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Maier e Zoff, lendas da meta

Lúcia Oliveira Universidade do Esporte 28 de fevereiro de 2021
Goleiro
Foto: Pixabay

Amado por muitos e odiado por tantos outros, esse é basicamente o lema que os goleiros vivem ao longo de suas carreiras. Em muitas situações, qualquer jogador de outra posição pode errar, mas não o arqueiro. Reflexo, posicionamento, coragem, responsabilidade e personalidade são características que se apresentam como o mínimo que todo torcedor espera que aquele que defende o gol do seu time do coração ofereça, sem brechas para erros.

Nesse 28 de janeiro, dois lendários nomes que ocuparam essa posição tão forte e ao mesmo tempo tão mal vista comemoram mais um ano de vida. Sepp Maier e Dino Zoff marcaram época enquanto calçaram suas luvas e fizeram história no futebol.

Josef Dieter Maier, ou simplesmente Sepp Maier, nasceu em 28 de fevereiro de 1944 e é considerado um dos precursores do desenvolvimento da posição de goleiro na Alemanha. No entanto, até se consagrar como um grande arqueiro, foi atacante, enquanto atuou nas categorias de base e também sonhou com uma carreira no tênis. Após completar 15 anos, precisou calçar luvas, depois que o goleiro de seu time quebrou o braço. Daquele dia em diante, convenceu-se de que seu lugar era embaixo das traves.

Sepp Maier, o Anjo Irônico, e ao seu lado, Gerd Müller
Sepp Maier, o Anjo Irônico, e ao seu lado, Gerd Müller. Foto: Wikipédia

A grande história de Maier no Bayern de Munique começa em 1959 na base do clube alemão. A ida ao futebol profissional ocorreu em 65, quando sua fama já tinha lhe concedido o apelido de Die Katze, o gato, devido a sua grande elasticidade e ao seu reflexo.

O primeiro título como profissional veio na temporada 65/66, quando conquistou a Copa da Alemanha e graças a isso, a equipe garantiu vaga na Recopa Europeia. Nessa competição, a partir das quartas de final, Sepp levou apenas dois gols e confirmou mais um título para o Bayern. Além disso, o Anjo Irônico – como também ficou conhecido por seu senso de humor fora de campo e por sua semelhança física com a tradicional representação de um ser celestial – marcou presença no elenco alemão da Copa do Mundo de 66, mas não chegou a jogar.

A habilidade do arqueiro foi se aprimorando e o sucesso na defesa do Die Roten se tornou crescente. Em 69, quebrou o longo jejum de 37 anos sem títulos da Bundesliga e ajudou o Bayern a erguer a taça da competição – fato que ocorreu também em 72, 73 e 74 -. No ano seguinte, começou a fazer suas primeiras defesas na seleção.

Na Copa de 70, Maier assumiu, pela primeira vez, a titularidade da meta alemã. Com uma boa campanha, a Alemanha chegou à semifinal da disputa, mas foi batida pela Itália, por 4 a 3, e ficou apenas com o terceiro lugar, depois de vencer o Uruguai, por 1 a 0. Dois anos depois, sua primeira conquista com a seleção foi marcada por uma atuação espetacular: diante da União Soviética, Sepp literalmente fechou o gol e ajudou a Alemanha a sagrar-se campeã da Eurocopa.

Maier e a taça da Copa do Mundo de 1974
Maier e a taça da Copa do Mundo de 1974. Foto: Wikipédia

Em 74, além do tricampeonato consecutivo na Bundesliga e do título na Recopa, veio a primeira Champions League, diante do Atlético de Madrid, com uma atuação impecável de Maier. Já visto e aclamado como herói nacional, também elevou a Alemanha a um patamar grandioso e beijou a taça de campeão mundial daquele ano, depois que suas defesas decisivas entraram para a história da seleção. Depois disso, ainda comemorou mais duas Ligas dos Campeões (75 e 76) e um Mundial Interclubes (76), contra o Cruzeiro, confronto marcado pela sua humildade, quando emprestou material adequado ao grande goleiro cruzeirense, Raúl Plasma, que não tinha as luvas necessárias para jogar no frio da Europa.

A carreira do Anjo Irônico desacelerou em 79, quando um acidente de carro, infelizmente, lhe rendeu inúmeras lesões e não permitiu que o gato voltasse a campo com a mesma qualidade de antes. Ao ex-arqueiro, o destino preparou uma nova carreira: a de preparador de goleiros. Entre 88 e 2004, atuou nesse cargo na Seleção da Alemanha e de 94 a 2008, no Bayern.

Não muito longe das terras alemãs, um outro nome também brilhava como goleiro. Dino Zoff nasceu em 28 de janeiro de 1946, e até hoje é tido como um dos melhores goleiros que o futebol já conheceu. Porém, o caminho até essa glória não fora fácil. Apenas aos 15 anos, Zoff conseguiu se dedicar ao futebol tanto quanto gostaria, ao invés de seguir o rumo do pai como mecânico.

Dino Zoff, ou SuperDino
Dino Zoff, ou SuperDino. Foto: Wikipédia

Nas categorias de base do Marinese, pequeno time da cidade italiana Mariano Del Friuli, o jovem viu uma oportunidade de ser notado. Apesar de nunca ter recebido um retorno de olheiros como Giuseppe Meazza e Renato Cesarini, o garoto persistiu e ganhou um voto de confiança de Comuzzi, que o levou para a Udinese, em 1961. A partir dali, sua carreira emplacou. Zoff só tinha 19 anos quando estreou pelo novo clube italiano, e diferente de Sepp Maier, ele sempre quis ser arqueiro.

Naquele jogo, a Udinese, diante da Fiorentina, sofreu uma goleada de 5 a 0, mas isso não fez Dino desistir do mundo da bola. Sua crescente habilidade o levou, dois anos depois, ao Mantova, clube também italiano em que ficou até 67. Nesse mesmo ano, foi contratado pelo Napoli, em meio ao sucesso que vinha fazendo, e levou o clube até à disputa do título italiano.

Essa boa fase deu a Zoff uma chance na Seleção Italiana, em 68, e o goleiro conquistou o primeiro título da carreira, a Eurocopa daquele ano. O brilho foi tanto que ele foi convocado também para a Copa do Mundo de 1970, no México, mas não atuou como titular e, do banco, viu o Brasil desbancar a Itália na final da competição.

No auge de seus 30 anos, Zoff foi para a Juventus. Um novo clube, com novos jogadores, foi o ambiente perfeito para o goleiro fazer história. Dino permaneceu no time por 11 temporadas seguidas, de 72 a 83, e pela Vecchia Signora, ergueu nada mais do que seis títulos nacionais, duas Copas da Itália, uma Copa da UEFA e mais uma Eurocopa (1980). E ainda recebeu o apelido de SuperDino.

Zoff está até hoje marcado na história do futebol italiano
Zoff está até hoje marcado na história do futebol italiano. Foto: Wikipédia

O goleiro atuou em 570 jogos na série A italiana, e esteve em 332 partidas consecutivas, além de deter a marca de 903 minutos sem sofrer gols. Com a camisa da seleção, foram 112 jogos defendidos por ele, 1143 minutos sem tomar gol, o Campeonato Europeu de 68 e a Copa do Mundo de 1982.

Aos 40 anos – fato que lhe rendeu a marca de jogador mais velho a ser campeão de uma Copa do Mundo FIFA -, líder, dono de ótimos reflexos e cheio de personalidade, Zoff também foi o homem que fez o Brasil chorar na Copa de 82. A seleção canarinha que tinha Zico, Falcão e Sócrates em campo e era marcada por um tipo de jogo ofensivo técnico, viveu o que até hoje é lembrada como uma das maiores tragédias do futebol brasileiro.

A tragédia do Sarriá, como ficou conhecida, aconteceu na segunda fase daquela edição. Argentina, Brasil e Itália compunham o grupo 3 da competição. Os hermanos perderam dois jogos e não tinham chances de seguirem na disputa, enquanto que italianos e brasileiros tinham uma vitória para cada lado e fariam um confronto direto em busca da classificação. Devido ao saldo de gols (1 a mais que o adversário), o Brasil tinha a vantagem do empate, mas naquele dia, Dino Zoff não deixou mais que duas bolas passarem.

Aos 44 minutos do segundo tempo, a Itália já vencia por 3 a 2, todos marcados por Rossi. Do lado verde e amarelo, Sócrates e Falcão balançaram as redes. Naquele exato minuto, o zagueiro Oscar cabeceou uma bola que tinha a rede como endereço certo, no entanto, o paredão Zoff impediu o gol da classificação. Diante da situação, o Brasil amargou uma eliminação que foi encarada como precoce, devido ao elenco que tinha.

Dino Zoff e a taça da Copa do Mundo de 1982
Dino Zoff e a taça da Copa do Mundo de 1982. Foto: Reprodução Facebook

A última glória de Zoff como jogador foi erguer a taça da Copa do Mundo de 82. Depois de sua aposentadoria, o ex-arqueiro atuou como treinador a partir de 1986, quando comandou a seleção olímpica da Itália. Também foi técnico da Juventus por dois anos (88-90) e ganhou uma Copa da UEFA e uma Copa da Itália. Posteriormente, também esteve à frente do Lazio e da Seleção da Itália. Seu último clube foi a Fiorentina, em que ficou apenas por um ano, em 2005.

Para além das biografias, o dia 28 de fevereiro produziu dois dos maiores goleiros da história, que ajudaram na evolução da posição e, por esses acasos que só o futebol explica, sopram velinhas na mesma data.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Lúcia Oliveira

Amante da comunicação, da escrita, da fotografia, do futebol, da literatura, do jornalismo, entre outras coisas. Escrevo para eternizar e vivo para escrever.

Como citar

OLIVEIRA, Lúcia. Maier e Zoff, lendas da meta. Ludopédio, São Paulo, v. 140, n. 61, 2021.
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