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Futebol, política e poder: maior rival a ser vencido pelo Palmeiras atualmente está fora dos gramados

Gabriela Palombo 26 de setembro de 2023

Bastou um mês de desempenho a desejar no Brasileirão e na Copa do Brasil para que a disputa pelo poder no Palmeiras, em franca campanha antecipada vide que a eleição para presidente ocorrerá somente no final de 2024, transformasse a oposição à Leila Pereira na principal ameaça ao clube atualmente.

O Palmeiras sob a gestão de Leila Pereira bateu maior recorde de títulos de sua história em 2022, já conquistou dois no profissional masculino esse ano, Supercopa e Paulistão, reduziu de forma expressiva seu endividamento, inclusive com a Crefisa, aumentou significativamente a receita com a venda de jogadores da base, que sucedida pela bilheteria e contribuição de sócios torcedores, se tornaram as principais fontes de receita do clube, depois das verbas referentes ao direito de imagem pela transmissão dos jogos.

Maior torcida organizada do Palmeiras, a Mancha Alviverde, “carne e unha” com a “tia Leila”, como eles mesmos a apelidaram quando ainda estava em campanha na eleição que a elegeu presidente no final de 2021, se tornou oposição automaticamente após a CREFISA romper o patrocínio com a Escola de Samba Mancha Alviverde.

De lá pra cá, uma sucessão de vexames apontando erros e omissões da presidente, em total descompasso às conquistas do time dentro e fora de campo, virou rotina.

Interesses e desafios da oposição à Leila Pereira convergiram com os da Mancha Alviverde: como desqualificar o trabalho da presidente num contexto onde o time do Palmeiras acumulava sucessivas vitórias e conquistas de títulos? Era preciso sair do isolamento que o revanchismo escancarado os colocava, desacreditando assim as críticas da oposição e os protestos da torcida.

Leila Pereira
Fonte: Foto: Cesar Greco/Palmeiras/Fotos Públicas

Como defensora convicta da Democracia, embora desprezasse tal postura, jamais criticaria a liberdade e o direito de protestarem e criticarem. Sobretudo, porque ao ler comentários e repercussão dos reiterados fracassos nos protestos protagonizados pela Mancha Alviverde em redes sociais ou matérias da imprensa esportiva, a indignação e desdém da maioria absoluta dos torcedores ante as pataquadas me confortavam.

Evidente que como ser humana, Leila Pereira está sujeita e erros como qualquer mortal. O incômodo que me levou a escrever essas reflexões, especialmente porque a política está presente na minha vida pessoal e profissional, é por identificar mudanças no roteiro e no “modus operandi” da oposição à Leila, evidenciando uma disposição perigosa em sacrificar, inclusive, o próprio Palmeiras nessa disputa por poder e vingança.

Nuances que remetem às estratégias presentes nas duas últimas eleições presidenciais, valendo-se de métodos rasteiros, sujos, a exemplo da propagação de fakes news, terrorismo psicológico e perseguição pessoal dos adversários, trazendo para o ambiente dos bastidores do futebol o que emergiu de mais repulsivo na política nacional, inspirado no misto de milícia e fascismo herdeiras do bolsonarismo.

O whatsapp, principal rede utilizada para propagação de fake news, embora eficiente na disputa eleitoral dada a necessidade de fazer chegar informação com anonimato da autoria e fonte, neste universo ligado às disputas nos bastidores do futebol, contudo, não se configura na ferramenta adequada. As estratégias para alcançar o mesmo fim requerem uma dinâmica diferente.

Assim, portais e páginas “palmeirenses” criadas há certo tempo, porém com alcance de acesso pequenos, passaram a pipocar com frequência no feed de usuários ou serem notificadas pelo Google a cada atualização de conteúdo alcançando usuários que, assim como eu, não as conheciam.

A fórmula para que conteúdos alcancem maior número de usuários em redes como Instagram e Facebook, por exemplo, se dá com base no funcionamento do algoritmo, espécie de robô que identifica quais publicações devem ser entregues a mais ou menos pessoas. Sendo a lógica de avaliação desses robôs um tanto complexa, a maioria de nós nem percebe o porquê determinados conteúdos aparecem ou não em nossas redes. O mesmo vale para os anúncios que nos são exibidos ao abrir nova guia do Google.

Essas páginas e portais, embora não se identifiquem como veículos de imprensa, produzem conteúdos de caráter informativo, como a publicação de notícias e análises críticas similares ao realizado pelo jornalismo esportivo, mas sem a pretensa imparcialidade desta imprensa visto que seu conteúdo é dirigido ao público torcedor.

Factoides se definem como informações falsas, espúrias, sem provas, que passam a ser percebidas como verdadeiras em consequência de sua repetida divulgação pela imprensa, com objetivo de chamar atenção da opinião pública. Isentas da conduta ética que deve nortear o trabalho jornalístico, a publicação de factoides representa um padrão no perfil dos conteúdos gerados por estes portais e páginas, que não são imprensa, mas se comportam como tal.

A publicação de factoides diários por estes canais, trazendo notícias seguidas de afirmações alarmistas como “crise no Palmeiras”, “divisão nos bastidores” e “Leila inimiga”, fortaleceram uma narrativa, até então restrita aos opositores de Leila Pereira, como se tratasse de uma percepção geral da torcida palmeirense. A manipulação da informação é muito semelhante à propagação das fake news viralizadas nas eleições, a diferença nesse contexto é que ao invés de se esconderem no anonimato dos compartilhamentos via whatsapp, se disfarçam de torcedores indignados via páginas e portais de notícias.

Acusações e críticas antes isoladas devido ao descrédito de seus autores, passaram a ser reproduzidas por canais de notícias induzindo o torcedor a percebê-las como um sentimento crescente, autêntico e legítimo em defesa de um Palmeiras cada vez mais ameaçado pela gestão de Leila Pereira.

Para sustentar as críticas e os protestos enquanto o Palmeiras se mostrava praticamente imbatível dentro dos gramados, torcida e oposição descolavam o técnico Abel Ferreira da presidente Leila. Os méritos de um trabalho de longo prazo e planejamento coletivo eram personalizados na figura de Abel, desvinculando assim a presidente de qualquer mérito pelas sucessivas vitórias e conquistas acumuladas pelo time durante sua gestão.

A ginástica para dar força aos interesses pautados pela ganância, pelo revanchismo e sede de poder demandou investimento na estratégia de pulverizar o discurso de oposição e tentar identificá-lo como um sentimento real dos torcedores do Palmeiras. Num contexto onde o time acumulava resultados excepcionais, foi preciso também muita ginástica para tentar apagar os méritos do trabalho realizado por Leila Pereira enquanto presidente do Palmeiras nessa fase gloriosa. Por mais que a oposição se organizasse e profissionalizasse, o desempenho do Palmeiras em campo não “ajudava” no convencimento de que a gestão de Leila estaria levando o clube a uma catástrofe.

Então, o Palmeiras sofreu um revés amargando derrotas e empates por um breve período de tempo. E a nossa dor se transformou na oportunidade perfeita para legitimar sucessivas previsões catastróficas, até então, de pouco efeito, em “preocupação genuína”.  Finalmente um gancho para corroborar o que a oposição vinha “alertando” há tempos: Leila Pereira é incompetente, comprou avião ao invés de reforçar o time, está afundando o Palmeiras em dívidas e levará o clube ao desastre.

Os portais e páginas de notícias do “torcedor palmeirense” passaram a entoar música de uma nota só: a má fase é culpa de Leila Pereira, a presidente é nossa maior inimiga. Assim como descolaram Leila de Abel quanto aos méritos das conquistas, assim o fizeram ao descolar Abel de qualquer responsabilidade ou falha ante as derrotas.

Não me lembro de uma única publicação criticando ou questionando o trabalho do técnico do time, regra geral, o primeiro a ser criticado pelos torcedores quando um time não vai bem. Nunca vi torcida de qualquer outro time que esteja passando ou tenha passado por má fase poupar o técnico de alguma crítica. Só o “torcedor” do Palmeiras sob a gestão de Leila Pereira.

A estúpida expressão “avião não ganha títulos” foi sistematicamente defendida em protestos da Mancha Alviverde, distorcendo um fato que gerou grande repercussão positiva à Leila como exemplo de gestão irresponsável, perdulária. Ninguém além deles criticava, pois é de conhecimento público que o avião foi adquirido com patrimônio privado de Leila, listada pela revista Forbes como a quinta mulher mais rica do Brasil. Nenhum centavo do Palmeiras foi gasto nessa aquisição.

Eis que então, as ditas páginas de torcedores passaram a reproduzir o mesmo discurso, reforçando por meio de factoides a “incompetência” de Leila como presidente do clube.

À exemplo das fake news propagadas maciçamente na disputa eleitoral com afirmações bizarras de que o Brasil se tornaria uma Venezuela, haveria liberação das drogas, fechamento de igrejas, entre tantas outras aberrações que buscavam incutir um sentimento de terror e pânico na população, a ampliação do alcance dessas páginas ao propagar sistematicamente a ideia de crise no clube atribuindo toda responsabilidade à Leila Pereira funciona da mesma forma: promover terrorismo psicológico entre torcedores, gerar instabilidade na administração do clube e fragilizar a figura da presidente ante a opinião pública.

As reflexões que trago nesse texto e que até então despertavam apenas desconfiança, se confirmaram após publicação de um vídeo na página “Porco Net” no Facebook, horas antes da goleada sobre o América MG, com o seguinte conteúdo: “tia Leila tá lá em Nova Iorque, aí a torcida do Palmeiras ‘simplesmente’ mandou mensagem para ela na Times Square”.

Print de um vídeo
Fonte: reprodução facebook

A perseguição a ministros do STF em agendas oficiais internacionais ou em viagens particulares era e continua sendo prática comum entre bolsonaristas. Recentemente, agrediram o filho do ministro Alexandre de Moraes num aeroporto em Roma. Esse nível de perseguição pessoal à Leila Pereira no exterior, além de evidenciar outro método espúrio herdado dos bolsonaristas, evidencia também fator intrigante: quem está pagando as estruturas dessa farsa?

Quem custeou a viagem e o anúncio, feitos pela torcida que até dias atrás protestava com faixas de tecido maltrapilho pichadas com spray, num dos telões da rua mais famosa de Nova Iorque? Quem está financiando os mecanismos para que páginas de torcedores palmeirenses produzam conteúdos ampliando seu alcance vertiginosamente em curto período de tempo?

Seja como for, a Mancha Alviverde e cartolas opositores de Leila Pereira mudaram o patamar da disputa, saindo do campo democrático, legítimo e de direito, para o campo perigoso da política golpista. Não se trata mais de futebol. Se trata de poder. Apenas de poder.

O breve período de baixo desempenho do time serviu como trampolim aos oportunistas. Comportaram-se como moscas saboreando a carniça. Porque somente o fracasso do Palmeiras pode levar esse tipo de oposição calcada no “quanto pior, melhor” a obter algum êxito.

Antes a oposição à Leila se desse de forma qualificada. Reconhecendo avanços e méritos onde acertou, propondo alternativas concretas para corrigir onde falhou. Porque é possível melhorar sempre, em todos os aspectos da vida, incluindo na administração de um clube de futebol.

Mas ao optar pelo caminho destrutivo, da política rasteira e suja, somente um contexto de derrotas e decepções no Palmeiras pode favorecer quem aposta nesse cenário como argumento para se provar melhor do que Leila Pereira. Eles não precisam provar serem melhores, basta que ela fracasse. E a única forma de carimbar fracasso na testa de Leila de acordo com esse jogo, é o Palmeiras fracassar junto.

É verdade que o Palmeiras não contratou reforços nessa segunda janela. Assim como também é verdade que a própria manutenção do atual elenco reflete em si grande compromisso pela competitividade do Palmeiras no Brasileirão e Libertadores. A brevidade na carreira de um jogador de futebol, dentro de mercado tão competitivo e desigual, simboliza de forma contundente que a permanência do nosso comandante Abel Ferreira e de nosso capitão, Gustavo Gómez, exigiram de Leila muito trabalho para evitar desfalque no elenco.

Ambos receberam investidas com propostas salariais astronômicas do Al Nassr e Al Hilal. Se a questão fosse apenas dinheiro, o Palmeiras nãos seria capaz de segurar, assim como o Corinthians não conseguiu segurar Róger Guedes, principal jogador do time, para o Al-Rayyan, do Catar. Que prova maior de estabilidade e credibilidade no Palmeiras sob o comando de Leila poderia ser dada para justificar a recusa de ambos? É tão compreensível a decisão de Róger Guedes em partir, assim como a decisão de Abel e Goméz em ficar.

Aqui, só um exemplo do quanto o financiamento do “protesto” da Mancha Alviverde, que se apequenou ao papel de marionete da oposição, perseguindo Leila Pereira numa viagem internacional com objetivo de constrangê-la ao “cobrar reforços” num telão na Times Square, longe de ajudar o time, cumpriu apenas o papel de confirmar que a oposição à Leila é hoje a maior interessada no fracasso do Palmeiras. Nenhum rival se beneficiaria tanto da nossa derrocada quanto esses que vestem verde e entoam nosso hino.

Considerando estar evidente que a falta de propostas e de um projeto para o fortalecimento do Palmeiras não importa a estes que já atuam por trás das cortinas com intuito de disputar a presidência do clube na próxima eleição, desmascará-los e evitar que triunfem implica não só impedir o retrocesso de práticas administrativas na gestão do clube, mas também, não ser conivente com os canalhas cuja ganância já se mostra muito superior a qualquer compromisso com o Palmeiras.

Para nossa sorte Leila Pereira é craque nos bastidores, campo onde a disputa suja ganha força. Impedir que os ratos invadam o chiqueiro significa defender o sucesso do Palmeiras sob o comando dela. Pois só nossa derrota pode levar ao triunfo dos desonestos empenhados em ocupar seu lugar. Não se trata mais de Leila Pereira apenas, se trata de nosso presente e futuro!

Avante, Palestra!

Avante, Leila Pereira!

Avante, Democracia!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Como citar

PALOMBO, Gabriela. Futebol, política e poder: maior rival a ser vencido pelo Palmeiras atualmente está fora dos gramados. Ludopédio, São Paulo, v. 171, n. 26, 2023.
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