berg lembra a paixão de Erich Loest pelo futebol:

Durante toda a sua vida, o escritor saxão Erich Loest, que se suicidou em 2013 com 87 anos de idade, demonstrou o seu interesse pelo futebol. Ainda com idade avançada, maltratava entrevistadores com o desafio de recitarem a escalação da “Seleção de Breslau”. E ai de quem não soubesse. (VON BERG, 2018)[1]

Stephan Seeger – presidente da Fundação do banco Sparkasse que apoiou a reedição do romance em 2018 e autor do posfácio nela contido – situa essa paixão de Loest pelo futebol principalmente no nível local e clubístico, no universo da cidade de Leipzig:

O coração de Loest pertencia ao BSG Chemie Leipzig, zebra e campeão da temporada de 1963/64, com um time construído em torno do já mencionado Bernd Bauchspieß, que naquele ano deixou para trás o Sportclub Leipzig, muito mais apoiado pelo estado: um underdog que vencia “o grande”, era algo bem ao gosto de Loest. Mas tenho certeza de que ele ficou também contente com o acesso à primeira divisão da Bundesliga, do rival da cidade, o VfB Leipzig, em 1993. E provavelmente ele teria se orgulhado também com a evolução atual do novo clube na Bundesliga, RB Leipzig, pois nos dois casos estavam em jogo duas das suas grandes paixões: o futebol e Leipzig. (SEEGER, 2018, p. 241-242)[2]

Entretanto, apesar desse grande interesse e fascínio, Erich Loest concedeu pouco espaço ao esporte na sua obra literária. O futebol funciona como parte do cenário no romance Der Mörder saß im Wembley-Stadion (O assassino estava sentado no Estádio de Wembley ), publicado em 1967 sob o pseudônimo de Hans Walldorf, entretanto sem chegar a ter relevância na trama ou estrutura narrativa.[3]

Destaca-se na obra de Erich Loest, como único “romance futebolístico” propriamente dito, Der elfte Mann (Camisa onze, ou mais literalmente, O décimo primeiro jogador), de 1969.[4] Nele, acompanhamos vários meses na vida do jovem Jürgen Hollstein, estudante universitário no curso de Física e jogador no clube local, na primeira liga da RDA, a chamada “Oberliga”. A trama representa o protagonista dividido entre dois mundos – o futebol e a universidade –, confrontado com duas ofertas tentadoras e incompatíveis.

Capa da edição de 2018 (fonte: editora Mitteldeutscher Verlag. Fonte: divulgação

A primeira oferta vem do técnico do clube local (no romance, não são indicados nem o nome da cidade nem o do clube em que joga o protagonista[5]), que comunica a Jürgen Hollstein o interesse dos dirigentes da Federação de Futebol da RDA (Deutscher Fußball-Verband, DFV) de convocá-lo para o time reserva da Seleção nacional e de convidá-lo para uma concentração e um jogo amistoso na Bulgária dentro de poucas semanas (LOEST, 2018, p. 9). Pouco tempo depois, o catedrático de Física propõe a Hollstein ser integrado ao programa de incentivo aos estudantes mais talentosos, com a expectativa de se tornar assistente dele e iniciar a sua própria carreira universitária. Assim surge o dilema que rege a estrutura narrativa do romance, a decisão entre se tornar jogador de futebol “profissional”[6] ou de tentar uma carreira acadêmica como físico, formulado no final da conversa entre Hollstein e o professor Bernskorn:

[Prof. Bernskorn] »Vale a pena que você se esforce. Talvez chegue a ser o meu assistente dentro de seis anos?«

Hollstein riu. A minha Bulgária física, pensou. »Seria ótimo.« Dois caminhos, um na direção de Albert Einstein, outro na de Stan Matthews. Entrelaçados: Einstein como atacante de uma Seleção Nacional? Matthews na cátedra professoral? Stan Einstein, Albert Matthews? […] Aí havia outra coisa: Hollstein se tornaria atleta de ponta, verdade? Como reconciliaria isto com os estudos, mais ainda com as novas tarefas? (LOEST, 2018, p. 29)[7]

Na perspectiva aqui empreendida, não interessa tanto o decorrer dessa trama que leva a um final deixado em aberto, com a decisão pendente entre as duas carreiras oferecidas, como também entre duas mulheres (LOEST, 2018, p. 239). Do ponto de vista “futebolístico”, este romance de Erich Loest é um valioso e fascinante documento de outra época e de outro país, uma representação literária das primeiras décadas da Alemanha Oriental e socialista através do futebol. No posfácio à edição de 2018, Stephan Seeger resume esse quadro da seguinte maneira: “Loest pinta um panorama da sociedade da RDA nos anos 1960, que perdeu o entusiasmo inicial e está fazendo esforço no cotidiano raso.” (LOEST, 2018, p. 243)[8]

E numa resenha publicada por ocasião da reedição do livro no âmbito da Copa do Mundo na Alemanha em 2006 no semanário DIE ZEIT, Evelyn Finger resume de forma exemplar a síntese das temáticas universais, históricas e futebolísticas no livro:

De maneira colorida e diversificada, com uma sensibilidade densa, amainada pelo laconismo, Erich Loest narra um romance de formação do nosso passado mais recente, do qual nos separam anos-luz – quando ainda não havia Blue Goals e somente modestos contratos publicitários de vários milhões. Naquele tempo, escritores ainda tinham a ideia de representar o problema de um jogador de ponta como um dilema comum: Para onde dirigir uma vida que tão rapidamente se esvai? Loest descreve a tensão entre sujeito e mundo, ideal e realidade, característica de um verdadeiro romance de formação, através de personagens completamente normais e cotidianos. (FINGER, 2006)[9]

O contexto histórico do futebol na RDA

O futebol na RDA representa um capítulo à parte e frequentemente negligenciado na historiografia futebolística alemã. Isso tem a ver, certamente, com a perspectiva dominada pela Alemanha Ocidental, o estado que com a reunificação do país não deixou de existir e recebeu a adesão formal dos cinco “novos estados federais”, que até então tinham constituído a – a partir daquele momento extinta – República Democrática Alemã. Esse desequilíbrio também se deve ao sucesso internacional e comercial da primeira liga da Alemanha Ocidental, a Bundesliga, fundada em 1963, que superava consideravelmente o do seu par oriental, a Oberliga na RDA.

De acordo com o discurso historiográfico atual, o futebol na RDA era decisivamente influenciado e determinado pela natureza da planificação econômica no Socialismo de Estado, pelo afã de um controle estrutural e estratégico abrangente, como explica Giselher Spitzer num condensado panorama histórico:

O futebol figurava entre as disciplinas esportivas “especialmente incentivadas”. Desde 1965 foram fundados dez “FC” – isto é “clubes de futebol” – autônomos […]. Fazia parte desse novo sistema uma rede de comunidades esportivas delegadas, que atuavam nos municípios. (SPITZER, 2004, p. 260)[10]

Outro historiador do futebol na RDA, Hans Joachim Teichler, parte do mesmo momento em 1965, destacando a tentativa do governo de ganhar e manter o controle sobre toda a estrutura do futebol “profissional” na Alemanha socialista:

A decisão do Secretariado do Comitê Central do Partido Socialista Unificado de 18 de agosto de 1965, sobre a formação de clubes de futebol, representa a tentativa inequívoca de colocar o futebol de novo sob o controle político e factual da Federação Nacional de Ginástica Olímpica e Esportes, para garantir também no futebol um aumento considerável de desempenho. Ao mesmo tempo, o futebol era separado do restante do esporte de ponta. Dessa maneira, os campeões olímpicos e mundiais em outras disciplinas não ficavam sabendo que os jogadores de futebol na Oberliga recebiam remuneração e tratamento melhores. (TEICHLER, 2006, p. 32)[11]

Essa contradição entre o futebol “profissional” e o ideal amador no Socialismo de Estado é representada, no romance de Loest, através do personagem Zöbl, o atacante em declínio no time de Hollstein. Zöbl representa o modelo do “semi-profissionalismo” encoberto vigente na RDA na época do romance. Ele trabalha numa empresa metalúrgica e recebe certos privilégios e algumas gratificações em troca pela sua atuação no clube da cidade. Percebendo que seus problemas no time não serão passageiros, ele começa a temer que a sua situação profissional piore (LOEST, 2018. p. 75), e, de fato, pouco depois ele é relegado ao time reserva (LOEST, 2018, p. 95). Este modelo era bastante comum nos países onde, oficialmente, os jogadores de futebol não eram profissionais e sim operários comuns que “também” jogavam futebol:

Porque o futebol de sucesso sempre e em qualquer lugar do mundo depende de jogadores extraordinários, e como esses eram cobiçados e procurados também na RDA, sempre houve para eles um mercado encoberto, que na economia precária do socialismo persuadia não somente com premiações monetárias, mas também com a subvenção de moradias e carros. (BRAUN, 2013, p. 172)[12]

A forma como Loest representa a situação do operário e jogador Zöbl no romance é bastante discreta e não aponta para possíveis “contradições” ou problemas. Nesse sentido, pode também ser um desvio do autor para não mostrar uma realidade ainda mais diretamente contrária à visão oficial do esporte de ponta amador no socialismo, como se poderia concluir seguindo as considerações de Stephan Seeger:

Ao pesquisar nos clubes de futebol de Leipzig, ele [Loest] tinha observado que os jogadores na Oberliga eram pagos por suas atuações. Eram profissionais na RDA, no suposto país do amadorismo esportivo. Ele omitiu esse detalhe no romance para escapar à censura. (SEEGER, 2018, p. 242)[13]

Mesmo assim, esse aspecto aparece no romance numa contextualização menos direta e – possivelmente – por isso mesmo problemática na época da sua publicação: Zöbl, o atacante em declínio, recebe a visita de um funcionário de outra cidade, com um time de futebol numa liga inferior, que lhe oferece mudar de clube e de lugar, pois nesse caso ele poderia contar com alguns privilégios:

Duas colônias de férias da fábrica, uma no Vogtland, outra no litoral. E: uma provisão de carvão como parte do salário. E: um apartamento recém-construído em Kitzen, a quatro quilômetros da fábrica, atrás do depósito de lixo, onde o ar ainda era suportável. Zöbl poderia trabalhar como torneiro, havia funções semioficiais no clube da fábrica – se poderia falar sobre tudo, tudinho. Zöbl era companheiro, a fábrica tinha postos previstos para instrutores na área sindical, até a organização da juventude socialista – Finke estendia os braços: compreendia Zöbl o quanto eles estavam lhe oferecendo? (LOEST, 2018, p. 155)[14]

Mas, como já foi dito acima, essa contradição sistêmica do futebol profissional no socialismo só representa uma observação marginal no romance de Erich Loest. O interesse do escritor se volta para a contextualização política e social do esporte bretão dentro da organização da República Democrática Alemã. Como na Alemanha Ocidental, e também como em grande parte do mundo, o futebol se impunha como esporte mais importante na paisagem interna da RDA, superando inclusive os esportes olímpicos que eram a ferramenta por excelência do bloco soviético para ganhar mais medalhas do que os países ocidentais:

O futebol era de fato o maior poder no esporte organizado: Era a maior associação esportiva, contando com um quinto dos membros da organização de massas da Federação Alemã de Ginástica Olímpica e Esportes da RDA (DTSB), cerca de meio milhão de pessoas. Mas também o interesse público aumentou o seu peso: os torcedores e a audiência televisiva. (SPITZER, 2004, p. 254)[15]

Havia, portanto, certa contradição entre o papel “estratégico” do esporte no palco simbólico das competições internacionais entre os blocos políticos e a importância do futebol como elemento central da vida cotidiana e da cultura popular dentro do país:

Considerando o reduzido êxtase que sentia o aficionado do esporte mediano na RDA quando se conquistava mais uma medalha na canoagem ou no levantamento de peso, enquanto no futebol se tinha perdido já na primeira rodada, fica evidente que o futebol nunca ficou submetido à lógica das medalhas. Ao contrário, esse esporte lúdico ficava completamente fora da instrumentalização pela política externa, os resultados das partidas eram mais importantes do que os resultados incontroláveis dos grandes eventos. (SPITZER, 2004, p. 259)[16]

E um pouco mais adiante, Spitzer continua as suas considerações, levando-as para a dinâmica interna do sistema futebolístico na RDA, onde esse esporte chegou a exercer uma influência e posição de destaque comparáveis com muitos outros países no mundo, tanto no bloco soviético, quanto no mundo capitalista:

Disso resulta imediatamente: Ao contrário de todas as outras disciplinas esportivas “especialmente incentivadas”, o futebol tinha de fato uma missão nacional. As outras disciplinas precisavam de um posicionamento internacional extraordinário para se manter. Mas no centro de interesse não figurava a Copa Europeia ou a Seleção Nacional: o campeonato de futebol e as copas nacionais dominavam a cobertura na mídia. (SPITZER, 2004, p. 262)[17]

Por outro lado, era evidente a já mencionada falta de relevância internacional do futebol da RDA, que se devia à falta de triunfos dos clubes e da Seleção Nacional no palco europeu ou global[18] e que em parte se explica também por essa contradição interna no sistema da organização dos esportes na Alemanha socialista, que seguia a estratégia das medalhas relativamente seguras e “planejáveis” das disciplinas olímpicas, mas que tinha que conceder mais espaço e recursos do que intencionado ao futebol, por causa da sua popularidade no contexto nacional, regional e local. Jutta Braun argumenta nesse sentido:

[…] um motivo era seguramente a negligência que o futebol sofria devido à fixação olímpica da direção esportiva da RDA. Desde o início, a RDA tinha seguido o exemplo da Uniao Soviética e se entregado ao objetivo do triunfo olímpico, particularmente na comparação direta com a República Federal da Alemanha. O fato de este objetivo ter sido atingido de novo em cada ano olímpico a partir de 1968 foi uma consequência da concentração nas disciplinas com alta intensidade de medalhas […]. (BRAUN, 2013, p. 171) [19]

No romance de Erich Loest, o personagem Kerkrade, que coupa um alto cargo, representa esse dilema na política esportiva da RDA e atua conforme a convicção de que a popularidade “interna” do futebol poderia ser aproveitada de forma muito mais produtiva do que as numerosas medalhas olímpicas se o futebol nacional conseguisse algum título ou sucesso internacional. Assim, a sua ideia de convocar o jovem Hollstein para o time B e, mais tarde, para o time A da Seleção nacional, faz parte de uma estratégia de melhorar o desempenho e o prestígio do futebol da RDA no mundo:

Este homem, que nos jornais e discursos gostava de ser chamado de amigo da juventude e do esporte, tinha declarado o esporte de ponta como ferramenta da propaganda estatal e imposto condições nas quais este pudesse florescer – o futebol, reclamavam os cargos públicos de outros esportes nutridos de inveja, o futebol antes de tudo. Isto tinha sido reconhecido insistentemente e pronunciado como advertência neste escritório: as condições eram ótimas, por que os resultados não vinham? (LOEST, 2018, p. 143)[20]

No romance, o conflito representa esse contexto histórico, a atuação dos diferentes níveis – treinador e professor, os responsáveis políticos pelo futebol e pelo esporte, pela ciência e pela construção – que lutam pelo protagonista, seguindo muito mais a lógica estrutural do que as vontades individuais.

Jürgen Hollstein é lateral esquerdo, com perna esquerda forte, portanto, uma raridade que o torna muito valioso para os dirigentes do futebol na RDA. No primeiro jogo (em casa) que é narrado no romance, o time de Hollstein perde pelo placar de 0 a 1. À falta de eficiência no ataque se associa um erro fatal na zaga que determina a derrota. No dia seguinte, o vice-chefe da Federação Nacional, Kerkrade, visita o técnico do clube, Archold, para lançar o fundamento para a sua conquista do jovem talentoso para o futebol nacional. Este encontro representa de forma exemplar como a política intervém diretamente nas decisões que vão determinar a dimensão esportiva:

O homem mais importante na Associação Central depois do Presidente, quase nunca mencionado no jornal, Diretor responsável pelos quadros, Diretor de contato com o Comitê Central – nem por um segundo Archold achou que Kerkrade tivesse vindo somente para tomar um café e desabafar sobre o jogo que tinham acabado de ver. […] »Você também não teve muita sorte ontem«, disse Kerkrade com um sorriso amargo. »O que está acontecendo?«

Archold ficaria feliz se soubesse se explicar com uma frase. Ele tinha que tirar Zöbl do time, que estava fora de qualquer forma. Hinsdorf, no momento, não tinha os nervos para marcar gols. Mas, tinha mais alguma coisa de errado nisso tudo… Kerkrade não comentou nada, mas disse de passagem, olhando para um ponto atrás de Archold: »Eu quero que vocês ganhem o próximo jogo. E também, claro, o jogo seguinte, em casa.« Kerkrade estava preparando alguma coisa relacionada com ele ou com o time; Archold tinha um palpite. (LOEST, 2018, p. 65)[21]

Depois ficará claro que o funcionário Kerkrade está planejando substituir o atual técnico do time reserva da Seleção nacional por Archold, o técnico do time de Hollstein. Esse detalhe irá modificar a constelação do dilema em que se encontra o estudante e jogador, pois aumenta as chances do jovem jogador de ser convocado a nível nacional e ter sucesso no futebol. A cena em que, numa reunião da direção da Federação Nacional de Futebol da RDA, o antigo treinador da Seleção reserva é demitido e o novo – Archold – confirmado, incluindo também a convocação de Hollstein e de outro jogador de seu clube para o time B, se lê como a descrição de uma excelente jogada no gramado.

Depois tudo aconteceu supreendentemente rápido: Nickow desistiu de qualquer comentário adicional; por cima da sua cabeça se decidiu convocar Hollstein e Artmann para o time B e instalar Archold como técnico interino. Archold manifestou uma dúvida: Naturalmente, ele tinha um contrato com o seu clube, isso tinha que ser resolvido – o delegado do Comitê Central acenou. O relatório de Kerkrade foi confirmado, o companheiro Nickow recebeu o agradecimento rotineiro pela sua atuação. Mais perguntas? Não, então se podia passar para o item “diversos”. (LOEST, 2018, p. 150)[22]

A trama, nesse aspecto, segue a lógica das decisões políticas que determinam mais ou menos diretamente os acontecimentos no gramado. O alto cargo da Federação Nacional de Futebol não só decide quem será técnico de qual time, ele também se vê numa posição em que ele pode projetar toda uma filosofia ou uma orientação tática para a Seleção Nacional:

Aí apareceu uma ideia dentro de Kerkrade; estava lá de um momento para outro, partindo da base por causa da qual ele tinha vindo. Nas semanas seguintes, enquanto desenvolvia a sua ideia em reuniões, telefonemas, cartas e telegramas, ele sempre sublinhava que ele tinha concebido esse plano quando Artmann fora contaminado pelo ímpeto de Hollstein e fez aquele cruzamento que culminou com o primeiro gol, marcado por Mohr com um chute de canhão da segunda fileira. Agora Kerkrade se lembrou de uma entrevista dada por Alf Ramsey, onde ele, que agora era Sir Alf, se tinha manifestado a respeito do problema do lateral moderno: Ele teria se visto forçado a construir o seu time campeão mundial sem lateral porque não tinha nenhum. E essa era a ideia de Kerkrade: o quatro-dois-quatro dos brasileiros e o quatro-três-três dos ingleses, portugueses, alemães ocidentais, soviéticos, húngaros podia ser superado com o renascimento do lateral. A perna esquerda de Hollstein, a perna direita de Artmann. Kerkrade vibrava com essa ideia. (LOEST, 2018, p. 107)[23]

Na parte final do romance, o chefe do Departamento de Física, com o apoio de um alto cargo do Ministério da Construção, convence Jürgen Hollstein que o seu dever cívico enquanto estudante extraordinariamente talentoso seria seguir a carreira acadêmica e dedicá-la a realizar e melhorar a construção de moradias modernas para a população geral na RDA. Hollstein se conforma com a necessidade de renunciar à carreira futebolística e escreve uma carta à Federação Nacional renunciando à convocação para o time B e à concentração na Bulgária. Esta carta provoca a intervenção pessoal de Kerkrade, o dirigente da Federação Nacional, para reverter a situação e não perder a sua esperança pelo futebol da RDA:

No estádio nos arredores da cidade e em Berlim cartas eram abertas, lidas e repassadas, cabeças se inclinavam, dedos indicadores mandaram cartas a serem escritas, mensagens telegráficas eram enviadas a Berlim, por favor, companheiro Kerkrade, como? Já está sabendo? Sem falta esclarecer até amanhã! Archold colocou as pernas fora da cama, levantou a calça do pijama e coçou a batata da perna. Piada boba? Sem falta esclarecer, quem é esse professor; se conseguir apanhá-lo hoje, eu vou para aí. Em Kerkrade brotou uma raiva, que não o impedia de refletir, ao contrário, aguçava, dirigia o seu pensamento. Dez, quinze anos atrás, em tal situação ele não teria descartado a ideia: o inimigo? Agora, ele calculava: A quem ele poderia usar, quem era Bernskorn? (LOEST, 2018, p. 219)[24]

É muito interessante constatar – no contexto da revista Arquibancada – que nessa fase final do romance, quando o dilema de Jürgen Hollstein fica cada vez mais urgente, as suas reflexões a respeito do seu potencial enquanto jogador de futebol articulem uma referência cheia de respeito e admiração ao futebol brasileiro, na época bicampeão mundial de 1958 e 1962:

Ele era de verdade um jogador de futebol tão bom? Ele não seria somente bom se comparado com os outros daqui, ele conseguiria recuperar no treino o que não tinha aprendido com doze anos? Pelé, Garrincha, Santos, quando crianças, tinham jogado futebol durante dez horas numa rua qualquer, numa praia, tinham matado aulas e não perseguido outro sonho a não ser aquele de virar estrela de futebol. O que era que ele tinha confundido nos seus sonhos? (LOEST, 2018, p. 212)[25]

Dessa maneira, fica documentado o fascínio que o futebol brasileiro exercia nos anos 1960 até para além da “cortina de ferro”. A dúvida que preocupa Hollstein não é resolvida definitivamente no romance, mas os trechos que descrevem as partidas jogadas por ele durante o tempo narrado destacam a sua qualidade. Ao mesmo tempo, os quatro jogos representados no romance – três jogos de liga e um teste – mostram como Erich Loest combina o seu conhecimento íntimo do futebol com a maestria de sua escrita literária.

A descrição do primeiro jogo de Hollstein no romance ocupa onze páginas. Além de momentos do próprio jogo – um lance perdido pelo atacante após um cruzamento de Hollstein, a cobertura sofrida por ele da zaga adversária, os dois gols do time adversário… –, são narrados o diálogo entre o professor Bernskorn e o arquiteto Kapper que estão assistindo na tribuna, o comentário do locutor de rádio que acompanha o jogo, assim como o esboço do jornalista Göhke para a sua reportagem que irá ser publicada no dia seguinte, no jornal local (LOEST, 2018, p. 40-50).

A segunda partida recebe ainda mais atenção pelo narrador. A sua descrição inclui como Kerkrade tem a ideia para o novo esquema tático da Seleção nacional (a cena mencionada e citada acima), de novo a “escrita” mental do jornalista Göhke, a voz do radialista, e as cenas em que Hollstein e seu companheiro Artmann começam a dominar o jogo e marcam os dois gols da vitória (LOEST, 2018, p. 106-118). Nesse jogo – no meio dessa composição narrativa característica de Loest –, há o momento de um gol marcado por Hollstein, com a descrição detalhada e bem dinâmica da jogada:

E de novo correndo pra frente, levantou a bola por cima de uma perna de zagueiro, foi sendo empurrado para a linha lateral, mesmo assim conseguiu avançar mais ainda, ficou com o arremesso. E logo em seguida, no minuto trinta e oito, fez um cruzamento sob medida, Göhke a descreveu assim: »Mesmo que fortemente pressionado por dois zagueiros, Hollstein colocou a bola polidamente no trajeto de Hinsdorf, que marcou sem dó nem piedade.« (LOEST, 2018, p. 109)[26]

É dessa mistura de documento histórico de uma época e de um sistema político há muito tempo desaparecidos – do futebol na República Democrática Alemã dos anos 1960 – e de escrita literária “futebolística” que surgem o extraordinário fascínio e valor desse romance.

Notas

[1] No original: „Zeitlebens galt der sächsische Schriftsteller Erich Loest, der 2013 als 87-Jähriger den Freitod suchte, als fußballinteressiert. Noch im hohen Alter traktierte er Interviewer mit der Aufforderung, doch bitte erst einmal die Breslau-Elf aufzusagen. Und wehe, man war da nicht firm.“

O termo “Seleção de Breslau” se refere à Seleção alemã que em 16 de maio de 1937 ganhou 8 a 0 contra a Dinamarca num amistoso na cidade de Breslau (hoje Wrocław, na Polônia). O técnico “do Reich”, Sepp Herberger, conseguiu driblar as diretivas dos altos cargos políticos e escalar um time de sua preferência, que depois dessa vitória histórica permaneceu invicta durante mais nove partidas, ganhando seis delas. Após a integração da Áustria na Alemanha nazista em março de 1938, a Seleção Nacional passou a operar com contingentes definidos de jogadores alemães e austríacos, e fracassou na Copa do Mundo daquele mesmo ano na França (cf. https://www.fifa.com/fifaplus/de/articles/85-jahre-breslau-elf; e https://www.dfb.de/news/detail/nationalteam-der-mythos-der-breslau-elf-33421/).

A escalação foi a seguinte: Hans Jakob (Jahn Regensburg), Paul Janes (Fortuna Düsseldorf), Reinhold Münzenberg (Alemannia Aachen), Andreas Kupfer (Schweinfurt 05), Ludwig Goldbrunner (Bayern München), Albin Kitzinger (Schweinfurt 05), Rudi Gellesch, Fritz Szepan (ambos Schalke 04), Ernst Lehner (Schwaben Augsburg), Otto Siffling (Waldhof Mannheim), Alfred Urban (Schalke 04).

[2] No original: „Loests Herz gehörte dem Überraschungsmeister der Saison 1963/64, der BSG Chemie Leipzig um den schon erwähnten Bernd Bauchspieß, die den weit besser geförderten Sportclub Leipzig in dieser Saison hinter sich verwies: Ein Underdog, der ‘den Großen’ ein Schnippchen schlug, das war nach Loests Geschmack. Ich bin mir aber sicher, dass sich Erich Loest über den Bundesligaaufstieg des ‘Lokalrivalen’ VfB Leipzig 1993 ebenso gefreut hat. Und vermutlich wäre er auch stolz gewesen auf die aktuelle Entwicklung des neuen Bundesligaclubs RB Leipzig, denn bei beiden ging und geht es já um zwei seiner ganz Leidenschaften: Fußball und Leipzig.”

[3] Loest tinha escrito os trechos descritivos de Londres e do Estádio de Wembley a partir das fontes para ele disponíveis, sem poder visitar o lugar na época. A reedição de 2006 (pela Mitteldeutscher Verlag em Halle na der Saale por ocasião da Copa Mundial de Futebol na Alemanha), apresenta uma versão do romance modificada pelo autor após a sua primeira visita pessoal em Londres e no Estádio de Wembley, na qual ele constatou as grandes diferenças entre a realidade e a sua imaginação.

[4] O romance teve uma 2a edição na mesma editora, a Mitteldeutscher Verlag em Halle na der Saale, em 1978, uma reedição no âmbito das Obras Escolhidas de Erich Loest em 1992 pela Linden-Verlag em Leipzig, uma edição de bolso na DTV em Munique por ocasião da Copa do Mundo na Alemanha em 2006, e finalmente a mais recente e por enquanto última reedição de 2018, mais uma vez na Mitteldeutscher Verlag.

[5] Só de indicam as cores da camisa do clube, azul e amarelo, cores que poderiam aludir à Federação de Futebol da RDA ou a outro clube da cidade de Loest, o Lokomotive Leipzig.

[6] A problemática do “profissionalismo” no futebol da RDA aparece também no romance e será tratada mais adiante.

[7] No original: „[Prof. Bernskorn] »Es lohnt sich für Sie, sich anzustrengen. Vielleicht sind Sie in sechs Jahren mein Assistent?«

Hollstein lachte. Mein physikalisches Bulgarien, dachte er. »Wäre prima.« Zwei Wege, einer auf Albert Einstein, der andere auf Stan Matthews zu. Gekoppelt: Einstein als Stürmer einer Nationalelf? Matthews auf dem Professorenpodium? Stan Einstein, Albert Matthews? […] Da gab es noch etwas: Leistungssportler wäre Hollstein, Fußballer, nicht wahr? Wie vertrug sich das mit dem Studium, gar mit dieser neuen Belastung?“

[8] No original: “Loest zeichnet ein Panorama einer DDR-Gesellschaft der 1960er Jahre, die die frühe Aufbruchsstimmung verloren hat und sich in der Ebene müht.”

[9] No original: „Erich Loest erzählt farbig und abwechslungsreich, mit seiner ruppigen, durch Lakonie abgefederten Einfühlsamkeit einen Entwicklungsroman aus unserer Lichtjahre entfernten jüngsten Vergangenheit – als es noch keine Blue Goals und nur bescheidene Werbemillionenverträge gab. Damals kamen Autoren noch auf die Idee, ein Spitzenfußballerproblem als Allerweltsdilemma zu schildern: Wohin mit diesem einen, schnell ins Kraut schießenden Leben? Die Spannung zwischen Subjekt und Welt, Ideal und Wirklichkeit, die einen echten Bildungsroman ausmacht, wird bei Loest anhand ganz normaler Ausnahmegestalten geschildert.“

[10] No original: „Fußball gehörte zu den ‘besonders geförderten’ Sportarten. Seit 1965 wurden zehn selbständige ‘FC’, also ‘Fußballclubs’, gebildet […]. Zum neuen System gehörte ein Netz an Delegierungs-Sportgemeinschaften in den Kreisen.“

[11] No original: „Es handelt sich bei dem Beschluss des Sekretariats des ZK der SED vom 18. August 1965 zur Bildung der Fußballclubs um den klaren Versuch, den Fußball wieder unter die politische und fachliche Kontrolle des DTSB zu bekommen, um auch im Fußball einen erheblichen Leistungsaufschwung zu gewährleisten. Gleichzeitig handelte es sich auch um eine Abtrennung des Spitzenfußballs vom übrigen Leistungssport. Medaillengewinner und Weltmeister in anderen Sportarten bekamen so nicht mehr mit, dass Fußballer aus dem Mittelfeld der Oberliga besser bezahlt und behandelt wurden.”

[12] No original: „Denn erfolgreicher Fußball hängt immer und überall auf der Welt an herausragenden Spielerpersönlichkeiten, und da diese auch in der DDR begehrt und umworben waren, gab es für sie auch stets einen verdeckten Markt, der allerdings in der Mangelwirtschaft des Sozialismus nicht allein mit Geldprämien, sondern ebenso mit der Versorgung mit Wohnraum und Fahrzeugen lockte.”

[13] No original: „Bei seinen Recherchen in Leipziger Fußballvereinen hatte er beobachtet, wie die Oberligaspieler für ihre Einsätze Geld bekamen. Sie waren Profis im vorgeblichen Amateursport-Land DDR. Das verschwieg er im Roman, um dem Zensor zu entgehen.”

[14] No original: „Zwei betriebseigene Ferienheime, eins im Vogtland, eins an der See. Und: Deputatkohle. Und: eine Neubauwohnung in Kitzen, vier Kilometer vom Werk weg, hinter der Kippe, dort war die Luft erträglich. Als Dreher könnte Zöbl arbeiten, es gab halbamtliche Funktionen in der BSG – über alles, alles konnte man sich verständigen. Zöbl war Genosse, der Betrieb besaß Planstellen für Instrukteure im gewerkschaftlichen Bereich, selbst die FDJ – Finke breitete die Hände: Begriff Zöbl, wie umfassend man ihm entgegenkommen wollte?”

[15] No original: „Der Fußball war tatsächlich die stärkste Macht im organisierten Sport: Ihm als größtem Sportverband gehörte jedes fünfte Mitglied der Massenorganisation Deutscher Turn- und Sportbund der DDR (DTSB) an, rund eine halbe Million Mitglieder. Aber auch das öffentliche Interesse verstärkte das Gewicht: die Fans und die Fernseh-Zuschauer.”

[16] No original: „Bedenkt man, wie wenig es den durchschnittlichen DDR-Sportfan in Ekstase versetzte, wenn wieder eine Medaille im Kanu-Rennsport oder Gewichtheben errungen worden war, man aber im Fußball in der ersten Runde ausgeschieden war, wird evident, daß Fußball der Medaillenlogik niemals unterworfen war. Im Gegenteil fiel diese Spielsportart aus der außenpolitischen Funktionalisierung gänzlich heraus, die Fußballergebnisse waren wichtiger als der unkalkulierbare Ausgang sportlicher Großereignisse.”

[17] No original: „Hieraus ergibt sich schon: Fußball hatte im Gegensatz zu allen anderen ‘besonders geförderten’ Sportarten faktisch einen nationalen Auftrag. Bei den anderen Förder-Sportarten war ein international hervorragender Stand notwendig zum Erhalt. Aber nicht der Europacup oder die Nationalmannschaft stand im Zentrum des Interesses: Die Fußballmeisterschaft und der Pokal beherrschten die Presseberichterstattung.”

[18] A Seleção da RDA só chegou a disputar uma Coap do Mundo, justamente a de 1974 na Alemanha ocidental e justamente no mesmo grupo que a Seleção da RFA. A RDA conseguiu a vitória histórica no duelo das duas Alemanhas em Hamburgo no dia 22 de junho, 1 a 0 com o famoso gol de Jürgen Sparwasser, o „Sparwasser-Tor“. A propósito, quatro dias mais tarde, na segunda fase de grupos, a RDA enfrentou também o Brasil e perdeu 1 a 0 (gol de Rivelino). O maior sucesso da Seleção nacional da RDA foi a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 1976 em Montréal.

Nos campeonatos europeus, a melhor fase dos clubes da RDA se situa também no fim dos anos 1960, início dos 1970, sendo o maior sucesso a conquista da Taça dos Clubes Vencedores de Taças da UEFA pelo 1. FC Magdeburg em 1974.

[19] No original: „ein Grund lag mit Sicherheit in der Benachteiligung des Fußballs, die aus der Olympiafixierung der DDR-Sportführung erwuchs. Von Beginn an hatte sich die DDR, im Fahrwasser der Sowjetunion, dem Ziel des olympischen Erfolgs verschrieben, insbesondere im direkten Vergleich mit der Bundesrepublik. Daß dieses ambitionierte Ziel seit 1968 in jedem olympischen Jahr wieder aufs Neue erreicht wurde, war einer Konzentration auf die medaillenintensiven Sportarten geschuldet […].”

[20] No original: „[D]ieser Mann, der sich in Zeitungen und Reden gern den besten Freund der Jugend und des Sports nennen ließ, hatte den Leistungssport als staatliches Propagandamittel beim Namen genannt und Bedingungen durchgesetzt, auf denen er gedeihen konnte – der Fußball, so mäkelten Funktionäre anderer Sportarten futterneidisch, der Fußball vor allem. Das war in diesem Zimmer beharrlich anerkannt und als Mahnung ausgesprochen worden: Die Bedingungen waren maximal, warum ließen die Ergebnisse auf sich warten?”

[21] No original: „Der wichtigste Mann im Zentralverband nach dem Präsidenten, kaum jemals in der Zeitung erwähnt, Leiter für Kader, Führungshalter zum Zentralkomitee – Archold nahm keine Sekunde lang an, daß Kerkrade nur gekommen war, um Kaffee zu trinken und über das eben gesehene Spiel zu schimpfen. […] »Dir ist es ja gestern auch nicht gerade gut ergangen«, sagte Kerkrade und lächelte säuerlich. »Was ist los?«

Archold wäre glücklich gewesen, hätte er das mit einem Satz erklären können. Er mußte Zöbl herausnehmen, der war außer jeder Form. Hinsdorf hatte im Moment keinen Nerv fürs Toreschießen. Wo aber noch steckte der Wurm im Holz? Kerkrade gab dazu keinen Kommentar, sondern ließ fallen, wobei er an Archold vorbeisah: »Ich möchte, daß ihr das nächste Spiel gewinnt. Und das übernächste zu Hause auch, natürlich.« Kerkrade hatte etwas vor, was mit ihm oder der Mannschaft zusammenhing; Archold ahnte es.”

[22] No original: „Dann ging alles verblüffend rasch: Nickow verzichtete auf jede weitere Äußerung; über seinen geduckten Kopf hinweg wurde entschieden, Hollstein und Artmann in die B-Mannschaft aufzunehmen und Archold kommissarisch als B-Trainer einzusetzen. Archold meldete Bedenken an: Er hatte selbstredend einen Vertrag mit seinem Klub, das mußte geregelt werden – der Abgesandte des Zentralkomitees nickte. Kerkrades Bericht wurde bestätigt, dem Sportfreund Nickow für seine bisherige Tätigkeit in einer Routineformulierung gedankt. Noch Fragen? Das war nicht der Fall, so konnte zum Punkt Verschiedenes übergegangen werden.“

[23] No original: „Da sprang in Kerkrade eine Idee auf; sie war mit einem Schlag da von der Basis aus, derentwegen er gekommen war. In den Wochen drauf, während er seinen Gedanken in Sitzungen, Telefonaten, Briefen und Telegrammen ausbaute, betonte er immer wieder, daß er diesen Plan gefaßt hatte, als Artmann von Hollsteins Schwung angesteckt wurde und die Flanke gab, die zum ersten Tor führte, von Mohr aus der zweiten Reihe heraus mit einem Bombenschuss erzielt. Auf ein Presseinterview mit Alf Ramsey besann sich Kerkrade jetzt, in dem dieser, Sir Alf unterdessen, sich über das Problem des modernen Außenstürmers geäußert hatte: Er wäre gezwungen gewesen, sein Weltmeistermannschaft ohne Außenstürmer aufzubauen, weil er keine besaß. Das nun war Kerkrades Einfall: Das Vierzweivier der Brasilianer und das Vierdreidrei der Engländer, Portugiesen, Westdeutschen, Sowjets, Ungarn war durch eine Wiedergeburt des Außernstürmers aus den Angeln zu heben. Hollsteins linkes, Artmann rechtes Bein. Kerkrade fühlte sich heiß durch diese Idee.”

[24] No original: „Briefe wurden im Stadion am Rande der Stadt und in Berlin aufgeschlitzt, gelesen und weitergereicht, köpfe beugten sich, Zeigefinger setzten Schreiben in Bewegung, Impulse flogen bis Berlin, bitte, Sportfreund Kerkrade, wie? Schon informiert? Unbedingt klären bis morgen! Archold kippte die Beine aus dem Bett, schob die Pyjamahose hoch und kratzte die Waden. Blöder Witz? Unbedingt klären, wer ist der Professor; wenn es gelingt, ihn für heute festzunageln, komme ich runter. In Kerkrade stieg Zorn auf, der ihn nicht am Überlegen hinderte, vielmehr seine Gedanken schärfer, spitzer machte. Vor zehn, fünfzehn Jahren hätte er in solcher Situation nicht ausgeschlossen: Der Feind? Jetzt kalkulierte er: Wen konnte er einspannen, wer war Bernskorn?”

[25] „War er wirklich ein so guter Fußballspieler. War er nicht bloß gut unter hiesigen Vergleichen, konnte er im Training nachholen, was er mit zwölf Jahren nicht gelernt hatte? Pelé, Garrincha, Santos hatten als Jungen jeden Tag zehn Stunden lang Fußball gespielt in irgendeiner Straße, an einem Strand, hatten die Schule geschwänzt und keinen anderen Traum gehabt als den, Fußballstar zu werden. Was hatte er alles durcheinander geträumt?”

[26] „Ab ging die Post wieder, er hob den Ball über ein Verteidigerbein hinweg, wurde zur Seitenlinie abgedrängt, gewann dennoch Raum und den Einwurf. Und gleich darauf, in der achtunddreißigsten Minute, schlug er eine Maßflanke; Göhke schrieb über sie: »Trotz harter Bedrängnis von zwei Abwehrspielern legte Hollstein den Ball blitzsauber in den Lauf von Hinsdorf, der gnadenlos vollstreckte.«”

Referências Bibliográficas

Braun, Jutta. Zuschauersport im Staatssozialismus – Fußball in der DDR. In: PYTA, Wolfram (org.). Geschichte des Fußballs in Deutschland und Europa seit 1954. Stuttgart: Kohlhammer, 2013, p. 171-182.

BÜLLES, Markus; KAMINSKI, Markus (2005). Helden des Sports in Literatur und Film. Mythos-Magazin, n. 10, 2005. Disponível em: https://mythos-magazin.de/mythosforschung/mb-mk_sporthelden.pdf. Acesso em: 08 set. 2023.

FINGER, Evelyn. “Kopf oder Beine? Erich Loest erzählt von einer mörderischen WM 1966 und einer schwierigen Linksfüßlerkarriere in der DDR.” DIE ZEIT, n. 24, 08 jun. 2006. Disponível em: https://www.zeit.de/2006/24/L-Loest_xml. Acesso em: 08 set. 2023.

LOEST, Erich. Der elfte Mann. Halle (Saale): Mitteldeutscher Verlag, 2018.

SEEGER, Stephan. Nachwort In: LOEST, Erich. Der elfte Mann. Halle (Saale): Mitteldeutscher Verlag, 2018, p. 241-245.

SPITZER, Giselher. Die Sonderrolle des Spitzen-Fußballs in der DDR: Funktionalisierung – Identitäten – Konkurrenzen. In: PYTA, Wolfram (org.). Der lange Weg zur Bundesliga. Zum Siegeszug des Fußballs in Deutschland. Münster: Lit, 2004, p. 241-282.

STEINLEIN, Rüdiger. Erich Loest: Unterhalten und eingreifen. Zum Romanwerk Erich Loests. In: EKE, Norbert Otto (org.). Poetologisch-Poetische Interventionen – Gegenwartsliteratur Schreiben. Boston: BRILL, 2012, p. 43-58.

TEICHLER, Hans Joachim. Fußball in der DDR. APuZ – Aus Politik und Zeitgeschichte, n. 19: “Fußballweltmeisterschaft”, p. 26-33, 2006.

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Marcel Vejmelka

Professor do Departamento de Espanhol e Português na Faculdade 06 "Tradução, Linguística e Estudos Culturais" (FTSK), da Universidade Johannes Gutenberg de Mainz, em Germersheim, Alemanha. Doutorado em Estudos Latino-americanos/Brasileiros - Freie Universität Berlin (2004); graduação em Tradução Português/Espanhol - Humboldt-Universität zu Berlin (2000). Tem experiência na área de Literatura, Cultura e Tradução, com ênfase em Literatura brasileira e hispano-americana, atuando principalmente nos seguintes temas: tradução literária, literatura brasileira e hispanoamericana, tópicos da cultura popular (futebol, música e hq).

Como citar

VEJMELKA, Marcel. Futebol na Literatura de Língua Alemã – Parte IX: O futebol na RDA dos anos 1960, em um romance de Erich Loest. Ludopédio, São Paulo, v. 171, n. 11, 2023.
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