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Futebol na Literatura de Língua Alemã – Parte X: Quando Beckenbauer ainda não era o “Kaiser Franz”

Ele tinha uma tal elegância, ele não era alemão, ele era mais brasileiro em todo o tratamento com a bola.1

(Karl-Heinz Rummenigge, ex-jogador do Bayern de Munique e da seleção da Alemanha Ocidental)

Recentemente, dois ícones do futebol mundial nos deixaram: o brasileiro Mário Jorge Lobo Zagallo (1931-2024) e o alemão Franz Anton Albert Beckenbauer (1945-2024). Ambos inscreveram seus nomes nos anais do futebol. Se Zagallo é o único futebolista tetracampeão mundial – como jogador, nos mundiais de 1958 e 1962, como treinador em 1970 e, respectivamente, como coordenador técnico em 1994 –, Beckenbauer juntou-se à seleta galeria com dois títulos mundiais – como jogador em 1974 e, respectivamente, como técnico em 1990, precisamente como Teamchef (chefe de equipe), uma vez que não possuía era diplomado para exercer a função de Trainer (treinador). Apenas o francês Didier Dechamp também repetiu essa façanha – como jogador em 1998 e, respectivamente, como técnico em 2018.

Mais que merecido, muito se escreveu sobre o “Kaiser Franz” nas últimas semanas, como modo de lhe render homenagens póstumas. Este artigo também foi concebido com esta intenção. Entretanto, decidimos discorrer sobre uma obra em especial, publicada no final da década de 1960, quando o jovem Beckenbauer estava em plena atividade e já figurava como craque do futebol alemão e mundial. Trata-se de Franz Beckenbauer – Das deutsche Fußballwunder (1969; Franz Beckenbauer – A maravilha alemã do futebol). Seu autor, Hans-Jürgen Winkler (1923-2002), foi jornalista e escritor, com vários livros publicados, entre eles, dois livros dedicados a competições disputadas em 1962 e 1966 – Fuβball 1962 – Weltmeisterschaft, Europa-Cup, Deutsche Meisterschaft (1962) e 1966 – Weltmeisterschaft in England, Bundesliga, Europa-Pokale (1966), ambos em coautoria com Heribert Meisel, Flitzi, ein Fußballknirps wird Nationalspieler (1966; Flitzi, um garoto do futebol se torna jogador da seleção nacional), obra de literatura infantil, e Uwe vor – noch ein Tor (1969; Uwe avante – mais um gol), sobre o atacante e, mais tarde, dirigente alemão Uwe Seeler (1936-2022), sendo que este último livro foi publicado pela editora Moewig, de Munique, na mesma série que Franz Beckenbauer – Das deutsche Fußballwunder, intitulada “Moewig-Sportbuch” (Livro Esportivo da Moewig), que reúne outros títulos sobre os lendários jogadores alemães Fritz Walter (1920-2002), Helmut Haller (1939-2012) e Gerd Müller (1945-2021), e o pugilista e campeão mundial dos pesos-pesados Max Schmelling (1905-2005).

Há várias biografias publicadas sobre a vida e a carreira do “Kaiser Franz”: Der Kaiser: Die Franz-Beckenbauer-Story (1991; O Kaiser: A estória de Franz Beckenbauer), de Hans Blickensdörfer, Franz Beckenbauer – Der freie Mann (2005; Franz Beckenbauer – O homem livre), de Torsten Körner, Franz Beckenbauer: Kleine Anedokten aus dem Leben einer großen Fußballikone (2020; Franz Beckenbauer: Pequenas anedotas da vida de um grande ícone do futebol), de Daniel Michel, Mensch, Kaiser! Lichtgestalt mit Schattenseiten (2023; Homem, Kaiser! Corpo de luz com lados sombrios), de Florian Kinast, e Franz Beckenbauer – Kaiserjahre (2024; Franz Beckenbauer – Anos do Kaiser), de Christoph Bausenwein. A estas somam-se também os relatos autobiográficos Einer wie ich (1975; Um camarada como eu), Meine Gegner – Meine Freunde (1987; Meus opositores – Meus amigos), Ich – Wie es wirklich war (1992; Eu – Como realmente foi), e Tour de Franz – Meine WM ’98 (1998; Turnê do Franz – Meu Mundial de 98).

Todavia, o livro Franz Beckenbauer – Das deutsche Fußballwunder, sobre o qual versaremos brevemente, em termos teóricos, não pode ser chamado de “biografia”, ou seja, uma escrita da vida que se reporta a um longo período de tempo. Trata-se, na verdade, de um “perfil” ou “instantâneo” de um jovem jogador que ainda estava em plena atividade e já se destacava no cenário futebolístico alemão, europeu e mundial, um autêntico documento da “maravilha alemã do futebol” que ainda se consolidaria, nos anos seguintes, como o “Kaiser Franz”.

Fonte: reprodução

Por sua vez, antes de discorrermos sobre o livro de Hans-Jürgen Winkler, devemos considerar que, em 1969, Beckenbauer já reunia em seu promissor currículo um número considerável de títulos conquistados: a Bundesliga (1968-1969), a Copa da Alemanha (1965-1966, 1966-1967, 1967-1968 e 1968-1969), e a Recopa Europeia da UEFA (1966-1967), todos com o FC Bayern München, o Bayern de Munique, além de ter sido vice-campeão mundial com a seleção da Alemanha Ocidental na Copa do Mundo da Inglaterra em 1966. Além disso, ganhou a Bola de Bronze da Copa de 1966 e foi eleito o futebolista alemão do ano em 1966 e 1968. Sem dúvida, muito mais conquistas viriam na década de 1970, seja com o Bayern, com o New York Cosmos, onde atuou por três temporadas, de 1977 a 1980, o HSV de Hamburgo, e na seleção da Alemanha Ocidental. Mas devemos considerar o momento em que o futuro “Kaiser Franz” se encontrava em sua carreira, quando Hans-Jürgen Winkler escreveu e publicou o livro Franz Beckenbauer – Das deutsche Fußballwunder, em maio de 1969.

Entre seus paratextos, o livro possui um conjunto de belas fotos em preto e branco, nas quais o craque é mostrado em ação nos gramados, seja pelo Bayern ou pela seleção da Alemanha Ocidental, e em momentos de lazer junto à família. Além das fotos acompanhadas de legendas, os títulos das três seções que compõem o livro também são sugestivos: Es begann auf den Wiesen von Giesing… (Começou nos prados de Giesing…) (WINKLER, 1969, p. 5), com referência ao bairro de Munique, em que Beckenbauer nasceu e cresceu; Im Kampf um die Krone des Weltmeisters (Na luta pela coroa de campeão do mundo) (WINKLER, 1969, p. 45), sobre a atuação do jogador na Copa de 1966; e Freie Fahrt für den „Bayern-Expreß“ (Viagem livre para o expresso do Bayern) (WINKLER, 1969, p. 130), sinalizando possíveis novas conquistas para o Bayern de Munique, tendo Beckenbauer como seu capitão e protagonista.

Bem ao estilo romanesco, a narrativa de Franz Beckenbauer – Das deutsche Fußballwunder é marcada pela alternância temporal em flashbacks e flash forwards. Logo de início, o narrador autoral presentifica a cena de uma disputa entre a seleção sueca e a seleção alemã ocidental em 26 de setembro de 1965, em Estocolmo, precisamente, no Estádio Hazunda, o mesmo em que a Seleção Brasileira se sagrara campeã mundial de futebol pela primeira vez, sete anos antes. Tratava-se da última partida classificatória para o Mundial da Inglaterra, um “jogo chave” (Schlüsselspiel) ou “jogo do ano” (Spiel des Jahres), como assinala o narrador (WINKLER, 1969, p. 9; p. 5). Na narrativa, não faltam as escalações de cada equipe e a forma tática de ambas: o 4-2-4. Após destacar alguns lances da seleção alemã até o apito do juiz inglês Dagnall, decretando o intervalo de jogo, o narrador estabelece uma interrupção, para passar a apresentar o protagonista: “O intervalo de jogo em Estocolmo pode agora oferecer a oportunidade de se desviar do caminho principal da narrativa por um tempo e, por assim dizer, mudar para uma ‘estrada secundária’ – para o caminho de desenvolvimento do início da carreira de Franz Beckenbauer”.2 (WINKLER, 1969, p. 9) Como de costume em relatos memorialísticos de caráter biográfico, o nascimento do biografado é sempre um acontecimento de destaque. Todavia, no caso de Beckenbauer, o ano de 1945 constituiu-se como momento trágico e decisivo na história da Alemanha:

Quando Franz Beckenbauer Jr. vem ao mundo, grande parte de Munique jaz em escombros e cinzas. Por toda volta ao redor da clínica na Richard-Wagner-Straβe, onde o pequeno Franz nasceu em 11 de setembro de 1945, há uma imagem desoladora de devastação. Comboios de caminhões basculantes passam por caminhos escavados e improvisados, sobre os quais foram colocados trilhos, e em diversas áreas ermas nos arredores da cidade as massas de entulho acumulam-se em enormes montes.3 (WINKLER, 1969, p. 10)

Feito uma autêntica personagem de romance, o “pequeno Franz” tem seu nascimento ambientado em uma paisagem de escombros. Implícito no relato de Hans-Jürgen Winkler está também o fato de que, nos nove meses de sua gestação, parte deles se passou ainda quando a capital bávara foi bombardeada em ataques aéreos das forças aliadas, quando seus pais, certamente, tiveram de buscar proteção em abrigos antiaéreos. Foram mais de 70 incursões ao longo de cinco anos contra a capital bávara, em que a Royal Air Force (RAF) e a Air Force (USAAF) se revezavam. Os últimos três ataques aéreos ocorreram em 1945: em 08 de janeiro, o bombardeio provocado por 300 aviões da RAF atingiu principalmente o centro da cidade e resultou em 505 mortos e milhares de desabrigados; em 24 de abril, o bombardeio aéreo atingiu o centro de Munique e o bairro de Pasing e resultou em 44 feridos e 45 mortos, com cerca de 600 desabrigados; por fim, o último ataque de que se tem registro, ocorrido em 25 de abril de 1945, praticamente uma semana antes do cessar fogo, atingiu o distrito de Riem e vitimou três pessoas (BAUER, 1987). Mais tarde, em entrevista concedida a Manuel Neukirchner em 2015, Beckenbauer se recordaria desse cenário de devastação no pós-guerra, marcado por uma vida precária e de privações: “Sim, quando a gente fala sobre isso essas imagens ganham vida. Mas foi há muito tempo. A guerra tinha acabado de terminar e o país precisava ser reconstruído. Tudo foi destruído, não tínhamos nada além de futebol – não havia nada.”4 (NEUKIRCHNER, 2015, p. 219)

Portanto, os tempos de infância do futuro “Kaiser Franz”, por assim dizer, não foram nada “imperiais”. Seus pais, Franz Beckenbauer (1905-1977), funcionário dos Correios, e Antonie Hupfauf (1913-2006), dona de casa, pertenceram à geração que vivenciou e contribuiu para a reconstrução do país derrotado após 12 anos funestos sob o jugo do nazismo, ocupado por tropas aliadas e dividido em dois: a República Federal da Alemanha (Bundesrepublik Deutschland; BRD), fundada em 23 de maio de 1949 e formada a partir dos territórios ocupados pelos aliados ocidentais (França, Grã-Bretanha e Estados Unidos da América); a República Democrática Alemã (Deutsche Demokratische Republik; DDR), fundada em 07 de outubro de 1949 e formada pelos territórios ocupados por tropas soviéticas. Podemos dizer que a Alemanha tornou-se o tabuleiro de xadrez em que as nações conduziram a Guerra Fria, e Berlim, igualmente dividida em setores aliados na Conferência de Potsdam, em agosto de 1945, seria seu epicentro, cuja crise atingiria seu ápice em 13 de agosto de 1961, com a construção do Muro de Berlim por ordem do governo da Alemanha Oriental, com aprovação dos aliados soviéticos. O relato de Hans-Jürgen Winkler registra aquele momento difícil do pós-guerra, em que uma nova unidade monetária estava em vigor em Munique – maços de cigarro Lucky Strike – e o comércio era garantido pelo “mercado negro”:

Durante aquele período sombrio do pós-guerra, a família vive no antigo bairro de classe média de Munique, Giesing, no prédio de esquina da Sankt-Bonifatius-Straße nº 2. Como já há um filho chamado Walter, nascido em 1941, o pai agora tem que cuidar de quatro pessoas – um problema difícil dada a situação atual da “unidade monetária de cigarros”. Embora uma lei para combater o mercado negro seja promulgada em 25 de setembro [de 1945], há um caos indescritível no âmbito do abastecimento de gêneros alimentícios. A maioria da população de Munique, que cresceu para 560 mil pessoas, luta todos os dias para conseguir pelo menos o essencial.5 (WINKLER, 1969, p. 10)

Conforme podemos constatar, o relato é marcado por cenas passadas que, entretanto, são narradas no tempo presente, como modo de presentificá-las e potencializar sua dramaticidade. Se, naquela época, discutia-se sobre uma suposta Stunde Null – Hora Zero – provocada pelo final da guerra, em meio a continuidades e descontinuidades, Beckenbauer conheceria os anos de reconstrução em Munique e na Alemanha Ocidental. Em tom sentimental, o narrador pontua aqueles anos difíceis e os primeiros passos de “Franzl” (algo como “pequeno Franz” ou “Chiquinho”) que o levaria ao universo do futebol, ao ser autorizado por seu pai a ingressar no SC München von 1906, clube modesto do bairro de Giesing, aos 10 anos de idade. Baseado no testemunho da esposa de um dirigente do clube, o narrador apresenta a cena em que Franzl teria ganhado seu primeiro par de chuteiras, após ter jogado com uma bota de esqui, que um sapateiro teria improvisado colocando travas em seu solado:

As chuteiras de botas de esqui em questão logo cumpriram seu papel: em uma celebração de Natal do SC 1906, Franzl foi um dos felizardos que ganharam chuteiras tinindo de novas. Com o rosto radiante, ele desce do palco onde foram entregues os presentes e abraça a caixa com o maravilhoso conteúdo, bem apertada em seu peito.6 (WINKLER, 1969, p. 12)

Desse modo, segundo o relato, vencendo as dificuldades, Franzl passou os anos escolares jogando pelo SC 1906 até 1959, aos 14 anos de idade, quando se transferiu para as categorias de base do Bayern de Munique, clube que o formaria e o projetaria para a seleção alemã ocidental e o mundo, e que também se consolidaria como uma das maiores forças do futebol alemão até nossos dias. Em geral, quando buscamos informações sobre Beckenbauer em enciclopédias ou mesmo em sites na Internet, sempre nos deparamos com a indicação de que sua posição tática principal seria “zagueiro” (Verteidiger, defensor). Todavia, quem o viu jogar, sabe que essa palavra está longe de definir a versatilidade e a técnica refinada com que desempenhava sua função em campo. Há uma passagem interessante na obra Franz Beckenbauer – Das deutsche Fußballwunder, em que nos deparamos com seus anos de formação em termos de posicionamento em campo:

Nessa era o jovem Franz Beckenbauer está agora crescendo. Inicialmente, na equipe escolar [do SC 1906], era utilizado principalmente como ponta-de-lança, mas nas categorias de base do Bayern está ora nesta posição, ora naquela posição. Ele joga como ala, repetidamente como meia-atacante, também estuda as partes menos afortunadas da ala direita ou esquerda e então é gradualmente “dobrado” à posição de meio-campista.7 (WINKLER, 1969, p. 24)

Algo semelhante está registrado também com relação à primeira participação de Beckenbauer em uma partida pela seleção alemã de juniores, em um amistoso contra um combinado da Suíça em 08 de março de 1964, na cidade de Lörrach, no Sul da Alemanha Ocidental, não muito distante da fronteira entre os países:

[…] Franz tem medo dos holofotes feito um estreante ao entrar no palco em uma première, mas o público não percebe. As pessoas no entorno do campo de jogo vivenciam um líbero externo dinâmico, que age com vigor e se impõe repetidas vezes – e que também marca os dois gols alemães na vitória por 2×1 sobre os jovens suíços.8 (WINKLER, 1969, p. 26)

Entretanto, cada vez mais o futuro craque assumia a função “de prudente dominador do meio campo” (des umsichtigen Mittel-Beherrschers) (WINKLER, 1969, p. 27). A versatilidade com que atuava fez com que assumisse a função de líbero, zagueiro com liberdade para auxiliar o meio de campo na armação das jogadas e na ligação com o ataque, algo que Beckenbauer sempre fez com muita elegância e técnica. Em seu livro, Hans-Jürgen Winkler cita um comentário publicado na edição da revista Kicker, após a vitória da seleção alemã ocidental sobre a Suécia em Estocolmo, em 26 de setembro de 1965, pelo placar de 2×1, partida internacional que marcou a estreia de Franz na seleção principal de seu país e decretou a classificação dos comandados do técnico Helmut Schön (1915-1996) para o Mundial da Inglaterra:

“Parabenizamos Beckenbauer por sua primeira partida internacional. Ele pode fazer muito mais do que mostrou em Estocolmo, mas alcançou oitenta por cento de seu desempenho. Quando um estreante foi capaz de se afirmar dessa maneira? Beckenbauer é a futura música do futebol alemão. Nada de medo dos holofotes. Na segunda metade, por várias vezes, com uma postura calma quase soberana. Jogadores com a sua habilidade não apenas crescem na seleção nacional, eles estão bem no meio dela. A maneira como ele se impõe em duelos com sutileza seria digna de um veterano.”9 (Kicker, citado em: WINKLER, 1969, p. 40-41)

O desempenho do estreante também mereceu destaque na imprensa sueca, conforme a seguinte citação de um comentário do jornal Dagens Nyheter: “’As colunas de sustentação do jogo alemão foram [o atacante] Uwe Seeler, o líbero Franz Beckenbauer e o zagueiro Karl-Heinz Schnellinger’.”10 (Dagens Nyheter, citado em: WINKLER, 1969, p. 41). E um comentário publicado no jornal alemão Süddeutsche Zeitung reafirma a incerteza sobre o futuro posicionamento do promissor atleta do Bayern e da seleção da Alemanha Ocidental: “’Ainda não sabemos ao certo que papel será desempenhado no futuro, o de atacante ou o de meio-campista autêntico. Como um jogador defensivo autêntico (ou seja, já de classe internacional) ele é quase bom demais.’”11 (Süddeutsche Zeitung, citado em: WINKLER, 1969, p. 42)

Nota-se, portanto, que Hans-Jürgen Winkler fez uma pesquisa documental, baseada sobretudo em material de imprensa e em depoimentos e entrevistas com contemporâneos de Franz Beckenbauer em sua fase de formação e início da carreira aos 20 anos de idade em 1965, até os primeiros meses de 1969, com 24 anos incompletos. Citações como as apresentadas acima não só documentam o elevado desempenho do promissor jogador, como também legitimam os argumentos apresentados no livro Franz Beckenbauer – Das deutsche Fußballwunder.

Beckenbauer
Beckenbauer ao lado do busto do Imperador Franz Joseph I, da Áustria. Fonte: reprodução

Concluída a primeira parte do livro, a segunda enfoca o desempenho de Beckenbauer e da seleção da Alemanha Ocidental no Mundial da Inglaterra, em julho de 1966: Im Kampf um die Krone des Weltmeisters (Na luta pela coroa de campeão do mundo). Por questões de brevidade do presente artigo, não faremos maiores comentários especificamente sobre esse tema. Ao contrário, selecionamos algumas expressões que colaboraram para a constituição do futuro mito do “Kaiser Franz”, ainda ausente no livro. Uma delas é Vollblutfuβballer (futebolista puro sangue), empregada na legenda de uma fotografia que exibe Beckenbauer ao conduzir, elegantemente, a bola no gramado, trajando o uniforme da seleção (WINKLER, 1969, p. 50). Outras expressões são Star (em inglês), Fuβballartist (artista do futebol), cuja ação se traduz em uma Kunststück (peça de arte), Weltklassefuβballer (jogador de futebol de classe mundial) (WINKLER, 1969, p. 51-54) e Mittelfeld-Motor (motor do meio campo) (WINKLER, 1969, p. 91).

Para finalizar o presente artigo, apresentamos dois episódios relatados no livro de Hans-Jürgen Winkler, especificamente na terceira parte, em que o maior destaque recai sobre as conquistas do Bayern de Munique em 1966, 1967 e 1968: Freie Fahrt für den „Bayern-Expreß“ (Viagem livre para o expresso do Bayern). O primeiro deles, mais próximo de nós, leitores no Brasil, não é sobre o Bayern ou a seleção da Alemanha Ocidental: uma partida disputada em 06 de novembro de 1968 no Estádio do Maracanã, um amistoso reunindo a Seleção Brasileira e a Seleção da FIFA. Como esperado, Beckenbauer, que havia sido eleito “Futebolista do Ano” pela segunda vez seguida, era um dos integrantes da Seleção da FIFA:

Todo jogador de futebol de primeiro escalão sonha em, mais cedo ou mais tarde, poder jogar lado a lado com os melhores do continente ou mesmo em uma seleção mundial da FIFA. E assim, entre as outras tarefas que o ano futebolístico de 1968 reservou a Franz Beckenbauer, uma nomeação particularmente honrosa ocupou o primeiro lugar absoluto: a sua nomeação para a seleção da FIFA, que entrou em campo no dia 06 de novembro, no Rio de Janeiro, contra o time mais combativo da Seleção Brasileira.12 (WINKLER, 1969, p. 152)

Como um protagonista de romance, Beckenbauer é referenciado não só por questões futebolísticas propriamente ditas, mas também com relação à sua família – sua esposa Brigitte e seus filhos Stephan, Thomas e Michael, e ao momento de lazer em que se encontrava quando ocorreu a nomeação para atuar na seleção da FIFA, no amistoso contra a Seleção Brasileira:

Nosso amigo de Munique – brilhantemente recuperado após longas férias na Itália, extremamente bem sucedido com os “bávaros” na corrida pela Bundesliga, eleito “Jogador do Ano” pela segunda vez, e que, nesse ínterim, se tornou um afortunado pai de família – é incluído em uma equipe verdadeiramente “ilustre”, na qual Willi Schulz e Wolfgang Overath também têm seus lugares.13 (WINKLER, 1969, p. 152)

A seleção da FIFA iniciou a partida com a seguinte escalação: “Jaschin (União Soviética) – Novak (Hungria), Marzolino (Argentina), Beckenbauer (Alemanha), Schulz (Alemanha), Shesternew (União Soviética) – Amancio (Espanha), Szücs (Hungria), Albert (Hungria), Overath (Alemanha), Dzagic (Iugoslávia)”.14 (WINKLER, 1969, p. 152) Ao longo da partida, ocorreram várias substituições na equipe: “Na segunda etapa, Mazurkiewicz (Uruguai) está no gol, em vez de Jaschin, Perfumo (Argentina) assume a posição de Szücs no meio campo, Metreweli (União Soviética) o papel de Amancio; além disso, Rocha (Uruguai) substitui Albert e Farkas (Hungria), Dzajic”.15 (WINKLER, 1969, p. 152-153)

Por sua vez, a seleção canarinho apresentou a seguinte escalação, com os nomes dos jogadores que entraram durante a partida, entre parênteses: Picasso – Carlos Alberto (Moreira) e Jurandir – Everaldo, Dias e Rivelino – Gerson, Natal (Borges), Jairzinho (Tostão), Pelé e Cesar (WINKLER, 1969, p. 153). De modo breve, o narrador resume o desenrolar da partida em um Maracanã com mais de 100.000 espectadores:

O desenrolar do jogo pode ser explicado em poucas palavras: no segundo minuto, o ponta esquerda ofensivo dos brasileiros, Rivelino, fez 1 a 0, e meia hora depois a equipe da FIFA empatou com um gol de Albert, veloz ponta de lança húngaro. A partida foi decidida poucos segundos antes do apito final: o atacante Tostão marcou o gol da vitória brasileira. Satisfeitas com o placar de 2 a 1, as massas de torcedores foram embora. Rio garante um merecido elogio a Pelé e Cia.16 (WINKLER, 1969, p. 153)

Esse, sem dúvida, foi um momento especial de Beckenbauer em uma carreira ascendente no clube e na seleção da Alemanha Ocidental, jogar no Estádio do Maracanã no primeiro quadro da seleção da FIFA, em partida amistosa contra a Seleção Brasileira que, embora tenha feito uma campanha um tanto quanto desastrosa no Mundial da Inglaterra, era a bicampeã mundial e tinha entre seus craques a estrela maior da companhia, Pelé, que, pouco menos de uma década mais tarde, seria companheiro do craque alemão no New York Cosmos, juntamente com Carlos Alberto.

O segundo e último episódio envolvendo Beckenbauer, apresentado na terceira parte do livro Franz Beckenbauer – Das deutsche Fußballwunder, sobre o qual discorreremos brevemente, diz respeito a certo enobrecimento da figura do jogador em termos discursivos. Trata-se de uma lesão sofrida no metatarso da mão direita, em um treino na seleção, no dia 25 de março de 1969, véspera do jogo entre a Alemanha Ocidental e o País de Gales em Frankfurt. Após exames, a mão foi engessada, porém, mesmo querendo jogar, Beckenbauer foi vetado para a partida pelo treinador Helmut Schön.

Todavia, quatro dias mais tarde, mesmo com a mão engessada, o craque do Bayern de Munique retornaria aos gramados em uma partida disputada em casa contra o Werder Bremen, pela Bundesliga. Os “bávaros” simplesmente atropelaram o clube do Norte da Alemanha pelo placar de 6×0, sendo que o último gol foi assinalado por “aquele senhor que, aos 40 minutos do segundo tempo venceu o goleiro do Werder, Bernard, com um forte chute rasteiro de 16 metros de distância e decretou com isso o resultado final da partida, e que atende pelo nome Franz Beckenbauer”17 (WINKLER, 1969, p. 154). Esse episódio nos chamou à atenção pela caracterização que, segundo o narrador, teria sido veiculada na imprensa no dia seguinte:

Uma conhecida equipe de reportagem noticiou o “dia do gol aberto” em tom humorístico no dia 30 de março, e em negrito dizia, entre outras coisas: “A verdadeira atração do jogo foi ‘Götz von Berlichingen’, o cavaleiro com o punho de ferro. Uma luva preta foi colocada sobre sua mão direita. Mas não se preocupe, o punho não era de ferro, estava atado com uma bandagem elástica e envolto em espuma. E Franz jogou como se nada tivesse acontecido. Atrevido, agressivo no ataque e seguro na defesa, como de rotina”.18 (WINKLER, 1969, p. 154)

Para além do trocadilho com a expressão Tag der offenen Tür (dia da porta aberta), quando uma instituição é aberta ao público para visitação, o que nos chama à atenção é Beckenbauer, a “atração do jogo”, ter sido referenciado como um cavaleiro medieval, em alusão a Gottfried “Götz” von Berlichingen zu Hornberg (1480-1517), conhecido também como “Götz Mão de Ferro” (Götz Eiserne Hand), epíteto que vem bem a calhar simbolicamente nas circunstâncias em que o craque do Bayern se encontrava, com a mão direita lesionada e enfaixada. Trata-se também de uma figura eternizada na peça de teatro Götz von Berlichingen (1774), de Johann Wolfgang von Goethe. Desse modo, constatamos um traço discursivo de “enobrecimento” de Franz Beckenbauer, que subiria, mais tarde, de patamar, de um Reichsritter (cavaleiro imperial), como fora o histórico Götz von Berlichingen, para Kaiser (imperador), instância máxima do poder monárquico do Reich. Aliás, no universo de língua alemã, o epíteto “Kaiser Franz” reverbera também outra figura histórica: Kaiser Franz Joseph I. (1830-1916), Francisco José I, Imperador da Áustria (1848-1916), Presidente da Confederação Germânica (1850-1866) e Rei da Hungria, Croácia e Boêmia (1848-1916). Consta que Beckenbauer assim foi chamado pela primeira vez na imprensa alemã após a final da Copa da Alemanha, vencida pelo Bayern de Munique contra o FC Schalke 04, da cidade de Gelsenkirchen, com o placar de 2×1. A partida foi realizada em 14 de junho de 1969 no Waldstadion, em Frankfurt, apenas semanas após o lançamento do livro de Hans-Jürgen Winkler.

Há, pelo menos, duas versões de como surgiu o epíteto “Kaiser Franz”. Uma delas, segundo Daniel Stolpe, teria como fonte a imprensa: “Em junho de 1969, depois de conquistar o título pela primeira vez, o jornal Bild elevou seu favorito de longa data, Beckenbauer, a ‘Kaiser Franz von Bayern’.”19 (STOLPE, 2013, p. 88) Entretanto, outra versão se associa com a figura do Imperador da Áustria, conforme apontam Gerhard Fischer e Jürgen Roth:

[…] A promoção de filho de funcionário dos Correios a Kaiser parecia uma coincidência, mas se alguns outros poderes não interviessem, que Deus nos ajude. “A rigor, foi um instantâneo em Viena”, explicou o Frankfurter Rundschau (de 08 de junho de 1998), “que sem querer deu a Franz Beckenbauer o título majestoso que o acompanhou desde então. Durante um jogo amistoso com o Bayern de Munique, há trinta anos, o jovem profissional foi convidado a se postar para os fotógrafos no parque da cidade ao lado do busto do Imperador Franz Joseph I – o resto da lenda foi criado pela verve de seus colegas e por ele mesmo como um líbero brilhante.”20 (FISCHER; ROTH, 2013, p. 116)

Anos mais tarde, o próprio Beckenbauer reafirmaria essa versão, com algumas modificações em seu relato, um depoimento que foi integrado ao vídeo publicado no canal do jornal Bild no Youtube, intitulado Franz Beckenbauer ist tot: Wie aus Franz der Kaiser wurde (2024; Franz Beckenbauer está morto: Como Franz se tornou o Kaiser):

“Tivemos um amistoso em Viena, o patrocinador era uma seguradora, acho que na época se chamava Erste Allgemeine, e antes do jogo teve uma recepção, tinha um busto do Imperador Franz Joseph I no meio. E tínhamos isso naquela época, algo que não era comum acompanhar a equipe, um jornalista que também era fotógrafo, e como provavelmente estava entediado, ele me pediu para me postar ao lado desse busto, porque a foto existe, eu até a tenho em casa, e aí ele bateu a foto, e sim, naquele momento me tornei o Kaiser Franz, simples assim.”21 (Franz Beckenbauer, citado em: SPORT BILD, 2024)

Beckenbauer
Fonte: Wikipedia

Por sua vez, uma síntese das duas versões foi apresentada, recentemente, em um Podcast do canal de televisão alemão ARD, que foi ao ar poucos dias antes da morte de Beckenbauer, e cujo título sugestivo é Beckenbauer – Der letzte Kaiser von Deutschland (Beckenbauer – O último Kaiser da Alemanha), uma série em quatro capítulos. Segundo Herbert Jung, repórter do jornal Bild, para criar o epíteto “Kaiser Franz”, ele teria se inspirado no enfrentamento dos dois principais craques das equipes na final da Copa da Alemanha, em 14 de junho de 1969, em partida reunindo o Schalke 04 e o Bayern: o atacante Reinhard Libuda (1943-1996), que era chamado de König (Rei), e Franz Beckenbauer. Se Libuda era o König, com o triunfo do Bayern Beckenbauer teria ascendido acima dele, como Kaiser. Certamente, nessa lógica reverbera o próprio caso da unificação dos Estados Alemães e da formação do Segundo Reich, em 18 de janeiro de 1871, quando o Rei da Prússia, Wilhelm I, foi coroado como o Kaiser der Deutschen (Imperador dos Alemães), acima, por exemplo, de Ludwig II, Rei da Baviera. Nas palavras de Herbert Jung, a segunda versão da lenda seria posterior: “Mais tarde, uma foto que aparece por toda parte sedimenta a coroação como Kaiser do Futebol: Beckenbauer posando ao lado de um busto do Imperador Franz Joseph no Hofburg de Viena”22 (Herbert Jung, citado em: ARD, 2024).

O último parágrafo do livro Franz Beckenbauer – Das deutsche Fußballwunder sintetiza o momento em que o craque se encontrava no final da década de 1960: com uma carreira ascendente, era possível prever novas conquistas para o Bayern de Munique e para a seleção da Alemanha Ocidental, tendo à frente como capitão um atleta cujo desempenho técnico e tático, cada vez mais, era expressado em forma de superlativos, algo típico do discurso epidítico laudatório, digno da imagem de “heróis”, algo que, aliás, não o impressionaria:

O homem chamado Franz Beckenbauer não se deixa impressionar com os superlativos que as pessoas falam sobre ele todos os dias. Uma pessoa com defeitos como todos nós temos, um jogador de futebol com capacidades que poucos têm, continua no caminho pré-determinado, com uma confiança normal e boa na equipe. Os três meninos felizes, que “mantêm os pais em tempo integral” ao ar livre na Hofbrunnenstraβe, no bairro de Munique-Solln, garantem que o papai permanecerá ocupado por muito tempo.23 (WINKLER, 1969, p. 155)

É esse caminho seguro e confiante que, tempos mais tarde, levaria Beckenbauer a atingir não só o ápice de sua carreira, como também do máximo enobrecimento de sua figura, evidenciado no epíteto “Kaiser Franz”, o Imperador, que tantas alegrias trouxe aos torcedores do Bayern de Munique e aos cidadãos da Alemanha Ocidental e da Alemanha reunificada. Encerramos com uma frase que marca bem a memória desse ícone do futebol alemão e mundial, não como aquele que será substituído dentro de uma linhagem dinástica imperial, mas como aquele que permanecerá na memória por sua singularidade inigualável: „Der Kaiser ist tot. Es lebe der Kaiser!“ (“O Kaiser está morto. Viva o Kaiser!”; SPORT BILD, 2024).

Notas

1 Todas as traduções são de nossa autoria. No original:

Er hatte so eine Eleganz, er war nicht deutsch, er war mehr brasilianisch von der ganzen Ballbehandlung her (Karl-Heinz Rummenigge).

2 No original:

Die Spielpause in Stockholm mag nun die Gelegenheit bieten, für eine Weile vom Hauptweg der Schilderung abzuweichen und gleichsam auf eine „Zubringerstraße“ hinüberzuwechseln – auf den Entwicklungsweg der frühen Karriere von Franz Beckenbauer.

3 No original:

Als Franz Beckenbauer jr. auf die Welt kommt, liegt ein großer Teil von München in Schutt und Asche. Rings um die Klinik an der Richard-Wagner-Straße, in welcher der kleine Franz am 11. September 1945 geboren wird, bietet sich ein trostloses Bild der Verwüstung. Über freigeschaufelte Behelfswege, auf denen man Schienen verlegt hat, rumpeln Kipploren-Züge, und an mehreren unbebauten Stellen am Stadtrand türmen sich die Trümmermassen zu riesigen Halden auf.

4 No original:

[…] Ja, wenn man darüber spricht, warden diese Bilder lebendig. Aber es ist ja schon so lange her. Der Krieg war gerade zu Ende, das Land musse neu aufgebaut werden. Alles war zerstört, wir hatten nichts anderes als Fussball – es gab ja nichts. […]

5 No original:

Die Familie wohnt zu jener düsteren Nachkriegszeit im Alt-Münchner bürgerquartier Giesing, im Eckhaus Sankt-Bonifatius-Straße 2. Da es schon einen Sohn namens Walter gibt, Jahrgang 1941, muß der Vater nunmehr für vier Menschen sorgen – ein schwieriges Problem angesichts der geltenden „Zigaretten-Währung“. Obwohl am 25. September [1945] ein Gesetz zur Bekämpfung des Schwarzmarktes herauskommt, herrscht auf dem Gebiet der Lebensmittelversorgung ein unbeschreibbares Chaos. Die Mehrzahl der auf 560.000 Menschen angewachsenen Bevölkerung Münchens quält sich tagtäglich herum, um wenigstens aller Notwendigste herbeizuschaffen.

6 No original:

Die fraglichen Fußball-Skistiefel haben aber schon bald ihre Schuldigkeit getan: Bei einer Weihnachtsfeier des SC 1906 gehört Franzl zu den Gücklichen, die mit funkelnagelneuen Fußballschuhen beschenkt werden. Mit strahlendem Gesicht klettert er von der Bühne herab, auf der die Bescherung erfolgte, und preßt den Karton mit dem wunderbaren Inhalt fester an sich.

7 No original:

In diese Ära wächst nun der junge Franz Beckenbauer mit hinein. Anfangs, in der Schülermannschaft [des SC 1906], zumeist noch als Mittelstürmer eingesetzt, steht er in den Aufgeboten der „Bayern“-Jugend mal auf dieser, mal auf jener Position. Er spielt als Außenläufer, wiederholt als Halbstürmer, studiert auch die weniger dankbaren Partien des Rechts- oder Linksaußen und wird dann nach und nach auf die Rolle des Mittelläufers „hingebogen“.

8 No original:

[…] Franz hat voll Lampenfieber wie ein Debütant auf der Schauspielbühne, aber das Publikum merkt davon nichts. Die Leute am Spielfeldrand erleben einen dynamischen, schwungvoll agierenden Auβenläufer, der sich immer wieder durchsetzt – und der beim 2:1 gegen die jungen Eidgenossen auch beide deutschen Treffer erziehlt.

9 No original:

„Wir gratulieren Beckenbauer zu seinem ersten Länderspiel. Er kann noch weit mehr, als er in Stockholm zeigte, aber er brachte achtzig Prozent seiner Leistung. Wann je konnte das ein Debütant von sich behaupten? Beckenbauer ist die Zukunftsmusik des deutschen Fuβballs. Nichts von Lampenfieber. In der zweiten Halbzeit oft sogar von fast souveräner Gelassenheit. Spieler seines Könnens wachsen nicht erst in die Nationalelf, sie sind gleich mitten drin. Wie er sich in Zweikämpfen mit Finessen behauptet, würde einem alten Hasen alle Ehre machen.“

10 No original:

„Die tragenden Säulen des deutschen Spiels waren Uwe Seeler, der Läufer Franz Beckenbauer und der Verteidiger Karl-Heinz-Schnellinger.“

11 No original:

„Noch weiβ man noch nicht recht, welche Rolle in Zukunft spielen soll, die eines Stürmers ode reines Mittelfeldspielers. Als reiner Abwehrspieler (also schon internationale Klasse) ist er fast zu schade.“

12 No original:

Jeder Fuβballspieler der ersten Garnitur träumt davon, früher oder später einmal Schulter an Schulter mit den Besten des Kontinents oder gar in einer Welt-Auswahl der FIFA spielen zu dürfen. Und so nimmt unter den weiteren Aufgaben, die das Fuβballjahr 1968 noch an Franz Beckenbauer stellt, eine besondere ehrenvolle Nominierung den absoluten Spitzenrang ein: die Berufung in die FIFA-Auswahl, die am 06. November in Rio de Janeiro gegen das kampfstärkste Team der Brasilianer antritt.

13 No original:

Unser Münchner Freund – nach längerem Italien-Urlaub blendend erholt, mit den „Bayern“ im Bundesliga-Rennen überaus erfolgreich, zum zweiten Mal „Fuβballer des Jahres“ und inzwischen glücklicher Familienvater – wird in eine wahrlich „erlauchte“ Mannschaft eingereiht, in der auch Willi Schulz und auch Wolfgang Overath ihre Plätze auch haben.

14 No original:

Jaschin (Sowjetunion) – Novak (Ungarn), Marzolino (Argentinien), Beckenbauer (Deutschland), Schulz (Deutschland), Shesternew (Sowjetunion) – Amancio (Spanien), Szücs (Ungarn), Albert (Ungarn), Overath (Deutschland), Dzagic (Jugoslawien).

15 No original:

[…] In der zweiten Halbzeit steht Mazurkiewicz (Uruguay) anstelle von Jaschin im Tor, und im Feld übernimmt Perfumo (Argentinien) die Position von Szücs, Metreweli (Sowjetunion) die Rolle von Amancio; auβerdem spielt Rocha (Uruguay) für Albert und Farkas (Ungarn) für Dzajic.

16 No original:

Der Spielablauf ist mit wenigen Worten zu erklären: In der 2.Minute erzielt der offensive Linksläufer der Brasilianer, Rivelino, das 1:0, und eine halbe Stunde später kann die FIFA-Elf durch ein Tor des pfeilschnellen Ungarn Albert ausgleichen. Erst wenige Sekunden vor dem Abpfiff der Partie fällt die Entscheidung: Mittelstürmer Tostao schieβt den brasiliansichen Siegestreffer. Zufrieden mit dem 2:1, wandern die Volksmassen ab. Rio zollt Pele e Co. ein verdientes Lob.

17 No original:

[…] jener Herr, der in der 85. Spielminute mit kraftvollem 16-Meter-Flachschuβ Werders Torhüter Bernard bezwingen und damit auf das Endergebnis stellen kann, hört auf den Namen Franz Beckenbauer.

18 No original:

Ein bekanntes Reporter-Team berichtet am 30. März in launigem Ton von „Tag des offenen Tores“, und in fetten Lettern heiβt es unter anderem: „Die echte Attraktion des Spieles war ‘Götz von Berlichingen’, der Ritter mit der eisernen Faust. Über seine rechte Hand war ein schwarzer Fäustling gestülpt. Doch keine Bange, die Faust war nicht aus Eisen, sie war mit einem elastischen Verband und Schaumgummi abgesichert. Und der Franz spielte so, als sei überhaupt nichts gewesen. Frech, angriffslustig und in der Abwehr sicher und routiniert”.

19 No original:

[…] Zu „Kaiser Franz von Bayern“ erhob im Juni 1969, nachdem es mit dem ersten Titelgewinn geklappt hatte, die Bild-Zeitung ihren langjährigen Liebling Beckenbauer.

20 No original:

[…] Die Beförderung des Postbotenfilius zum Kaiser zwar schien einem Zufall geschuldet, doch wenn nicht gewisse andere Mächte einschritten, dann helfe uns Gott. „Genaugenommen war es ein Schnappschuβ in Wien“, klärte die Frankfurter Rundschau (8. Juni 1998) auf, „der Franz Beckenbauer ungewollt jenen majestätischen Titel bescherte, der ihn fortan begleitete. Bei einem Geistspiel mit den Münchner Bayern vor dreiβig Jahren wurde der Jungprofi darum gebeten, sich für die Fotografen im Stadtpark neben der Büste von Kaiser Franz Josef zu postieren – der Rest der Legendenbildung besorgten der Flachs seiner Kollegen und er selbst als genialer Libero.“

21 No original:

“Wir haben ein Freundschaftspiel in Wien, Sponsor war eine Versicherungsgesellschaft, ich glaube die Erste Allgemeine hieβ sie damals, und vor dem Spiel war ein Empfang, da stand in der Mitte eine Büste vom Kaiser Franz Joseph I. Und wir hatten damals, weil es nicht üblich war, die Mannschaft zu begleiten, es war ein Journalist dabei, der zugleich auch Photograph war, und er hat mich, weil es ihm langweilig wahrscheinlich war, er hat mich gebeten, mich neben diese Büste zu stellen, denn das Photo gibt’s, ich habe es sogar zu Hause, und dann hat er darauf gedrückt, und ja, in dem Moment war ich Kaiser Franz, so einfach geht es.”

22 No original:

„Später zementiert ein Foto, das überall erscheint, die Krönung zum Fuβball-Kaiser: Beckenbauer posiert neben einer Büste von Kaiser Franz Joseph an der Wiener Hofburg“.

23 No original:

Der Mann, der Franz Beckenbauer heiβt, hält nichts von den Superlativen, die man tagaus und tagein über ihn auschüttet. Ein Mensch mit Fehlern, wie wir alle sie haben, ein Fuβballer mit Fähigkeiten, die nur die wenigsten haben, geht er den vorbestimmten Weg weiter, mit einer ganz normalen guten Zuversicht im Bunde. Die drei vergnügten Buben, die drauβen in der Hofbrunnenstraβe zu München-Solln die Eltern „vollbeschäftigen“, garantieren dafür, daβ der Herr Papa noch lange Zeit in Schwung bleibt.

Referências

ARD. Beckenbauer – Der letzte Kaiser von Deutschland. Série. Parte 1/4: Vom Grischperl zum Kaiser. Alemanha, preto e branco/cor, 02 jan. 2024. Disponível em: https://www.ardaudiothek.de/episode/beckenbauer-der-letzte-kaiser-von-deutschland/vom-grischperl-zum-kaiser-1-4/br/13034141/. Acesso em: 22 jan. 2024.

BAUER, Richard. Fliegeralarm – Luftangriffe auf München von 1940 bis 1945. Hugendubel: München 1987.

FISCHER, Gerhard; ROTH, Jürgen. Kaiser Franz – Die schönen Stellen. In: FISCHER, Gerhard; ROTH, Jürgen (orgs.). Leben voller Fallrückzieher – Fuβballer erzählen – von Fritz Walter bis Lothar Matthäus. Leipzig: Reclam, 1998, p. 112-124.

NEUKIRCHNER, Manuel. „Dann habe ich mir den Libero erfunden“ – Interview mit Franz Beckenbauer. In: NEUKIRCHNER, Manuel (org.). Mehr als ein Spiel – Das uch zum Deutschen Fuβballmuseum. Dortmund: Klartext-Verlag, 2015, p. 214-219.

SPORT BILD. Franz Beckenbauer ist tot: Wie aus Franz der Kaiser wurde. Alemanha, preto e branco/cor, 09 jan. 2024. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qbp8LS6CFYo. Acesso em: 23. jan. 2024.

STOLPE, Daniel. Die Lichtgestalt. In: STOLPE, Daniel. 50 Jahre Bundesliga. Die Geschichte – Die Legenden – Die Bilder. Stuttgart: Paul Pietsch-Verlage, 2013, p. 88.

WINKLER, Hans-Jürgen. Franz Beckenbauer – Das deutsche Fußballwunder. München: Moewig Verlag, 1969.

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Elcio Loureiro Cornelsen

Membro Pesquisador do FULIA - Núcleo de Estudos sobre Futebol, Linguagem e Artes, da UFMG.

Como citar

CORNELSEN, Elcio Loureiro. Futebol na Literatura de Língua Alemã – Parte X: Quando Beckenbauer ainda não era o “Kaiser Franz”. Ludopédio, São Paulo, v. 176, n. 5, 2024.
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