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Turismo em estádios de futebol: as experiências das visitações através dos tours

João Victor Hortencio Silva 6 de outubro de 2021

Os estádios de futebol possuem como característica a sua magnitude, desde as dimensões físicas até os eventos históricos, culturais e esportivos vivenciados nestes templos sagrados – também denominados de estádios. Nesse sentido, tanto os estádios quanto os novos modelos de arena, extrapolam os limites esportivos, congregando muito da história local e das memórias afetivas de seus frequentadores. Destarte, estes equipamentos atraem torcedores e turistas interessados nas diversas sapiências do lazer, seja pelos aspectos culturais e esportivos ou até mesmo pelas próprias relações de sociabilidade que os envolvem.

Normalmente, a ida aos estádios acontece por meio das partidas de futebol, nas quais fãs se deslocam buscando assistir aos jogos e vivenciar uma experiência de torcedor. No entanto, as visitas guiadas e os tours despontam-se como outras possibilidades de experienciar as qualidades de um estádio de futebol, sendo possível conhecer as instalações utilizadas pelos jogadores (vestiário, sala de imprensa, campo) e o património móvel (troféus, fotos, vídeos e arquivos históricos).

Além disso, citam-se as formas de conhecimento e divertimento proporcionadas por essas experiências, que ainda podem contribuir para estreitar os laços afetivos entre visitantes e clube/estádio. Aliás, isso explica o motivo da maioria dos tours – nos estádios – finalizarem as visitas nas lojas oficiais do clube, uma clara estratégia de exposição da marca com objetivos econômicos.

A capacidade dos estádios de atrair admiradores não é um fenômeno recente, tendo em vista os deslocamentos de torcedores que acontecem desde os primórdios do esporte. Gilmar Mascarenhas, em suas vastas e sublimes obras, já destacava a coletividade e os modos plurais do torcer que tornavam os estádios objetos pulsantes e ícones simbólicos de uma determinada localidade. Nesse sentido, relaciona-se a dimensão destes equipamentos esportivos com o fenômeno turístico, posto que os estádios de futebol integram a oferta turística de algumas cidades, sendo em determinadas situações o atrativo mais procurado do destino.

De acordo com Paramio, Buraimo e Campos (2008), o Futbol Club Barcelona foi o primeiro time a idealizar um tour pelo seu próprio estádio, no ano de 1984. Após o sucesso catalão, outros clubes começaram a introduzir as visitas guiadas e criar centros de memórias e museus em suas dependências.

Barça Stadium
Turistas entrando no Barça Stadium Tour. Foto: Photo credit: Alf Igel on Visualhunt.com

Tal prática de visitação e deslocamento aos estádios é denominada de turismo de futebol ou turismo futebolístico, no qual ambos estão inseridos no segmento do turismo esportivo.

No que diz respeito ao turismo futebolístico, o continente Europeu apresenta maior destaque, tanto na infraestrutura da oferta turística quanto na demanda. Conforme dito anteriormente, grande parte das cidades europeias com alto fluxo turístico possuem algum estádio como um dos principais atrativos da região, como o Parque dos Príncipes na França, Allianz Arena na Alemanha, Estádio da Luz em Portugal, Wembley e Old Trafford na Inglaterra, Santiago Bernabéu e Camp Nou na Espanha.

O caso do Camp Nou é considerado um dos mais emblemáticos, pois estima-se que 22% dos turistas da cidade de Barcelona visitam o estádio; totalizando, desde 1984, cerca de 35 milhões de visitas.

A La Bombonera, casa do Boca Juniors da Argentina, é considerada um dos principais atrativos turísticos de Buenos Aires, assim como o Estádio Centenário no Uruguai e o Estádio Azteca no México.

No Brasil, destacam-se dois estádios: o Pacaembu, sede do Museu do Futebol e elogiado pela interatividade e pela narrativa histórica do esporte; e o Maracanã, um dos principais atrativos da cidade do Rio de Janeiro, palco de abertura e encerramento de Jogos Olímpicos, duas finais de Copa do Mundo, dentre outros eventos esportivos e culturais.

Contudo, ressalta-se a injustiça cometida por este texto, afinal de contas, quantos templos localizados no mundo não foram citados? A resposta é: poderíamos ficar mencionando centenas de estádios e países conhecidos pelo seu apelo esportivo e turístico, entretanto, infelizmente as normas acadêmicas optam pelos recortes. Além disso, a visitação em estádios de futebol pode estar relacionada com uma série de fatores que vão além da esfera esportiva, como o contexto histórico, a arquitetura, a interatividade, a busca por diversão ou entretenimento.

Tour Maracanã
Contemplação e registros no Tour Maracanã. Foto: Alexandre Macieira/Riotur/Fotos Públicas

Ao contrário das partidas de futebol, os tours possuem uma agenda mais flexível para turistas, dado que podem ser visitados fora do calendário de jogos, ou seja, em uma maior disponibilidade de datas. Todavia, mesmo com algumas diferenças de propostas, tanto a contemplação dos tours quanto o deslocamento para assistir partidas são práticas do turismo futebolístico, cada um com suas características e seus modos de vivenciar experiências em um estádio de futebol.

Em 1993, John Bale já abordava as transformações de status dos estádios, que passavam de um nível local voltado ao torcedor, para uma escala global disponível aos visitantes de todo o mundo.

Apesar do texto apresentar uma visão fundamentada na perspectiva do fluxo turístico, compreende-se que as visitas em estádios de futebol podem ser um elemento propagador do conhecimento e da aprendizagem, funcionando como espaços de educação não formal e disponíveis para residentes e turistas. Além disso, acredita-se também no papel dos estádios como espaços proporcionadores das práticas sociais de lazer, embora a atual conjuntura da gestão pública e privada destes equipamentos tenha caminhado para um outro destino.

Sendo assim, entende-se que a história do esporte no Brasil se relaciona com a própria história do país e dos próprios valores simbólicos destes equipamentos, palcos de memórias e de manifestações culturais e esportivas que, portanto, necessitam ser preservadas e difundidas.

Referências

BALE, John. Sport, space and the city. London. Routledge. 1993.

PARAMIO, Juan Luis; BURAIMO, Babatunde; CAMPOS, Carlos. From modern to postmodern: the development of football stadia in EuropeSport in society, v. 11, n. 5, p. 517-534, 2008. DOI: 10.1080/17430430802196520. Acesso em: 13 ago. 2021.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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João Victor Hortencio

Mestrando em Turismo pela Universidade Federal Fluminense. Bacharel em Turismo pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Como citar

SILVA, João Victor Hortencio. Turismo em estádios de futebol: as experiências das visitações através dos tours. Ludopédio, São Paulo, v. 148, n. 9, 2021.
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