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O futebol e um “novo” tipo de torcedor

Cristiane Nestor de Almeida. 6 de setembro de 2022

O futebol tal qual conhecemos hoje é chamado de moderno. Do seu “surgimento” até agora passou por muitas mudanças e dentre elas o modo de torcer também. E tendo isso em vista, o objetivo desse texto é realizar uma breve análise sobre um modo de torcer mais recente, no qual será chamado de torcedor das redes sociais.

O futebol passou por algumas fases até chegar ao que chamamos de moderno: criação de regras em 1863, na Inglaterra; mais para frente introdução do escanteio e impedimento; depois definição das dimensões do campo; além da criação dos cartões e suas respectivas punições pela FIFA; substituições… tudo isso para que as partidas sejam mais dinâmicas.

Na outra ponta do jogo estão os torcedores. Não há consenso sobre a origem da palavra “torcedor”, porém, as duas versões mais aceitas, mas não as únicas, são as de Ari Riboldi (2017), no qual defende que o termo torcedor vem do latim, do verbo “torquere”, que possuiu significados de torcer (literalmente), distorcer, virar, entre outras. A outra versão é de Luiz Mendes (2019), a mais “aceita” e mais romântica, na qual diz que as elegantes moças que frequentavam os campos, tiravam as luvas e as torciam ansiosamente. Devido a esse comportamento o escritor Henrique Maximiano Coelho Netto (2019), teria escrito uma crônica na qual chamava as meninas da arquibancada de torcedoras. Logo, o termo se espalhou para designar todos que acompanhavam o esporte. Há indícios de que o termo é mais antigo, porém não trataremos aqui deste assunto.

Entre tantas redes de torcer atual, o destaque é o Twitter, o mesmo é uma rede social e um serviço de microblog, que permite aos usuários enviar e receber atualizações pessoais de outros contatos, por meio do website do serviço, por SMS e softwares específicos de gerenciamento. Isso permite ao torcedor “twitar”, ou seja, escrever mensagens curtas e postar. Esse novo tipo de torcedor acompanha as partidas do seu clube do coração no estádio, em casa, com os amigos, ou outros lugares e interage virtualmente com outro, quer seja do seu time, do time adversário e até de quem apenas curte o espetáculo sem estar ligado a clube algum. Geralmente essas mensagens são enviadas do celular, e o conteúdo varia da partida em si, números e estatísticas da mesma, curiosidades, números dos técnicos e outros. E nesse conjunto virtual o futebol se insere, com “seus ritos e símbolos compartilhados e a capacidade de produzir sua própria paisagem.” (Jesus, 2021)

Atlético Mineiro
Foto: Pedro Souza/Clube Atlético Mineiro.

Os esportes em geral, e o futebol em específico, constitui ao que chamamos de fenômeno mundial, sendo visto e apreciado por um vasto público espectador, transformando o mesmo numa indústria do entretenimento. Com o avanço da internet é possível compartilhar imagens e signos desse fenômeno e, muitas vezes, em tempo real, ultrapassando fronteiras de países, cidades, do campo, e atuando intensamente na cultura e nas representações dos lugares. Logo, não são apenas postagens de futebol. Esse novo tipo de torcer é o que chamamos de componente fundamental do esporte em si, e do futebol que é o caso analisado.

Assim como o futebol deixou de ser uma prática exclusiva das elites, e chegou a diversas camadas da sociedade, o torcer pelas redes sociais também equaliza, ou tenta, equalizar todos os torcedores, desde que ele tenha internet, aparelho de celular ou notebook ou outros, conhecimentos básicos de informática, e da rede social Twitter, “todos são iguais”. Ao longo do século XX, houve a expansão, ou a ideia de expansão, do tempo livre e por isso o consumo de serviços de lazer aumentou, o que propiciou também o crescimento dos esportes, tanto no quesito de prática saudável quanto de espetáculo.

Dessa maneira os esportes também foram incentivados por políticas nacionais primeiramente, e em seguida por geopolíticas nacionalistas, que podem ser exemplificadas pela publicidade, e pelas redes de TV, e mais recentemente pelos serviços de streaming que produzem um fluxo de mídia de transmissão contínua, e no caso do futebol, que movimenta anualmente bilhões de dólares, sendo a atividade que exibe o mais rápido crescimento dentro da indústria mundial do entretenimento.

Finalizando, mesmo estando em estádios, que com sua:

…imponência, circularidade física e temporal, funcionamento esporádico e monofuncional, lugar distinto e único de encontro coletivo e ritualizações que se repetem periodicamente, guardam, para o torcedor fanático, algumas semelhanças com os santuários. (Jesus, 2021, p.6.)

Esse novo torcedor vai criando uma ritualização virtual, como o exemplo abaixo: “Turminha passadora de pano patrulhando forte no Twitter. Jamais vão me calar. Quando achar que devo e que merecem serão criticados sim. Vcs não vão transformar o …Não vão me calar! Aqui não tem censura.” (Twitter do perfil coracao de galo, postado no dia 26/02/22).

Essa postagem e muitas outras geralmente acontecem durante as partidas, torcedores inflamados durante o jogo, ou algum acontecimento relacionado ao seu clube, e outros apenas acompanhando esse novo tipo de torcer. 

Referências

JESUS, Gilmar Mascarenhas. A geografia dos esportes. Uma introdução. Departamento de Geografia. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. UERJ, acesso em 01/04/2021.

FILHO, PC. Jornalheiros, o blog do PC Filho. São Paulo, 14/08/2017. Disponível em blog spot.com. Acesso em: 29/05/2022.

Unisport Brasil. Futebol moderno: veja aqui tudo o que você precisa saber! 2019/2020 Acesso em 29/05/2022.

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Como citar

ALMEIDA., Cristiane Nestor de. O futebol e um “novo” tipo de torcedor. Ludopédio, São Paulo, v. 159, n. 6, 2022.
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