Ligo a televisão e me deparo com jogos longe dessas bandas por todos os canais de TV. Minha fatura fica mais cara que o pacote básico para ter à disposição os campeonatos holandês, francês, italiano, espanhol, alemão, inglês etc.
Já me surpreendi ao encontrar marcações de jardas e filmagens esquisitas, distantes e trêmulas, numa cena meio suspense, meio terror: era uma das tantas ligas dos Estados Unidos numa tentativa de se render ao soccer.
Tudo frio e distante.
Mas me estranha ter que esperar as competições continentais voltarem e apenas no meio de semana ter a chance de ver os vizinhos sul-americanos em campo. Aquela história clichê de garra e raça se sobrepondo à técnica, esta tirada de nossas terras pelos maços de euros, dólares e petrocoins.
Se eles descem para levar dos times o que seus bilionários cartões de débito pagam, só nos restam possíveis destaques em competições isoladas com sotaque portunhol. E eles nos enganam, porque só lhes damos atenção uma vez ou outra, enquanto olhamos para cima.
Queria ver um jogo do campeonato chileno e no intervalo mudar para o uruguaio. Assim, do mesmo jeito que dou uma zapeada em alguns minutos de bola rolando na Península Ibérica e volto para a terra da rainha.
Para quem é acostumado a massacrar rivais de todas as formas, deve ser difícil entender meu costume de dar atenção a competições mais divertidas e equilibradas. Com menos estética e mais emoção. Essa certeza de ficar entre os dois primeiros colocados é sem sal e eles não sabem nada de um bom tempero.

Estranho é ter de explicar aos mais desinformados o significado de apertura e clausura. É só olhar para o lado, por alguns minutos, que dá para entender. No auge da minha incompreensão, sintonizo no campeonato francês em um sábado à tarde. Tão previsível, tão igual. Melhor forma de tirar um cochilo à tarde, recarregar as energias e sair tarde da noite.
Se é difícil encontrar quem saiba os últimos campeões nacionais na vizinhança, pior é entender a graça no desequilíbrio de forças. Não passar vergonha contra gigantes contas bancárias virou um sonho. Mesmo lá, entre eles.
E há quem se convença de uma normalidade nisso. Não deve ser à toa tanta gente dormindo na rua. Pouco se olha para a periferia do futebol: o que importa são os palacetes com sotaques.
Sou do grupo que comemora ver um Boca x River no horário da revista eletrônica semanal e que conta até 10 quando o Instagram de um boleiro vira notícia.
Não é ranço, saudosismo ou um ódio ao futebol moderno para ganhar likes nas comunidades que as crianças seguem por aí. É que ficamos mais distantes da festança lá longe, mas não sentimos o cheiro da carne no churrascão do vizinho invadindo a janela. Quero poder frequentar as duas solenidades.
Não achei a programação do campeonato chileno, nem nos canais com debates repetitivos e enfadonhos. Pensei no mapa do Brasil, de costas para o Oceano Atlântico, com os olhos fechados para o resto do continente.