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O Manchester City é realmente um clube “da moda” na Inglaterra?

Gabriel de Oliveira Costa 16 de junho de 2021

São raras as equipes no mundo que possuem um rival local tão grande quanto o Manchester United, porém, na região do futebol mais antigo do mundo, as controvérsias são grandes no quesito popularidade. Pois bem, para explicar o conceito de  que o Manchester City não é um time de moda, voltemos dois séculos no passado.  Fundado em 1880, sob o nome de St. Mark´s, os Citizens só assumiriam sua real identidade em 1894. Após superar sua primeira crise financeira, o clube saltou em popularidade quando chegou em Hyde Road, ganhando o posto de time mais popular da cidade.

E assim iniciara uma era promissora do Manchester City a partir de 1889, quando o clube chegaria à elite inglesa. Em 1904 já teria seu primeiro grande troféu – FA Cup. Nessa época o Manchester United, recém ex-Newton Heath FC, arquitetaria as primeiras farpas com seus vizinhos. Os Red Devils acusavam os Citizens de pagarem salários aos seus atletas. Na época, o futebol amador tinha regras que impediam tal bonificação e após uma sansão da Football League (até 1907), o United trouxe alguns de seus principais atletas, pois o time azul estava impedido de jogar e assim foram campeões da liga inglesa (1907/08). Um dos pilares na rivalidade foi Billy Meredith, galês e melhor jogador dos Citizens, que trocaria de clube na ocasião.

Manchester City
A equipe do City, que ganhou a Copa da Inglaterra de 1904. Foto: Wikipédia

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Entretanto com a ascensão de seus rival  local, o Manchester City também respondia com aumento da popularidade. É importante destacar que os Citizens até meados dos anos 30 tinham mais torcedores, prova disso foram os 84.569 fãs que estiveram no Maine Road, no segundo troféu da FA Cup (1934). O auge viria em 1937, quando o clube seria campeão inglês da primeira divisão – primeiro título na elite. Porém a queda veio em seguida, quando na próxima temporada, o time seria rebaixado. Na época, o Manchester City foi o pioneiro em ostentar o feito de ser o atual campeão e cair de divisão em seguida.

Diante do declínio na divisão de elite, os Citizens amargaram três longas décadas de ostracismo. Um dos melhores campeões era apenas figurante e em 30 anos só venceria uma FA Cup. Nesse intervalo o Manchester United já seria o novo predominante e só via sua torcida aumentar, enquanto a dos City, só caía. No período pós guerra, o clube se concentraria suas forças na periferia, enquanto a fama era dos rivais.

Uma resposta só viria com Joe Mercer, treinador do clube (1965/71) que venceria a primeira divisão, copas da Inglaterra e copa das copas. Ele entregaria um desenho de novas décadas promissoras para os azuis. 

Manchester City
ícones do Britpop, os irmão Liam e Noel Gallagher, do Oasis, com suas camisas do Manchester City / Imagem: divulgação (1995)

Por fim, longe de alcançar o já renomado Manchester United, de Alex Ferguson – anos 90/2000, o Manchester City sofreria na nova Era da Premier League, com instabilidades. Acessos, rebaixamentos e campanhas medianas caracterizariam o clube até a temporada 1998/99, quando os Citizens retornariam à elite para ficar. Após o fim do Maine Road (2003), sua nova casa traria novamente bons públicos e investidores.

Manchester City time da moda

O rótulo de ser o time da moda emergiu em 2008. Sob aquisição do Sheikh Mansour e o dinheiro árabe, o Manchester City assustou a Inglaterra com sua retomada. Em cinco anos, gastaria média de 100 milhões de libras só com reforços. Do dia para noite, o clube que era 15º colocado na Premier League seria o grande favorito do ano. Em uma demonstração de força, contratou Carlos Tévez, argentino com recente passagem pelo rival United, e que seria campeão nacional com o City.

Tévez
Carlos Tévez foi uma das grandes estrelas mundiais do City. Foto: Wikipédia

Após a expansão da globalização, o Manchester City virou uma marca, onde possui fãs em todos continentes. O dinheiro árabe abriu portas para nomes memoráveis na história do clube, como Pep Guardiola, Kevin De Bruyne e Sergio Agüero. Além disso, o clube é cabeça de um conglomerado denominado City Group, que tem equipes como “filiais” para recrutamento de jogadores. Times como ESTAC Troyes, Girona e NY City comõem o selecionado.

E assim, podemos concluir que, o Manchester City está na moda, porém não surgiu dela. É irônico resumir  40 anos de história em duas décadas.  Ainda que dinheiro e simpatizantes sejam rótulos do atual time, sua essência é de ser o primeiro grande clube da cidade. Sua torcida – hoje muito globalizada – tem sua raiz nas favelas, vielas e guetos de Manchester. Em seu escudo mais tradicional, a Águia simbolizava garra, o navio, os combates e a rosa, sua conexão com Lancashire. 

Manchester City
Torcida do City no Etihad Stadium. Foto: Wikipédia

 

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Gabriel de Oliveira Costa

Jornalista carioca, tenho 22 anos. Apaixonado por futebol, fator principal pelo qual sou motivado para trabalhar com  a comunicação social, desde março realizo trabalhos direcionados ao conteúdo esportivo. Há dois anos trabalho com pautas de economia e política.

Como citar

COSTA, Gabriel de Oliveira. O Manchester City é realmente um clube “da moda” na Inglaterra?. Ludopédio, São Paulo, v. 144, n. 29, 2021.
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