5 toques de obras que o formaram como pesquisador do futebol, por Sérgio Giglio
Em setembro, compartilhamos as dicas de Sérgio Settani Giglio, professor em Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com atuação na graduação e na pós graduação. Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Esporte e Humanidades (GEPEH), da UNICAMP. Sérgio é um dos editores fundadores do site Ludopédio.
Dentre a extensa produção de Sérgio Giglio, que possui dezenas de artigos em periódicos, destaca-se a publicação do livro A história política do futebol olímpico (1894-1988), de 2018. Ele ainda foi organizador de coletâneas como O Brasil e as Copas do Mundo, futebol, história e política (2014), Entre Jogos e Copas: reflexões de uma década esportiva (2016), Múltiplos olhares sobre os Jogos Olímpicos (2018), O ensino de práticas esportivas: para fazer, para pensar (2019) e O futebol nas ciências humanas no Brasil (2020).
No Ludopédio, além da manutenção do site, na figura de editor, Sérgio Giglio é autor de diversos textos na seção Arquibancada, responsável pela condução de inúmeras entrevistas publicadas e figura constante nas lives promovidas pelo portal.
Em sua lista, Sérgio Giglio rememora como era pesquisar o tema do futebol num momento anterior à criação do site Ludopédio. Uma relação que apresenta obras que o acompanharam desde que começou a estudar o assunto na universidade e que mostra um pouco do que ele encontrava nas suas buscas por trabalhos acadêmicos. É interessante pensar que em 2001, a produção nacional encontrava-se basicamente em arquivos impressos (revistas e livros) e, além disso, a internet era algo que começava a ganhar corpo dentro da própria universidade. Vamos aos toques do convidado:
1º toque: Universo do Futebol: esporte e sociedade brasileira, organização de Roberto Damatta (1982)
Certamente o livro Universo do futebol é considerado um dos clássicos dos estudos sobre futebol. Editado em 1982, o livro possui um grande diálogo com as artes, já que apresenta uma diversidade de obras de arte para ilustrar os excelentes textos da coletânea. Embora, muitas vezes, o livro seja atribuído somente a Roberto DaMatta, existem outras três pessoas que também escrevem: Luiz Felipe Baêta Neves, Arno Vogel e Simoni Lahud. Os quatro textos do livro são excelentes e, sem dúvida alguma, foram muito importantes para eu entender como a Antropologia poderia dialogar com o futebol. Entre as pessoas que escrevem, destaco a professora Simoni Lahud Guedes que, do grupo, foi a pessoa que seguiu os estudos com o futebol.
2º toque: Revista USP, nº 22 – Dossiê Futebol (1994)
Destaco o Dossiê Futebol, publicado no número 22 da Revista USP, publicado em 1994. Considero que esse Dossiê tenha provocado um grande impacto na produção acadêmica. Seja por evidenciar o tema do futebol dentro da academia, seja pela qualidade dos textos apresentados. O Dossiê apresenta professores com uma carreira consolidada, tal como Roberto DaMatta, Nicolau Sevcenko e José Sérgio Leite Lopes, e outras pessoas que realizavam sua pós-graduação tendo o futebol como tema de estudo, tal como o Luiz Henrique de Toledo e a Fátima Antunes. Seguindo a linha temática da minha seleção, destaco os textos que possuem uma análise antropológica no Dossiê.
3º toque: Cultura, Educação Física e Futebol, de Jocimar Daolio (1997)
O terceiro destaque refere-se ao livro Cultura, Educação Física e Futebol escrito pelo professor Jocimar Daolio. Ao todo são 14 textos, no livro que se encontra em sua terceira edição, sobre os temas anunciados no título do livro. A parte do futebol contém cinco textos e, particularmente, tive contato com o livro em uma disciplina ministrada pelo professor Jocimar Daolio na graduação. A disciplina que buscava o diálogo entre a Educação Física e a Antropologia me inspirou bastante para estruturar um projeto de pesquisa e dialogar com as indicações dos materiais que indiquei acima. Destaco da parte do futebol, especialmente, o primeiro texto intitulado: O drama do futebol brasileiro: uma análise sócioantropológica, que busca dialogar diretamente com autores da Antropologia como podemos pensar o futebol como um drama e como parte integrante de nossa sociedade.
4º toque: Lógicas no futebol, de Luiz Henrique de Toledo (2002)
Quem seguia na linha antropológica para estudar futebol percorria certos caminhos. E um desses caminhos chegava ao livro Lógicas no futebol (que, inclusive, será relançado pela Editora Ludopédio). Fruto de sua tese de doutorado, Luiz Henrique de Toledo lança o olhar para entender as relações complexas entre três agentes do campo futebolístico: os profissionais, os especialistas e as torcidas. Tendo como ponto de partida sua análise antropológica, Toledo busca entender com o futebol vai se enraizando na lógica brasileira e, portanto, nos mostra como passa a ser apropriado e vivido. Por isso, olhar para os três grupos de atores que ele elenca são fundamentais para entender como a ação de um alimenta e atualiza o futebol nas suas mais diferentes esferas.
5º toque: Do dom à profissão: uma etnografia do futebol de espetáculo a partir da formação de jogadores no Brasil e na França, de Arlei Sander Damo (2005)
A tese de Arlei Sander Damo, defendida em 2005, também foi um trabalho que me ajudou a pensar muitas relações entre o futebol e a Antropologia. Além disso, os temas abordados em sua tese são fundamentais para quem quer entender como o futebol se configura como algo essencial na vida de grande parte dos brasileiros e brasileiras. Destaco o capítulo 3 – O ESPECTRO DO DOM: talento, dádiva e capital futebolístico – no qual Damo busca explicar como o dom torna-se uma categoria fundamental tanto para quem quer ser jogador de futebol quanto para quem faz parte do universo do futebol profissional. Por fim, toda a sua costura é feita por uma ampla pesquisa de campo, na qual acompanhou o futebol de base tanto no Brasil quanto na França.