154.9

Uma virada do tamanho deste Palmeiras

Leonardo Megeto Montelatto 6 de abril de 2022

Quarta feira, 30 de março, pouco depois das onze e meia da noite. Douglas Marques apitava o final da primeira partida da decisão do Campeonato Paulista, onde um irreconhecível e apático time do Palmeiras, acostumado a decisões e a controlar os primeiros jogos de confrontos ida e volta, saía derrotado pelo placar de 3 a 1. Placar este até barato pelo que foi o jogo. Um primeiro tempo equilibrado, finalizado com um pênalti extremamente discutível já nos acréscimos e um segundo tempo de atropelo da equipe do São Paulo. O gol de falta de Raphael Veiga, um verdadeiro achado, devolveu a esperança e a impressão da equipe estar de volta à disputa.

Domingo, 3 de abril, quatro da tarde em ponto. Raphael Claus dava início a uma das grandes viradas da história do Palmeiras. Imponente, avassalador e impositivo, amassou um São Paulo que entrou em campo somente para administrar a vantagem e nada mais. Se na partida de ida o placar de 3 a 1 ficou barato para o Palmeiras, os 4 a 0 da volta saíram “a preço de banana” para o tricolor (menos aquelas que o ex-presidente são paulino Carlos Aidar comia enquanto falava sobre o Palmeiras estar se apequenando, que até hoje custam bem caro).

Escrever aqui sobre o que este elenco, comissão técnica e diretoria (parabéns Leila Pereira por conseguir fazer a decisão ser no Allianz) vem alcançando nos últimos anos seria chover no molhado. Como o colega Gustavo Pelegrini bem trouxe em seu texto de outubro de 2021 talvez só tenhamos a dimensão dos feitos dessa era do Palmeiras daqui uns bons anos. Dessa forma, o foco aqui ficará no que foram os noventa minutos disputados no Allianz Parque.

O Jogo

Já no primeiro minuto de partida tivemos a noção exata sobre como seriam as posturas das duas equipes. Um Palmeiras sufocador, embalado pela empolgação de sua torcida, e um São Paulo que tentaria a todo custo deixar o relógio correr (Jandrei já fazia cera na primeira bola que chegou até ele).

Não demorou muito para que a primeira polêmica surgisse. Rebote na entrada da área, chute de Danilo e bola na mão do jogador do São Paulo. Mão essa rente ao corpo, semelhante ao lance do pênalti de Marcos Rocha dado pelo VAR na partida de ida. Apesar de alertado pelo árbitro de vídeo, Raphael Claus com muita personalidade não assinalou a penalidade, que ao meu ver, não aconteceu mesmo.

Apesar da esperada consternação pelo pênalti não marcado, a equipe do Palmeiras demonstrou muita força mental para continuar sufocando o rival. E não demorou muito para que Danilo, que tanta falta fez no primeiro jogo, abrisse o placar e aumentasse a empolgação no estádio. Nesse mesmo embalo, na clássica jogada de ultrapassagem pela lateral surgiu o segundo tento palestrino, com o trem Zé Rafael, deixando tudo igual na soma dos placares. O VAR novamente sugeriu revisão do lance, por possível falta de Danilo em Calleri no início da jogada. Novamente com muita personalidade, Claus seguiu sua impressão do campo e confirmou o gol.

A partir daí, o São Paulo decidiu tentar jogar também. Entretanto, o fez de modo desordenado e afobado, com lances até mesmo bisonhos de escorregão. Apesar de diminuir um pouco o ritmo sufocante, o Verdão continuou levando mais perigo a meta de Jandrei, que ao contrário de Weverton, precisou atuar para evitar mais gols alviverdes.

Raphael Veiga, de novo, decisivo

Após o intervalo, com o placar agregado empatado e mais 45 minutos pra se jogar, o lado anímico estava todo do lado alviverde. E não demorou muito para Dudu desnortear com suas mudanças de direção o zagueiro Diego Costa e encontrar o meia Raphael Veiga atacando a área e de carrinho dar a vantagem para o Verdão. Mais um gol do iluminado e decisivo palmeirense em finais

Daí em diante, o que se viu foi um Palmeiras completamente confortável com o placar, protegendo bem a sua meta e no aguardo da bola que mataria o confronto. Sem escolhas, o São Paulo tentou achar o seu gol da mesma forma com que o Verdão encontrou no jogo do Morumbi. E teve sua grande chance no pé do atacante Calleri numa sobra de escanteio, que passou rente à trave do gol norte. De resto, nenhum incômodo para Weverton.

Para fechar o espetáculo, o gol que selou a conquista veio novamente dos pés de Raphael Veiga. Após saída de bola estabanada de Arboleda e do sonolento Igor Gomes, Zé Rafael roubou a bola, entregou a Gabriel Veron que deixou Veiga cara a cara com Jandrei para cortar e decidir o jogo. Foi o oitavo gol do camisa 23 em finais pelo Palmeiras (Recopa, Supercopa, Libertadores, Mundial e agora Paulista). No baile de domingo, dia nobre do futebol, como bem disse Júlio Casares, ainda havia tempo do destemperado Rafinha ser expulso para garantir a festa verde.

Raphael Veiga
Raphael Veiga segura a taça de campeão Paulista de 2022. Foto: Cesar Greco/Palmeiras.

Apesar de não ser o mais importante troféu conquistado nos últimos anos, esse Paulista chega com um gosto especial. Sexto título conquistado no Allianz Parque (Copa BR 15, BR 16, Paulista 20, Copa BR 20, Recopa 22, Paulista 22), terceiro rival derrotado em decisão em casa (Santos 2015, Corinthians 2020, São Paulo 2022) e após 80 anos da Arrancada Heroica de 1942, onde o Palmeiras nascia campeão, presenciamos essa incrível virada histórica, coincidentemente no aniversário do “Divino” Ademir da Guia. Um dia completamente memorável.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Leonardo Megeto Montelatto

Formado em Educação Física pela UNICAMP. Professor de futebol na Arena Belletti e na Associação Rocinhense.

Como citar

MONTELATTO, Leonardo Megeto. Uma virada do tamanho deste Palmeiras. Ludopédio, São Paulo, v. 154, n. 9, 2022.
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