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Resumos do GTs V e VI – III Seminário Online do Ludopédio 2024

Equipe Ludopédio 4 de março de 2024

Com objetivo de debater e dar visibilidade a pesquisas realizadas por mulheres sobre futebol(is), será realizado, entre os dias 09 e 16 de março de 2024, o III Seminário Online do Ludopédio – Mulheres e futebol: pesquisar, trabalhar, torcer e jogar. O seminário do Ludopédio reunirá apresentações que contemplam a multiplicidade de temas observada no campo dos estudos sobre futebol nas ciências humanas. As apresentações de pesquisas realizadas por mulheres abordarão diferentes dimensões, fenômenos e práticas relacionadas ao universo futebolístico.

Os resumos dos 12 Grupos de Trabalho serão publicados ao longo de seis textos. Confira a programação completa do evento. 

futebol mulheres


 

Grupo de Trabalho 5Cidades e estádios

11/03 – segunda-feira – 19h30-22h

 

Segurança e Justiça: um Panorama dos Eventos de Futebol no Rio de Janeiro
Raquel Sousa

Serão tratadas as relações da segurança e justiça no futebol masculino carioca. Especificamente sobre a segurança no interior dos estádios do Maracanã, Nilton Santos e São Januário. Atualmente a segurança nos eventos esportivos conta, concomitantemente, com a presença da segurança privada, também chamados de stewards, da polícia militar e polícia civil. Além da presença de outras instituições do sistema de justiça criminal (ministério público, defensoria e tribunal de justiça). Os dados obtidos para a elaboração deste trabalho são fruto das relações estabelecidas em etnografia. Contando com duas fases: a primeira realizada em 2019, no desenvolvimento da pesquisa sobre o Batalhão Especializado de Policiamento em Estádios (BEPE) da polícia militar do Rio de Janeiro; e a segunda etapa a partir do final de 2022 e que ainda está em curso, na qual desenvolvo pesquisa sobre a atuação das instituições que compõem o Juizado Especial do Torcedor e de Grandes Eventos. Em cada um dos três maiores estádios da cidade do Rio de Janeiro, há um espaço para o juizado do torcedor, com salas para cada uma das instituições. Dentro do estádio há uma delegacia de polícia civil para o registro de ocorrência; uma sala para os promotores do Ministério Público; outra para a defensoria pública e mais uma para o judiciário. Desde o momento em que o estádio abre, para um jogo de futebol, até o momento em que fecha, há um sistema de justiça criminal completo em funcionamento.

Cultura e identidade: o futebol como patrimônio histórico de Lunardelli
Samara Gabrieli Pereira Tavares

O trabalho em questão apresenta informações referentes a história do município de Lunardelli, a partir da trajetória do futebol concomitantemente ao processo de desenvolvimento do município, ao passo que, esse elemento se constituiu um patrimônio imaterial da cidade, e como essa população valorizou e ainda valoriza esse esporte como símbolo de identidade da comunidade. O trabalho consegue levantar algumas questões além do lazer do futebol, mas como um patrimônio histórico cultural da cidade, evidenciando a importância de seus times para a cristalização da identidade da cidade e proporcionando um espaço de sociabilidade importante para o desenvolvimento da mesma. Abordando informações importantíssimas sobre a história do município, e informações sobre a região do vale do Ivaí, com a utilização da oralidade como fonte, com pessoas que vivenciaram tal período, captando relatos, memória e história de vida que expressaram envolvimento da cidade com o futebol desde 1960.


Futebol e política no Vale do Aço: o nascimento do Ipatingão
Luiza Aguiar dos Anjos, Júlia Ribeiro Junqueira, Ana Laura Valeriano de Paula, Raquel Pinto Silva

O presente trabalho é fruto de uma pesquisa de Iniciação Científica Júnior, iniciada em 2022, que teve sua continuidade até fevereiro de 2024, e cuja temática focalizou a construção do Estádio Municipal João Lamego Netto, popularmente chamado de Ipatingão, localizado na cidade de Ipatinga, região metropolitana do Vale do Aço, Minas Gerais. Ao longo do processo de pesquisa, foi perceptível o quanto a construção do estádio, que teve uma pré-inauguração em 1982, esteve atrelada aos rearranjos da cidade, tanto político como das reformas urbanas em curso à época. Notamos que a sua edificação passou por vários momentos de paralisação e continuidade devido às disputas políticas dentro de um intenso jogo de negociação de diferentes entes envolvidos no planejamento e no financiamento do Ipatingão, que, vale ressaltar, produziram diversos discursos em torno da construção do equipamento esportivo, às vezes, até antagônicos. Para tanto, documentos oficiais foram pesquisados de forma virtual no site da Câmara Municipal de Ipatinga, bem como exemplares do jornal Diário do Aço foram consultados manualmente, tendo o recorte temporal de janeiro de 1980 a dezembro de 1988. Também, presencialmente, consultou-se o acervo disponível na Estação Memória de Ipatinga, onde encontramos álbuns de fotografias relacionados ao tema da pesquisa. Realizamos, ainda, entrevistas com quatro agentes envolvidos na construção e inauguração do estádio, sendo um gestor público, um vereador, um jornalista e um jogador de futebol. Nesse sentido, objetiva-se apresentar as narrativas existentes em relação à construção do estádio, evidenciando as disputas de poder envolvidas, as transformações urbanísticas da cidade, bem como os usos do futebol como parte do desenvolvimento da região do Vale do Aço. 


Atenção, NÃO INVADAM O CAMPO! É o fim da várzea?
Roberta Pereira da Silva

O presente estudo é parte das pesquisas sobre futebol de várzea realizadas entre 2015 e 2023. Durante o mestrado e após sua conclusão, empenhamos esforços em estudar a sociabilidade e o associativismo negro a partir do futebol de várzea. A partir da particularidade (futebol de várzea)  traçamos um conjunto de complexos que envolvia formação das periferias da Cidade de São Paulo e a segregação sócio espacial, a ausência da intersetorialidade entres as políticas pública de habitação e as demais políticas sociais básicas, o racismo e sua contra partida o associativismo negro. Ou seja falar da aldeia (futebol de várzea) falamos da formação sócio histórica do Brasil. Posto isto o estudo priorizou os anos 1980 a 2014, data de fundação – fim da pesquisa, dito isso acompanhamos uma várzea em que imperava a prática do lazer, a defesa do espaço público, o associativismo e as competições futebolísticas nos seus mais diversos modos, uma várzea como espaço/vitrine de jogadores que aspiravam o futebol profissional  à participação mais recente de jogadores “anônimos” nas palavras de Marina Dantas, como “bico” enquanto não despontavam nos times profissionais, fumaça sinalizadores e muito samba. Entretanto observamos a passos largos uma “financeirização” do futebol de várzea, com a entrada de patrocínios de empresas nacionais e  multinacionais entre eles (Claro, Vivo ) transmissões na mídia tradicional (Rede Globo), e principalmente patrocínio de casas de apostas. Fato que possibilitou por exemplo a realização a final da Super Copa Pioneer, campeonato organizado pelo time de mesmo nome, fundado na década de 1980, na arena Allianz Parque. Se antes tínhamos os anônimos buscando nas sombras das árvores um espaço VIP, hoje temos a contração de jogadores em final de carreira como destaque dos times. Entre a nostalgia da antiga várzea e a glamourização há um museu de grandes novidades.


E ela não se tornou um elefante branco: os usos da esplanada do Mineirão após a sua inauguração
Priscila Campos

O estádio é um dos espaços que reflete as mudanças sociais em um determinado tempo-espaço, sendo por elas atingido e, ao mesmo tempo, influenciando-as. A Copa do Mundo de 2014 trouxe a promessa de mudanças nas formas de uso e de apropriação de alguns estádios brasileiros, já que estes foram reformados e reformulados para este megaevento. O estádio Mineirão, situado em Belo Horizonte/MG foi um dos que passou por este processo. Este trabalho se propôs a analisar as formas de uso e de apropriação da esplanada do Mineirão. Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo exploratório-descritiva. A coleta de dados foi realizada na esplanada do estádio, entre os meses de dezembro de 2012 e dezembro de 2014. Para a coleta de informação, foram utilizados observação participante e formulário semiaberto. Os resultados indicam que a esplanada passou a ser uma opção de equipamento de lazer em Belo Horizonte, para os moradores das regionais vizinhas à Pampulha, em uma cidade que apresenta uma distribuição desigual desses equipamentos. As principais práticas realizadas na esplanada são skate, patins, caminhada e brincadeiras infantis. A legitimação do espaço é percebida pela sua ocupação, tanto durante a semana, quanto nos finais de semana, não justificando ou afastando os temores que haviam da sua transformação em um elefante branco nos dias em que não houvesse partidas de futebol.


Relações de trabalho, salário por peça e Arena Maracanã
Ana Beatriz Santos da Silva

Entendendo a relevância do futebol para examinar e pensar a sociedade brasileira, este artigo se debruça, de forma objetiva e temporal, em analisar as relações de trabalho na Arena Maracanã, correlacionando a exploração da força de trabalho e a remuneração denominada como salário por peça, a partir do pensamento de Karl Marx. Assim, busca-se entender se há, de fato, o pagamento de salário por peça aos trabalhadores do Maracanã, bem como os impactos dessa possível forma de pagamento, além das disputas correlacionadas ao estádio/arena, em relação ao avanço neoliberal no país, indicando que os processos se retroalimentam e se relacionam. Associa-se as informações coletadas diretamente com os trabalhadores ao levantamento bibliográfico. Por fim, ressalta-se, mais uma vez, que a pesquisa possui caráter temporal e os dados levantados poderão sofrer mudanças, seja na remuneração dos trabalhadores, como na concessão do Maracanã, atualmente com a dupla Fluminense e Flamengo.

 


 

GT 6 – Mídia II

12/03 – terça-feira – 19h30-21h30

 

As mulheres que falam do futebol de mulheres: uma análise de projetos de mídia esportiva alternativa brasileiros
Flaviane Rodrigues Eugênio

Este trabalho é resultado da dissertação de mestrado que analisou projetos de mídia esportiva alternativa, produzidos por mulheres e que se dedicam a cobrir o futebol de mulheres no Brasil. Partimos de um diagnóstico que grande parte da literatura sobre mídia esportiva foca na análise da cobertura do futebol masculino e em veículos de mídia tradicionais (FORTES, 2011; 2014). Mesmo os trabalhos que se dedicam a explorar a cobertura do futebol de mulheres não costumam se dedicar a projetos alternativos e analisam relatos jornalísticos da mídia hegemônica que são, também, produzidos em sua maioria por homens (SALVINI & MARCH JR, 2013a, 2013b, 2013c; FERRETI ET AL, 2011; VON MUHLEN & GOELLNER, 2012). Já a literatura que analisa projetos de mídia alternativa, tocados por torcedores também têm focado em iniciativas lideradas ou compostas em sua maior parte por torcedores homens e que tem foco no futebol masculino (VIMIEIRO, 2014). Nesse sentido, este projeto buscou preencher algumas lacunas, particularmente a falta de pesquisas sobre mídias esportivas alternativas com cobertura dedicada ao futebol de mulheres e produzidas por mulheres. Nesta análise objetivou-se compreender como são os projetos produzidos, quais são suas características, como os domínios de poder e, consequentemente, a interseccionalidade emergem. A fim de responder os questionamentos propostos, um mapeamento de iniciativas feitas por mulheres e sobre o futebol de mulheres foi realizado. A partir disso, selecionamos iniciativas que contemplassem todos os requisitos propostos, chegando a um total de 48 iniciativas. Após a seleção, que foi realizada a partir do Instagram, três etapas de análise foram feitas, para compreender como se caracterizam essas iniciativas.


O Negro no Futebol Brasileiro: Argumentos e Teses de Mário Filho
Ana Gabriella da Costa Cardoso

Neste trabalho, se apresenta teses e argumentos desenvolvidos por Mário Filho acerca do futebol em seu livro O negro no futebol brasileiro. Ao se considerar a forma de abordagem e os problemas levantados por este autor em relação a este tema, se pode situá-lo, também, no campo das humanidades como um objeto científico passível de leituras e análises por parte de seus protagonistas, dentre os quais os historiadores porque, Mário Filho, nos permite adentrar, no contexto da dinâmica social, econômica, cultural e política da cidade do Rio Janeiro no período compreendido entre as décadas de 1930 a 1940, em interface com os múltiplos aspectos e meandros do futebol para além do espetáculo decorrentes dos esquemas táticos apresentados pelos times de futebol dentro das quatro linhas. A construção da narrativa será mediada pela revisão bibliográfica acerca dos temas-problemas, o futebol e o negro no futebol brasileiro com o propósito de se melhor compreender a tese e os argumentos deste autor relativa ao seu objeto de estudo, ou seja, o negro no futebol brasileiro. O documento básico desta pesquisa é a própria obra – “O negro no futebol brasileiro, em sua 5ª edição, publicada pela editora Mauad no ano de 2010. Trata-se de uma obra tecida a partir de depoimentos de jogadores, de torcedores e da própria vivência do autor, como jornalista, em ambientes do futebol no Rio de Janeiro. Considerou-se necessário no processo de leitura da obra (re)configurá-la em sua estrutura identificando a base documental do autor, o seu método de análise, os procedimentos de investigação e as suas problemáticas para que assim se identifique a tese e compreenda os seus fundamentos de sustentação. Considera-se tratar de um trabalho importante porque contribui para ampliar a historiografia do tema Futebol no contexto brasileiro, mas, sobretudo, por situar a obra de Mario Filho no processo genealógico do futebol como objeto das Ciências Humanas, com destaque para a História.


O crescimento do futebol feminino no Brasil a partir da criação de conteúdo nas mídias alternativas digitais e o empoderamento feminino como oportunidade de mercado para as marcas. 
Letícia Basto Pigari

A recente ascensão do futebol feminino no Brasil tem despertado o interesse do público e, por consequência, de marcas que vêem na modalidade um mercado potencial a ser explorado, podendo também trabalhar o empoderamento feminino de jogadoras e torcedoras que, na mídia alternativa, buscam ter voz ativa a respeito da modalidade e da luta de mulheres para alcançarem lugares de destaque.


Fut das Minas: Jornalismo ou Infotenimento? Análise de conteúdo da cobertura do torneio de futebol feminino durante os Jogos Olímpicos de Tóqui 2020
Emilia dos Santos Sosa

A pesquisa busca compreender se foi jornalismo ou infotenimento o processo de comunicação utilizado pelo portal Fut das Minas durante a cobertura do torneio de futebol feminino dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, sendo a pergunta norteadora do trabalho: “Qual o processo de comunicação utilizado pelo portal Fut das Minas durante a cobertura do torneio de futebol feminino dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020?”. Para alcançar o objetivo, foi necessário compreender o contexto do futebol feminino no Brasil, assim como as possibilidades e mudanças dos processos de comunicação no ambiente digital. José Marques de Melo (2010) com os conceitos de nota, notícia, reportagem, entrevista e comentário e Fábia Dejavite (2006) com o conceito de Jornalismo de Infotenimento baseiam a pesquisadora na criação das categorias de análise dos conteúdos coletados. Os procedimentos metodológicos da pesquisa exploratória, pesquisa da pesquisa, pesquisa bibliográfica, pesquisa teórica e conceitual e pesquisa participante foram importantes para que se chegasse à conclusão do estudo. As análises foram realizadas em conteúdos coletados do Twitter, Instagram e site do portal, entre os dias 7 de julho de 2021 a 22 de agosto de 2021. Em resposta à pergunta problema norteadora da pesquisa, concluiu-se que o jornalismo foi o processo de comunicação utilizado pela equipe durante a cobertura do evento esportivo, tendo em vista que a finalidade foi analisar os conteúdos e não a narrativa das produções.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Equipe Ludopédio

Nosso objetivo é criar uma rede de informações, de pesquisadores e de interessados no tema futebol. A ideia de constituir esse espaço surgiu da necessidade e ausência de um centro para reunir informações, textos e pesquisas sobre futebol!

Como citar

LUDOPéDIO, Equipe. Resumos do GTs V e VI – III Seminário Online do Ludopédio 2024. Ludopédio, São Paulo, v. 177, n. 4, 2024.
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