Meu time não está no Mundial de Clubes. Nem o dos meus amigos. Tampouco o de meus familiares. Alguns se irritam com piadas dos que nunca o conquistaram. Outros alegam que as federações consideram como desse patamar o título de um campeonato distante, de boas décadas atrás.
Vejo o noticiário da preparação, dos dias que antecedem essa competição sempre em um país muito distante da minha casa, penso na importância da disputa. Ou na desimportância que os gringos dão a um campeonato assim, no meio de temporada para eles, no fim de um ano de jogos desgastantes, para nós.
Sinto sono, apenas sono.
Nos Mundiais, os times brasileiros se portam feito moça apaixonada. Aquela que não para de pensar no amado e em suas juras de amor eterno, nas suas intenções e promessas de fidelidade inconteste. Todos os que estão ao redor tentam, de uma forma ou de outra, alertá-la da enrascada com aquele canalha, envolto em escândalos nos relacionamentos anteriores, menos confiável que o sucesso do próximo presidente do Brasil.
A moça apaixonada não dá ouvidos. Afinal, o amado lhe diz que é tudo inveja de um bando de amigas mal amadas, intriga de falsos amigos com a única pretensão de levá-la para a cama, ciúmes do pai, atraso da mãe. Ele se porta como um mocinho injustiçado de folhetim adolescente colado à novela das seis. Nos bastidores, todos sabem que o sonho do amado é ser o protagonista de filmes adultos, com o corpo nu depois de consertar a televisão de outra mocinha, esta nada ingênua.
A moça apaixonada segue adiante, não acredita nos conselhos de um lado e de outro. Quando tudo dá errado, a decepção vira depressão. A revolta é grande. Se o comportamento fosse o de um time europeu a passeio em terras estrangeiras, talvez encarasse as noites de prazer como algo passageiro, notaria que o mais importante já passou.
A trajetória das competições continentais no decorrer do ano rendem mais histórias que um torneio com nome pomposo e global. Mesmo assim, os clubes brasileiros lhe dão uma importância maior que a devida.

É melhor se esbaldar na balada e curtir a ressaca do dia seguinte que acreditar no fracasso de um amado com pouco amor. A viagem para o Mundial poderia, também, ser menos valorizada que as jornadas incríveis de quartas-feiras sul-americanas, com torcidas de verdade, em campos verdadeiros, numa competição genuína.
O olhar europeu sobre nós me lembra o do caçador sem dó da caça. Devo ter um olhar pouco apaixonado, de quem não acredita em amor como um produto da indústria da felicidade. Para mim, o Mundial não é um relacionamento sério.