169.28

Não há do que se orgulhar

Pedro Zan 28 de julho de 2023

“Tenho certeza que o torcedor do Santos hoje está orgulhoso”. Foi isso o que disse o treinador Paulo Turra depois de sua equipe ceder um empate para o líder do campeonato em seis minutos e só não sair da vazia Vila Belmiro derrotado por conta de uma jogada incrível, em que Rodrigo Fernández tira a bola em cima da linha. Do que se orgulhar?

Há de se ser justo: o Santos fez 81 bons minutos contra o Botafogo, sensação do Brasileirão nesta temporada. Dentro da sua proposta defensiva, o time conseguiu marcar bem o poderoso ataque botafoguense, sofreu muito pouco e se aproveitou de dois vacilos dos defensores cariocas para abrir 2 a 0. Parecia que, finalmente, viria uma vitória, um alívio na briga contra o Z4 e o possível início de uma virada na temporada. 

Mas não. 

Apenas três minutos depois, a defesa do Santos falha, mais uma vez, e cede o 2 a 1. Outros três minutos depois, o empate, em mais um gol sofrido na bola aérea dessa que talvez seja a pior defesa de uma equipe de futebol em atividade no Brasil – da Série A, com certeza. Daí em diante, foram mais de quinze minutos de pressão botafoguense, chances e por um milagre o Santos beliscou pelo menos o empate.

Antes da partida começar com certeza a torcida santista ficaria satisfeita com um 2 a 2 contra o líder do campeonato. Mas dadas as condições, é inadmissível. Não há do que se orgulhar, Turra. Mais uma vez a defesa, que em suas mãos já sofreu incríveis doze gols em quatro partidas do Brasileirão, se mostra incapaz de marcar um jabuti manco. Mais uma vez, o psicológico de jogadores, para os quais você mesmo promoveu um churrasco no CT para “melhorar a moral”, não suporta um momento de baixa na partida sem se desfacelar de maneira espetacular. Agora, o Santos soma uma mísera vitória nos últimos quinze jogos da temporada.

Marcos Leonardo Santos
Marcos Leonardo comemora um dos seus gols sobre o Botafogo. Fonte: Divulgação/Santos FC

Claro que a culpa não é apenas sua, Turra – muito menos é você o principal culpado. O elenco do Santos é acomodado e não aguenta uma linha um pouco mais dura como a que você propôs na sua chegada (tanto que alguns jogadores de 1,60m pediram inclusive para serem afastados). A cada jogo que passa, me parece claro que é um conjunto de jogadores que não se importa nem um pouco com o Santos e com a situação pela qual o clube passa. Além disso, os erros técnicos são gritantes: João Lucas é incapaz de marcar qualquer ponta do futebol brasileiro; Joaquim é um zagueiro de várzea; Messias simplesmente não tem nível para jogar na Série A (por que será que era titular do rebaixado Ceará ano passado, não é mesmo?); Mendoza, apesar dos gols nos últimos jogos, acumula decisões erradas a cada contra-ataque que puxa e desperdiça. Isso sem falar do banco, que, quando teve que ser utilizado na partida contra o Botafogo, piorou drasticamente a qualidade dos onze que estavam em campo.

Mas, claro, pior do que esse elenco limitado e descomprometido, é uma diretoria igualmente limitada, descomprometida e completamente fora da realidade. O delirante Falcão, que sabe-se lá o que está fazendo no clube além de assistir a final de Wimbledon em pleno Morumbi enquanto a equipe que ele montou levava uma goleada monumental do São Paulo, disse que o objetivo do Santos na temporada é Libertadores e não brigar contra o rebaixamento – isso sendo que a distância do Peixe para o 6º colocado equivale a mais do que o dobro de pontos do que para o 17º. Enquanto isso, o presidente Rueda, que mais uma vez decide trazer reforços de verdade quando a água está batendo na bunda, acumula diversos “nãos” em suas tentativas de contratação muito por conta da reputação que ele mesmo construiu de um time derrotado e medíocre. Isso além de nunca dar as caras em situações ruins, dando o ar da graça apenas para postar no Instagram quando contrata um jogador. Todos são os principais responsáveis. 

Turra, você acabou de chegar, a culpa não pode cair toda em seu colo. Agora, não se pode falar de orgulho. Absolutamente nenhum torcedor do Santos teve orgulho da atuação do Santos no último domingo. E com certeza não sentem orgulho do clube há três anos. A obrigação de uma instituição do tamanho do Santos é sempre brigar por coisas grandes. Qualquer coisa menor do que isso é uma vergonha, um vexame. E, pelo terceiro ano seguido, o Santos vai para uma campanha vexatória no Brasileirão – que espero que, pelo menos, não culmine na maior vergonha da história do clube. Não há do que se orgulhar, Turra. Apenas trabalhar e fazer o possível para evitar o desastre. Ou diretoria, jogadores e comissão técnica entendem o que significa o Santos Futebol Clube e sua situação atual, ou o barco já afundou.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
Seja um dos 14 apoiadores do Ludopédio e faça parte desse time! APOIAR AGORA

Pedro Zan

Quase formado em Filosofia na Unicamp, mas bom mesmo é falar de futebol. Santista desde sempre, também tenho um podcast, "Os Acréscimos", e sou um dos administradores da página "Antigas Fotos do Futebol Brasileiro".

Como citar

ZAN, Pedro. Não há do que se orgulhar. Ludopédio, São Paulo, v. 169, n. 28, 2023.
Leia também:
  • 178.30

    Ser (ídolo) ou não ser…

    Eduarda Moro
  • 178.28

    Projetos sociais e práticas culturais no circuito varzeano

    Alberto Luiz dos Santos, Enrico Spaggiari, Aira F. Bonfim
  • 178.27

    Torcida organizada e os 60 anos do Golpe Civil-Militar: politização, neutralidade ou omissão?

    Elias Cósta de Oliveira