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La Masia 40 anos: de Can Planes para o Mundo, Parte I

Daniel Vinicius Ferreira 13 de agosto de 2019

Recentemente, o FC Barcelona lançou suas duas novas camisas para a próxima temporada (2019/2020). O primeiro uniforme trouxe as tradicionais cores azul-grená, mas incorporou um design em xadrez, uma homenagem à cidade de Barcelona e aos talentos locais, remetendo também aos blocos característicos de Eixample: o bairro tradicional de Barcelona, rico em obras arquitetônicas do consagrado artista Antoni Gaudí (MUNDO DEPORTIVO, 2019). Já o uniforme 2 traz a cor amarela como principal na camisa, relembrando um modelo lançado ainda em meados da década de 1970, época em que Johan Cruyff tinha sido recém contratado pelos barcelonistas. Na verdade, o clube usou alguns modelos de camisas nos últimos anos com o amarelo como a cor principal, mas não era o mesmo tom e design deste homenageado pela camisa 2 (VIÑAS, 2019). 

Camisas do Barcelona de distintas épocas. Foto: Reprodução/Viñas (2019); Mundo Deportivo (2019).

O lançamento do uniforme 2 (amarelo) foi apresentado, portanto, como um revival daquele modelo, mas sobretudo em homenagem aos 40 anos de La Masia, fundada em 1979. E é sobre os 40 anos de La Masia (que fará aniversário em outubro) que vamos tratar em um artigo divididos em duas partes, aqui no Ludopédio.

La Masia é o “termo” como ficaria conhecida as categorias de base do FC Barcelona, mas se refere tanto ao casarão onde se situava  as categorias formativas do clube (até 2011, em um local quase que conjugado/atrás do estádio Camp Nou), bem como a toda estrutura e filosofia que passaram a representá-las. Abaixo o vídeo de lançamento da samarreta groc (camiseta amarela), e a alusão como homenagem aos 40 anos de La Masia:

https://www.youtube.com/watch?v=VoaBpGR4k_I

Nesta primeira parte abordaremos sobre: como surgiu o edifício de La Masia e a simbologia do casarão no universo cultural barcelonista e catalão; a ascensão e os princípios formativos do que se consolidou como “filosofia La Masia”, com Laureano Ruiz, Johan Cruyff e Pep Guardiola; e, finalmente, abordaremos sobre a mudança do local (em Barcelona) onde ficava a sede de La Masia, tal como à sofisticação da academia do clube blaugrana.

Um pouco da História do Casarão: La Masia de Can Planes 

O mítico edifício, onde estabeleceu-se La Masia (em outubro de 1979), era um imóvel que fazia parte do conjunto dos terrenos adquiridos para construção do Estádio Camp Nou (próximo às cercanias do bairro Les Corts) ainda em 1950, e serviu depois como sede/escritório dos arquitetos e engenheiros para construção do novo campo (inaugurado em 1957). O imóvel foi estabelecido como sede social/administrativa do clube em 1966, na gestão de Enric Llaudet (1961-1968). Foi ali, entre outros momentos, que Johan Cruyff assinou seu contrato com o Barça e foi apresentado a imprensa, como reforço do clube em 1973 (causando grande expectativa na massa culé). Em fins de 1970, o espaço se demonstrava pequeno para continuar a abrigar a administração e foi então desocupado, oferecendo a oportunidade para servir como abrigo para jovens atletas em formação.

Vista aérea e terrestre do Casarão La Masia. Foto: Reprodução.

Foi então, nos inícios da gestão de Josep Lluís Núñez (1978-2000), que o edifício passou a servir para atender as categorias de base. Seu propósito inicial era basicamente acomodar (e evitar a “dispersão” de alguns jogadores mais novos pela “cidade grande”), fortalecer as estruturas do clube (formar jogadores) e dar uma formação profissional (fora do futebol) aos atletas das categorias formativas, já que a maioria deles (pelas estatísticas) ou não se firmava como atleta de ponta, ou mesmo (depois da carreira) podiam enfrentar dificuldades, como a falta de emprego e a marginalidade social. Mas não havia, ainda, o que se consagraria depois como a “filosofia La Masia“.

A partir de 1979, portanto, seriam 12 jovens atletas abrigados na La Masia de Can Planes, com mais 48 (os mais velhos) sendo hospedados em quartos atrás de uma das arquibancadas no próprio estádio Camp Nou (PERARNAU, 2011; TORRES, 2019). Ao longo dos anos (com o aumento de jogadores dentro da academia barcelonista), eles seriam alocados também em apartamentos pela cidade. Porém, até 1996 o clube trabalharia apenas com jogadores maiores de 16 anos (um dos primeiros a inaugurar a “redução” dessa idade seria Andrés Iniesta, que chegou a La Masia com 12 anos).

O Casarão de La Masia. Foto: Wikipedia.

Duch (2004) destaca que La Masia passaria a simbolizar, para os barcelonistas catalães, as raízes da catalanidade: pela arquitetura nostálgica daquele casarão de 1702 (própria do mundo rural catalão), um lugar de tradição, da família, onde se vivenciaria a catalanidade “profunda e autêntica”, onde os atletas seriam “cultivados” e viriam metaforicamente da “terra”, para se transformarem em mitos e heróis na equipe principal. Inclusive, construiu-se ali uma escultura do “L´Avi”: o mascote “Avô” do Barça, que faz parte de todo esse universo simbólico.

Vale destacar, ainda nessa direção, que “Masia” ou “Casa Pairal” era a denominação dada a um tipo de casarão muito comum na Catalunya Vella (Velha Catalunha, da época medieval), sendo caracterizado como um edifício situado no meio de uma grande fazenda, e que representava uma unidade autossuficiente base da sociedade rural catalã. Neste tipo de casa viviam, tradicionalmente, geralmente três gerações (ou mais) de uma mesma família, liderada por um patriarca cujo patrimônio refletia a prática cultural do l´hereu (transmissão da herança ao filho mais velho, que deveria perpetuar àquela linhagem e aumentar o patrimônio da família). Portanto, ao lado da Senyera (bandeira da Catalunha) e da Creu de Sant Jordi (cruz de São Jorge, no Brasil), La Masia estaria também entre alguns dos símbolos fortes do catalanismo no interior do universo do FC Barcelona, e que permanecem até os dias atuais.

Ruiz, Cruyff e Guardiola e a ascensão “filosofía La Masia”: jogo bonito, coletivo e de toque de bola

A “filosofia La Masia” seria construída ao longo dos anos. Perarnau (2011) afirma que nessa trajetória três nomes seriam fundamentais: Laurentino Ruiz (década de 1970, que “plantou” o modelo), Johan Cruyff (a partir de 1988, que efetivamente consolidou uma ideia) e Pep Guardiola (que desde 2008 sofisticara e otimizara a filosofia). Outros nomes, entretanto, seriam também muito comprometidos com a ideia e importantes na evolução da academia: Louis Van Gaal (técnico controverso entre os blaugranas), que revelou Xavi e Puyol, dois grandes símbolos do barcelonismo catalão e ícones de La Masia; também Carles Rexach, Frank Rijkaard e Oriol Tort, o coordenador de futebol da instituição durante 19 anos (1980-1999), e que participou diretamente da revelação de alguns atletas consagrados pelo clube, no período. Vale destacar, ainda, as figuras de Guillermo Amor, Albert Puig, Frán Sanchez, Carles Folguera, Andoni Zubizarreta (entre outros) que participariam, ao longo dos anos, na gestão e desenvolvimento do “sistema” da famosa base barcelonista.

Laurentino Ruiz (treinador das categorias de base na década de 1970, ainda antes de surgir o edifício La Masia) é considerado o “semeador” do modelo porque quando iniciou seus trabalhos no clube, passou a priorizar jogadores habilidosos ao invés de jogadores fisicamente mais desenvolvidos, como seria a tradição na Catalunha e no próprio futebol espanhol, cuja identidade consagrou (historicamente inclusive) o simbolismo de “Fúria” (a Furia Roja). Outra inovação de Ruiz seria tentar padronizar um mesmo modelo de jogo para todos os níveis das categorias de base. Vale ressaltar, ainda, que também por essa época (boa parte da década de 1970) o FC Barcelona era comandado por Rinus Michels, tinha em seu plantel Johan Cruyff e Johan Neeskens, e se orientava pelo “futebol total” de matriz holandesa.

As medidas de Laurentino não se consolidariam ainda, mas já dariam os subsídios para a efetiva implementação do modelo (filosofia La Masia) com Cruyff como técnico (em 1988). Cruyff, que trazia o modelo formativo da categorias de base do Ajax (que tinha já uma tradição consolidada, e permanece referência também nos dias atuais), tinha como princípio o jogo baseado na habilidade, na coletividade e a ideia da universalização do mesmo modelo a todos os níveis das equipes da base (PERARNAU, 2011). Dessa forma, quando o holandês ascendeu como técnico da equipe barcelonista, em fins dos 80, demarcou a ascensão efetiva de um estilo de jogo inovador, mas que já tinha uma base constituída. 

Com matéria prima já disponível, Cruyff promoveria, então, um modelo de jogo demarcado pelos “3 ‘P’s”: posse de bola, pressão e posição. Este modelo também poderia ser referenciado como o do  “toque de bola”, pelo seu controle e posse; pelo uso do goleiro como um armador de jogadas e dos atacantes como alas; pela ofensividade e habilidade, servindo-se (para tal) de alguns jogadores que vinham das categorias de base, como Pep Guardiola, por exemplo (que chegara em La Masia, em 1984). Isto, em contraste com uma tradição (ainda) na Espanha de um futebol mais físico. Este estilo, ao longo dos anos, se entrelaçaria com o catalanismo (e com o catalanismo cosmopolita, a partir da era Laporta, entre  2003-2010), prezando-se o jogo bonito, democrático e coletivo, como uma obra de arte, tal como se relacionaria com valores éticos formativos (como demonstraremos).

Seria também a partir de Cruyff que a figura do “camisa 4” no FC Barcelona seria mitificada como a grande marca do estilo Barça, consolidando a tática “3-4-3” proposta ainda por Laureano Ruiz. Entre 1988-1996, seria Pep Guardiola que passaria a jogar com aquela camisa/função, sobretudo na equipe que ficaria conhecida como dream team, uma equipe vencedora que conquistaria quatro Ligas seguidas e inclusive a primeira Copa dos Campeões da Europa (depois denominada UEFA Champions League) do clube. Mais tarde, após algumas transformações no estilo Barça, promover-se-ia a figura do “camisa 6” (cujo grande símbolo seria Xavi), que na verdade seria o “camisa 4” modificado (PERARNAU, 2011).

O gandula Guardiola aplaude Migueli e Terry Venables (técnico) depois de uma virada do Barça em 1986 (esquerda); Johan Cruyff e Pep Guardiola, na época do “dream team” (centro); o “canterano” Guardiola era o porta-voz das equipes juvenis do clube e discursava, frequentemente, em público (direita). Foto: Reprodução/Life and Style (2017); AS (2018).

Em 2008, Pep Guardiola ascenderia como técnico na equipe barcelonista. Naquele momento (o clube vinha de duas temporadas percebidas como ruins), a figura de Guardiola representaria (em uma parceria com Cruyff) a missão de recuperar o jogo “bonito” e coletivo que seria tradicional no clube. Vale lembrar que Guardiola também havia, ele mesmo, sido formado na própria La Masia como jogador, época em que seria promovido por Cruyff e um dos ícones do “dream team“. Depois, se formaria como técnico na base barcelonista (Luís Enrique, ex-jogador, também formou-se como técnico na academia blaugrana), sendo multicampeão como o “Míster” do “Barça B”. A partir da sua entrada no comando da equipe principal catalã, Pep demarcaria não apenas o que seria o reforço da filosofia La Masia, mas a sua própria sofisticação. O período do treinador à frente da equipe se verá, inclusive, uma maior inflexão na utilização de jogadores vindos das categorias inferiores (apresentaremos os gráficos na segunda parte deste texto), que atingiria o ápice (e logo depois um declínio) brevemente após a sua saída, já com o técnico Tito Vilanova (também vindo da base e companheiro de Pep).

Guardiola ficaria notabilizado pelo trabalho intenso em busca das vitórias (desde o Barcelona B), com auxílio de scouters como Domènec Torrent e Alex Garcia, representando uma nova geração de treinadores que provocaria uma grande ruptura e inovação na própria história do futebol (em termos táticos), demarcado pelo estudo profundo do jogo, pelo uso de novas tecnologias, relatórios detalhados e complexos a  partir de sofisticados relatórios de análises de desempenho dos atletas (MUNDO DEPORTIVO, 2013), da performance técnica e tática, à psicológica. Guardiola ficaria, também, conhecido mundialmente pelo “rótulo” tiki-taka (termo, aliás, que o próprio Guardiola não gosta). Vale lembrar que a Espanha de 2010 e a Alemanha de 2014, seleções campeãs das Copas do Mundo 2010 e 2014 (respectivamente), tinham como base equipes treinadas por Guardiola, cuja filosofia tática prezava o toque de bola: o FC Barcelona e o Bayern de Munich.

Imagem localizada na entrada de La Masía onde Josep Mussons aparece junto com os canteranos Guillermo Amor, Albert Ferrer e Josep Guardiola, ao pé diz: “Con esfuerzo y sacrificio, también podrás llegar. Hazlo, vale la pena”. Foto: Wikipedia.

Foi também após Guardiola que o clube consagrou o estilo de jogo (cuja matéria prima era a filosofia La Masia) como parte do seu simbolismo identitário, adotando oficialmente os motes esforço, ambição, respeito, trabalho em equipe e humildade, como a própria declaração de valores do FC Barcelona e da sua identidade corporativa. Isto aconteceu, mais especificamente em outubro de 2012, em um projeto do clube (‘Barçakids’) que procurava reforçar a imagem do clube entre as crianças e estudantes, com a parceria da Generalitat e da Unicef (MUNDO DEPORTIVO, 2012). Perarnau (2011) chega a afirmar que se constitui um estilo de jogo tão próprio, em termos filosófico no FC Barcelona, dos infantis ao profissionais, que poderia ser entendido mesmo como um idioma: o idioma Barça.

Em abril de 2014, uma notícia vinda da FIFA preocuparia os entusiastas de La Masia e todo o seu simbolismo. O FC Barcelona havia sido denunciado pela entidade máxima do futebol, pela contratação de 10 jogadores menores de 18 anos, sendo multado e ameaçado de não poder contratar jogadores no prazo de um ano (MUNDO DEPORTIVO, 2014). Dias depois, a diretiva e a torcida do clube reagiriam, com Josep Bartomeu (presidente) declarando que o clube continuava com sua política de formação de atletas, e a torcida exibindo um imenso “bandeirão” com a frase “La Masia no es toca” (Em La Masia não se mexe), antes de uma partida. O clube, entretanto, teve que devolver algumas promessas (como o japonês Takefusa Kubo) para não sofrer sanções.

Baideirão da torcida e valores do clube. Fonte: Mundo Deportivo (2019); Acervo do Autor (2018).

A sofisticação da estrutura e La Masia 360 

Em 2011, La Masia de Can Planes se “mudaria” para o novo centro de treinamentos do FC Barcelona (Ciutat Esportiva Joan Gamper), que fora inaugurado ainda em 2006 na cidade Sant Joan Despí, vizinha à cidade de Barcelona. A “nova” La Masia seria batizada com o nome de “Centre de Formació Oriol Tort”:

Sede de La Masia a partir de 2011. Foto: Reprodução/Revista Barça (2011).

Esta estrutura teria 6 mil m2, com cinco andares e buscaria manter o espírito “família” da La Masia de Can Planes. O complexo teria, ainda, a possibilidade de alojar 83 atletas, contando com quartos individuais e coletivos, biblioteca, sala de jogos, estudos, cozinha e outros espaços comuns para os atletas (já havia algo assim na antiga La Masia, mas menos sofisticado). Entretanto, uma parte dos andares e instalações tem funcionado como escritórios para gestão do próprio complexo La Masia, ao invés de promover outros serviços (piscinas, academia, sala audiovisual) ou  abrigar a equipe profissional (como era o projeto inicial), esta que continuou sendo hospedada em hotéis por ocasião da concentração pré jogo (TORRES, 2019).

Perarnau conta que, em  2010/2011, as categorias de base do clube possuiriam 252 futebolistas (80 moravam em La Masia, e outros – mais velhos – em apartamentos em Barcelona), cuja idade seria entre 7 anos até 26, formando um total de 15 equipes entre o time Prebenjamin e a Equipe Principal: assim havia a Equipe principal, Barça B, Juvenil A, Juvenil B, Cadete A, Cadete B, Infantil A, Infantil B, Alevin A, Alevin B, Alevin C, Alevin D, Benjamin A, Benjamin B, Benjamin C, Benjamin D e o Prebenjamin. Também nessa época, o clube contava com 28 treinadores da base, que passariam a ter contratos profissionais de jornada inteira, já com a gestão Rosell (2010-2014). Além deles, a estrutura comportaria também três coordenadores e quatro técnicos especialistas em goleiros (PERARNAU, 2011).

Em 2016, na gestão Josep Luis Bartomeu (2015- presente), o clube estendeu a estrutura de La Masia para os esportes basquete, handebol, futsal e hóquei sobre patins, além do futebol feminino (mas nenhuma esportista feminina foi abrigada em La Masia, até o presente). Nessas mudanças, o clube promoveu 4 âmbitos de suporte aos jovens jogadores (buscando melhor formação no âmbito esportivo, e com mais ênfase nos âmbitos acadêmico e pessoal), com especialistas para tutoria dos atletas, para questões psicológicas, educação emocional e acadêmica. Além disso, La Masia passaria a promover a formação de treinadores, levar os novos jogadores a conhecer a história e valores do clube, tal como fomentar as ações sociais a partir de jogadores pertencentes ao sistema, o que viria a ser chamado de La Masia Solidaria (TORRES, 2019). Este grande projeto passou a chamar-se Masia 360 (RAUPP, 2016). Em 2019, o Masia 360 comportava um total de 634 desportistas com 74 residentes, sendo 48 do futebol, 14 do basquete, 5  do handebol, 4 de futebol de salão, e 3 do hóquei de patins (número de alojamentos fixos para cada esportes, independente se apareciam atletas mais promissores em um, do que em outro). Neste momento, o futebol contaria já com 20 equipes (que reuniriam cerca de 350 atletas), e mesmo os que não residiam no complexo utilizavam os serviços de La Masia. Fariam parte da estrutura, ainda em 2019, 64 treinadores profissionais (135 amadores), 16 tutores, 2 psicólogos clínicos e 3 psicólogos esportivos (MUÑOZ, 2019).

A nova La Masia: Centre de Formació Oriol Tort a la Ciutat Esportiva Joan Gamper del FC Barcelona. Foto: Wikipedia.

Torres (2019), entretanto, em uma leitura crítica (em 2019), afirmaria que a nova estrutura, cujo ideal inicial era abrigar somente atletas promissores, passou a alojar muitos atletas cedidos ou jogadores suplentes, e havia outros problemas como a qualidade nutritiva da alimentação dos jovens atletas, pior desde que o clube terceirizou a “cozinha”, ainda em 2011. Além disso, houve certo relaxamento com as punições e cobrança de responsabilidades aos atletas com comportamentos desviantes. Outros problemas seriam os novos profissionais de suporte à estrutura em dissonância com a “filosofia La Masia”, tal como de falhas com o projeto de tutoria aos atletas. 

Por hoje ficamos por aqui. Na segunda parte deste texto, aqui no Ludopédio, vamos falar sobre o processo seletivo ou a “meritocracia“ em La Masia e o compromisso de formação humana, que se desenvolve (ao longo dos anos) na academia. Também, vamos abordar sobre os craques barcelonistas “roubados” das suas categorias de base por outros clubes, além de apresentarmos os gráficos de composições sociais de atletas das equipes do FC Barcelona, desde a década de 1970, para analisar o impacto de La Masia na história do clube. Até a próxima!

Novo Centro de Treinamentos do barça, desde 2006. Ciutat Esportiva Joan Gamper. Foto: Wikipedia.

Referências

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Nota

Agradecimentos especiais ao Victor de Leonardo Figols pela contribuição com o texto.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Daniel Vinicius Ferreira

Doutor em História pela Universidade Federal do Paraná e Universitat Autònoma de Barcelona (doutorado sanduíche). Estuda a questão das identidades, pertencimentos e a globalização do futebol.

Como citar

FERREIRA, Daniel Vinicius. La Masia 40 anos: de Can Planes para o Mundo, Parte I. Ludopédio, São Paulo, v. 122, n. 14, 2019.
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