“Tenho certeza que o torcedor do Santos hoje está orgulhoso”. Foi isso o que disse o treinador Paulo Turra depois de sua equipe ceder um empate para o líder do campeonato em seis minutos e só não sair da vazia Vila Belmiro derrotado por conta de uma jogada incrível, em que Rodrigo Fernández tira a bola em cima da linha. Do que se orgulhar?
Há de se ser justo: o Santos fez 81 bons minutos contra o Botafogo, sensação do Brasileirão nesta temporada. Dentro da sua proposta defensiva, o time conseguiu marcar bem o poderoso ataque botafoguense, sofreu muito pouco e se aproveitou de dois vacilos dos defensores cariocas para abrir 2 a 0. Parecia que, finalmente, viria uma vitória, um alívio na briga contra o Z4 e o possível início de uma virada na temporada.
Mas não.
Apenas três minutos depois, a defesa do Santos falha, mais uma vez, e cede o 2 a 1. Outros três minutos depois, o empate, em mais um gol sofrido na bola aérea dessa que talvez seja a pior defesa de uma equipe de futebol em atividade no Brasil – da Série A, com certeza. Daí em diante, foram mais de quinze minutos de pressão botafoguense, chances e por um milagre o Santos beliscou pelo menos o empate.
Antes da partida começar com certeza a torcida santista ficaria satisfeita com um 2 a 2 contra o líder do campeonato. Mas dadas as condições, é inadmissível. Não há do que se orgulhar, Turra. Mais uma vez a defesa, que em suas mãos já sofreu incríveis doze gols em quatro partidas do Brasileirão, se mostra incapaz de marcar um jabuti manco. Mais uma vez, o psicológico de jogadores, para os quais você mesmo promoveu um churrasco no CT para “melhorar a moral”, não suporta um momento de baixa na partida sem se desfacelar de maneira espetacular. Agora, o Santos soma uma mísera vitória nos últimos quinze jogos da temporada.
Claro que a culpa não é apenas sua, Turra – muito menos é você o principal culpado. O elenco do Santos é acomodado e não aguenta uma linha um pouco mais dura como a que você propôs na sua chegada (tanto que alguns jogadores de 1,60m pediram inclusive para serem afastados). A cada jogo que passa, me parece claro que é um conjunto de jogadores que não se importa nem um pouco com o Santos e com a situação pela qual o clube passa. Além disso, os erros técnicos são gritantes: João Lucas é incapaz de marcar qualquer ponta do futebol brasileiro; Joaquim é um zagueiro de várzea; Messias simplesmente não tem nível para jogar na Série A (por que será que era titular do rebaixado Ceará ano passado, não é mesmo?); Mendoza, apesar dos gols nos últimos jogos, acumula decisões erradas a cada contra-ataque que puxa e desperdiça. Isso sem falar do banco, que, quando teve que ser utilizado na partida contra o Botafogo, piorou drasticamente a qualidade dos onze que estavam em campo.
Mas, claro, pior do que esse elenco limitado e descomprometido, é uma diretoria igualmente limitada, descomprometida e completamente fora da realidade. O delirante Falcão, que sabe-se lá o que está fazendo no clube além de assistir a final de Wimbledon em pleno Morumbi enquanto a equipe que ele montou levava uma goleada monumental do São Paulo, disse que o objetivo do Santos na temporada é Libertadores e não brigar contra o rebaixamento – isso sendo que a distância do Peixe para o 6º colocado equivale a mais do que o dobro de pontos do que para o 17º. Enquanto isso, o presidente Rueda, que mais uma vez decide trazer reforços de verdade quando a água está batendo na bunda, acumula diversos “nãos” em suas tentativas de contratação muito por conta da reputação que ele mesmo construiu de um time derrotado e medíocre. Isso além de nunca dar as caras em situações ruins, dando o ar da graça apenas para postar no Instagram quando contrata um jogador. Todos são os principais responsáveis.
Turra, você acabou de chegar, a culpa não pode cair toda em seu colo. Agora, não se pode falar de orgulho. Absolutamente nenhum torcedor do Santos teve orgulho da atuação do Santos no último domingo. E com certeza não sentem orgulho do clube há três anos. A obrigação de uma instituição do tamanho do Santos é sempre brigar por coisas grandes. Qualquer coisa menor do que isso é uma vergonha, um vexame. E, pelo terceiro ano seguido, o Santos vai para uma campanha vexatória no Brasileirão – que espero que, pelo menos, não culmine na maior vergonha da história do clube. Não há do que se orgulhar, Turra. Apenas trabalhar e fazer o possível para evitar o desastre. Ou diretoria, jogadores e comissão técnica entendem o que significa o Santos Futebol Clube e sua situação atual, ou o barco já afundou.