Pelé 80 anos: a passagem marcante do Rei do Futebol pelos gramados cearenses

Milésimo jogo pelo Santos, partida de entrega de faixas, placa na terra de Padre Cícero e atuação de gala no Castelão: Pelé coleciona grandes histórias nos estádios do futebol do Ceará

No imaginário do torcedor brasileiro, Pelé está eternizado por atuações épicas em palcos como o Maracanã, o Pacaembu e a Vila Belmiro. Já para os cearenses, falar de Edson Arantes do Nascimento, que completa 80 anos nesta sexta-feira, dia 23 de outubro, remete aos jogos memoráveis que o Rei do Futebol disputou em gramados alencarinos contra alguns dos principais clubes do Estado, como Ceará, Fortaleza, Ferroviário e Guarani de Juazeiro. Cada um deles guarda uma boa história para contar.

O Ceará pode se vangloriar, por exemplo, de nunca ter perdido em confrontos contra o Santos de Pelé. Foram três partidas, com duas vitórias do Vovô (por 2 a 1 e 2 a 0) e um empate (por 0 a 0). Um desses triunfos ocorreu em um jogo que tinha tudo para ser festivo para o Camisa 10 da Vila. No dia 3 de dezembro de 1972, Pelé disputou seu milésimo jogo pelo Santos, no duelo contra o Alvinegro de Porangabuçu, no estádio Presidente Vargas (PV).

A partida era válida pelo Campeonato Brasileiro daquele ano.  Logo aos 11 minutos de jogo, Pelé deixou sua marca, indicando o que poderia ser um dia de festa completa para o Peixe. O destino reservava outros planos. No segundo tempo, o Ceará reagiu. Samuel empatou o jogo, aos 17 da etapa final. E coube a Da Costa, aos 30 minutos, marcar o gol da virada, que decretou a vitória do alvinegro cearense por 2 a 1. Um feito celebrado como um título, com direito a invasão de gramado ao término da partida.  

Já o Fortaleza pode se orgulhar de ter sido o primeiro clube do Estado a estender o tapete vermelho para o Rei em solo cearense. No dia 18 de julho de 1959, Pelé – que um ano antes havia sido campeão mundial pela 1ª vez com a seleção brasileira, na Copa disputada na Suécia – veio com o Santos para a disputa de um amistoso contra o Tricolor do Pici, no PV. O jogo foi movimentado. Zé Raimundo e Bececê marcaram os gols para o time local. Já Pelé brilhou ao marcar os dois gols santistas na partida. Um fato marcante marcou o pré-jogo. Em gesto de cortesia, o Rei, ao lado do parceiro de ataque Pepe, vestiu a camisa do Fortaleza. Um registro que foi parar na capa dos jornais no dia seguinte. Os periódicos destacavam a valentia do Leão do Pici, que resistiu ao “todo poderoso” Santos e destacavam que o empate foi celebrado com sabor de vitória.

Em 1968, precisamente no dia 4 de agosto, foi o dia da torcida do Ferroviário receber Pelé para um jogo festivo. Em comemoração pela conquista do título invicto de campeão cearense daquele ano, a diretoria do Ferrão convidou o Santos para o tradicional jogo de entrega de faixas, no estádio Presidente Vargas. Bem marcado, o Rei passou em branco na partida. Ao fim do jogo, empate em 0 a 0. Mas o time coral saiu de campo satisfeito, até mesmo pelo fato do time paulista ter desperdiçado um pênalti, em cobrança de Pepe para fora, ainda no primeiro tempo de partida.    

Além do PV, Pelé esteve em campo também no estádio Castelão, a principal praça esportiva do estado do Ceará. Foi uma única vez, mas foi marcante. O encontro entre Santos e Fortaleza ocorreu no dia 23 de janeiro de 1974 (em sua última temporada pelo Peixe), em partida válida pelo Campeonato Brasileiro. Como autêntico Camisa 10, o Rei foi o maestro do “passeio” santista, que venceu o jogo sem grandes dificuldades pelo placar de 5 a 1, diante um público de mais de 31 mil pagantes. Pelé marcou dois gols. Os outros tentos do time paulista foram marcados por Nenê, Mazinho e Léo. De pênalti, Geraldino Saravá descontou para os anfitriões. No dia seguinte ao triunfo, o jornal O POVO estampou uma manchete que ditou o ritmo da cobertura de repercussão: “Show de bola e goleada sonora”.  

O último jogo de Pelé por gramados cearenses foi também o único dele fora da Capital. No dia 3 de abril de 1974, o Santos veio disputar um amistoso contra o Guarani-CE, no estádio Romeirão, em Juazeiro do Norte. Um acontecimento que parou a Região do Cariri. Os prefeitos de Juazeiro, Crato, Barbalha e Missão Velha decretaram feriado no dia. Em campo, vitória santista por 2 a 0. O jogo não valeu troféu, mas rendeu homenagem a Pelé, com a entrega de uma placa prateada, cortesia do povo juazeirense em gratidão a passagem do Rei pela Terra do Padre Cícero.

Aquela foi a última vez que Pelé disputou uma partida em solo cearense. Uma despedida com maestria, digna da majestade do Rei do Futebol.

Fontes

BALACÓ, Bruno; VILLAR, Cliff. Arena Castelão: templo do futebol cearense. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 2014.

______. Leão 100 anos. Fortaleza: Grupo de Comunicação O POVO, 2019.

BLOC, André. O homem que fechou o comércio do Cariri e Romeirão. O POVO, Fortaleza, 22 out. 2020. 

GOMES, Evandro Ferreira. Nem Pelé furou a defensiva coral invicta de 1968. Almanaque do Ferrão, Fortaleza, 8 set. 2017. 

RIBEIRO, Cláudio; CÂMARA, Ciro. PV: biografia de uma paixão. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 2011.

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Bruno Balacó

Jornalista, cronista esportivo e pesquisador. Doutorando em Comunicação na Universidade Federal do Ceará (UFC), mestre em Comunicação pela UFC, especialista em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais pela Estácio e graduado em Jornalismo pela Universidade de Fortaleza. Membro do grupo de pesquisa PraxisJor (UFC) e da Rede nordestina de estudos em Mídia e Esporte (ReNEme). Pesquisa rádio e mídias sonoras, com ênfase em produções nas áreas de radiojornalismo esportivo e podcasts. Atua no mercado como jornalista e produtor de conteúdo no Grupo Cidade de Comunicação. Edita e produz o PapoCom, podcast vinculado ao Práxisjor. É editor dos livros 'Arena Castelão: templo do futebol cearense' (Fundação Demócrito Rocha - 2014) e "Leão 100 anos", o livro do centenário do Fortaleza Esporte Clube (O POVO - 2019).