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Neo Química Arena e Zero Química na Arena

Gabriel Bernardo Monteiro 9 de setembro de 2020

Na semana em que completou 110 anos de história, o Sport Club Corinthians Paulista (do meu coração) deu um novo nome a sua arena, a agora, Neo Química Arena é a cereja de um bolo confuso e bastante suspeito que culminou em um belíssimo estádio e presenteou 30 milhões de loucos do bando com uma casa própria. A quantia será de 300 milhões de reais pelos 20 anos acordados em contrato, que todos esperamos que seja muito bem utilizado, principalmente, para pagar a mesma.

Em paralelo a esse bom acordo realizado com a indústria farmacêutica, o Corinthians ainda oscila muito seu desempenho dentro do jogo. Nossa memória, principalmente a afetiva, é muito mais ligada a passionalidade do que a racionalidade, nossa mente tende a isolar fatores e tornar verdade as coisas que sentimos, mesmo que não compreendemos a sua totalidade.

Neo Química Arena é o novo nome do estádio do Corinthians. Foto: Wander Roberto/CA2019.

As mudanças que estão ocorrendo hoje na instituição Sport Club Corinthians Paulista, são muito maiores do que as mudanças dentro do terreno de jogo, o trabalho do Tiago é acima de tudo estrutural, e mesmo que o produto final seja o que vemos no campo as quartas e domingos, há muitas coisas no entorno que precisam ser avaliadas.

Tiago foi contratado para mudar uma ideia de futebol, e talvez o menor desses trabalhos, seja o que vemos as quartas e domingos. A implantação de uma visão holística e de um modelo de clube através de um olhar mais sustentável são as maiores exigências que ele teve quando foi contratado e uma das boas virtudes que trouxe de seu trabalho anterior. Os setores dentro do clube hoje têm mais sinergia, os jovens formados no clube, pouco a pouco, recebem mais oportunidades e tempo para amadurecerem e o clube, com diversas dificuldades financeiras, também busca a contratação de peças que possam evoluir dentro de uma ideia de clube.

Dentro de campo, a tentativa de criar um Corinthians mais ofensivo e corajoso demora mais tempo do que a torcida imaginava e a paciência em um clube que nos últimos 10 anos foi o maior colecionador de títulos do país é cada vez menor. A consistência dos últimos 10 anos deu lugar a uma oscilação, corriqueira e natural dentro do jogo. O professor Tiago, como se autodenomina em sua rede social, é um professor em sua essência e essa oscilação que vemos no campo hoje, muito tem a ver com seu método de trabalho.

Para compreender isso, basta imaginar que queremos aprender uma equação de segundo grau, e temos um matemático e um professor de matemática para nos ensinar, ambos podem te ensinar. O matemático, ensinará de um jeito, muito provavelmente dando as respostas e não explicando o processo que se dá para chegar nessas respostas, é provável que aprendamos a resolver em poucos dias, mas pouco disso será internalizado, e com o tempo esse aprendizado será perdido ou completamente ou parcialmente.

O professor, muito provavelmente, focará em tentar fazer com que a gente entenda o processo, entenda os porquês para que tudo faça sentido no momento em que estivermos resolvendo a mesma equação. Tal processo demandará muito mais tempo, entretanto fará com que nunca esqueçamos como resolver uma equação. O matemático, usará o fim para explicar o fim, o professor pensará nos meios para resolver os fins.

Tiago Nunes, treinador do Corinthians. Foto: Wikipédia.

Tiago, usa do entendimento dos fenômenos do jogo para ensinar criar um modelo de jogo aos jogadores, porque acredita que eles precisam compreender bem antes de executar bem. Seria cômodo para ele, se pegasse as ideias de jogo e contrata-se todo o elenco com jogadores que já entendessem perfeitamente o que ele espera de cada posição/função. Mas não é a realidade que vive hoje. Ele tem que fazer com que, desde o Cássio até o Jô, compreendam o jogo e melhorem seu desempenho dentro do sistema, tem que melhorar Léo Natel, Gustavo Mosquito e outros jovens que vêm entrando nos jogos para entenderem melhor a si mesmo e, com isso, fazer com que melhorem o desempenho dentro dos jogos. Jogadores que pouco estavam preparados a jogarem assim e principalmente, pouco acostumados a treinarem assim, estão sentindo as dificuldades disso dentro dos jogos. O momento não é ideal, com jogos a cada 3 dias e poucas “aulas” para corrigir erros na prática, ficando tudo voltado a vídeo aulas e compreensão visual do jogador.

Para acelerar esse processo, Tiago, muitas vezes têm que realizar um trabalho similar ao de um alquimista, misturando os componentes da equipe afim de encontrar um reagente positivo que faça o desempenho da equipe melhorar no curto prazo e evite que seja degolado pelo imediatismo que circunda a bola no Brasil. A dificuldade de encontrar a química perfeita com os componentes ainda em construção que tem, faz com que seus “alunos” tenham dificuldades em manter rendimento dentro dos jogos.

A mistura entre a alquimia perfeita e o completo entendimento do grupo sobre o jogo é algo que demandará tempo, impossível saber quanto, e que gerará ainda criticas e desconforto nos seus torcedores, mas que fará um bem gigante para o futuro da instituição. Tiago, apesar de muitos entenderem o contrário, é experiente e rodado o suficiente para aguentar a pressão de ser o condutor do processo. Já viveu coisas no futebol, que muitos treinadores mais velhos nunca viverão, trouxe sucesso para um clube que, mesmo extremamente estruturado, sempre ficava a margem nas disputas nacionais e continentais e com certeza se dedicará ao máximo para fazer com que o Corinthians se transforme.


** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Gabriel Bernardo Monteiro

Graduado em Educação Fisica pela Universidade Estadual de Campinas

Como citar

MONTEIRO, Gabriel Bernardo. Neo Química Arena e Zero Química na Arena. Ludopédio, São Paulo, v. 135, n. 21, 2020.
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