150.21

Dito isso, o São Paulo continua sendo o São Paulo

Lucas do Carmo Santos 15 de dezembro de 2021

Recém finalizada a temporada 2021, é difícil discutir qualquer coisa diferente de uma prepotente avaliação de um torcedor amargurado. E talvez um pequeno comentário sobre a última crise no tricolor envolvendo dois dos maiores ídolos da história do clube.

Para começar, Crespo chega ao São Paulo com ares de esperança, apesar de muito novo e pouco testado, era de fato um treinador jovem e muito promissor. Logo de cara colocou o “craque” do time pra jogar na posição que era dele, e com poucas mudanças táticas, fez o time se tornar mais competitivo, distante daquele São Paulo melancólico que passeou pelos gramados do Morumbi nos últimos anos. Com a diretoria nova, as coisas pareciam estar entrando nos trilhos de um longo caminho para a volta de um time com finanças saudáveis e quem sabe a briga pelo protagonismo no futebol brasileiro.

O título paulista foi a alegria do torcedor. O time do São Paulo saiu da fila, conquistando o Paulistão. A classificação para a segunda fase da Libertadores com uma estratégia arriscada de Crespo quase levou o treinador ao status de gênio.

Lance da primeira partida da final do Paulistão 2021 entre Palmeiras e São Paulo. Foto: Cesar Greco/Palmeiras.

No início do brasileirão, eu, o mais pessimista dos são paulinos, já cravava que a classificação para a fase grupos da libertadores era real e palpável e quiçá uma briga pelo título do Brasileirão. Um grande paulistão, classificação para o mata-mata na Libertadores, uma boa campanha na Copa do Brasil, era a projeção. Dificilmente viria mais um título, mas tudo bem, afinal existe uma nova taça em casa e as premiações poderiam ajudar muito na gestão das finanças do clube. O problema é o grande “dito isso” que viria a partir daí.

Dito isso (com o perdão da redundância), o ano do São Paulo foi uma piada. O que lá no início do ano o torcedor são paulino não via, veio à tona. Um bom treinador, mas totalmente alheio ao contexto em que estava, um esforço para conquistar um título que viria comprometer o planejamento do restante do ano (fora adiantado pelo texto do Vitor Freire “como fazer com quem um título atrapalhe seu ano”) , um “craque” que vivia no mundo da lua e não se importava com o que acontecia com o clube e uma diretoria perdida e com um caminhão de problemas pra resolver como herança da gestão anterior.

O São Paulo é eliminado pelo Fortaleza da Copa do Brasil, pelo Palmeiras na Libertadores e até aí tudo bem, mas no brasileiro, só consegue se ver livre do rebaixamento na penúltima rodada, o que por si já é melancólico para as expectativas do clube. Mas é preciso listar as situações que ocorreram no cotidiano tricolor em 2021. Daniel Alves, o maior salário do clube, pede para ir disputar os Jogos Olímpicos de Tóquio no meio da temporada, e avisa que não vai voltar enquanto está do outro lado do mundo (importante lembrar que ele é “torcedor” do São Paulo).

Daniel Alves
Daniel Alves no São Paulo. Caricatura: Baptistão Caricaturas.

Crespo, até então treinador, com o time na zona de rebaixamento, empata pela segunda vez com o lanterna do campeonato e na coletiva diz que quer ficar 10 anos no São Paulo, mostrando que ele não fazia ideia de que do outro lado do muro um recém campeão da libertadores tinha sua demissão exigida pela imprensa e parte da torcida e, além disso, as inúmeras lesões, empresários buscando a imprensa para reclamar que seus jogadores não eram aproveitados. A definição de caos.

Como se não fosse o suficiente quase ser rebaixado, não se classificar para a pré-Libertadores, Rogério Ceni, recém contratado e Muricy Ramalho manifestam interesse em deixar o clube por conta de dificuldades com a diretoria. Não acho um absurdo que a ideia foi jogar pressão nos conselheiros, mas se um cara como Muricy está recorrendo a este tipo de artifício para tentar salvar o clube, é difícil imaginar que as coisas vão melhorar.

Torcedor, comemore, saímos da fila. Dito isso, o São Paulo continua sendo o São Paulo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Ludopédio.
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Lucas do Carmo Santos

Formado em educação física, professor de ensino médio e são paulino.

Como citar

SANTOS, Lucas do Carmo. Dito isso, o São Paulo continua sendo o São Paulo. Ludopédio, São Paulo, v. 150, n. 21, 2021.
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