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#18 com Wagner Camargo e Bernardo Gonzales

Ludopédio em Casa discute futebol, gênero e sexualidade

O pesquisador Wagner Xavier de Camargo e o professor militante LGBTQIA+ Bernardo Gonzales discutirem sexualidade e gênero a partir do futebol.

Wagner é PhD em Ciências Humanas com ampla pesquisa que percorre o universo dos atletas e torcidas gays. Na coluna “Para Além do Futebol” do Ludopédio, o antropólogo já analisou diferentes biografias de personagens importantes do esporte, bem como toda a estrutura heteronormativa das competições esportivas.

Wagner Xavier de Camargo

Bernardo também já escreveu para o Ludopédio, mas surgiu como um dos expoentes pela luta anti-transfóbica atuando dentro e fora das quatro linhas. Bernardo é um atleta amador transmasculino e atuou na coordenação e no elenco do 1º time de futebol de homens transexuais do Brasil.

Bernardo Gonzales

Ao longo dos próximos dias contaremos um pouco mais sobre nossos ilustres convidados. E o mais importante: não há espaço para intolerância aqui no Ludopédio. Aqui quem sabe, joga junto. O debate e o futebol é de todos.

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#17 Futebol e Cultura

Este episódio do Ludopédio em Casa tem o número riscado por razões democráticas. E tem os convidados sublinhados também por motivos democráticos, afinal, Simas e Xico são vozes progressistas indispensáveis ao distópico Brasil do século XXI.

Um historiador e um jornalista. Dois grandes escritores.

Um carioca e um pernambucano. Dois grandes brasileiros.

A conversa sobre futebol e cultura traz reflexões importantes sobre tradições do futebol que afirmam ou contradizem a cultura nacional.  Simas e Xico enriquecem o debate com a perspicácia típica de dois grandes articuladores dos dramas sociais brasileiros.

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#17 Futebol e Cultura

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Reapropriação da camisa da seleção?

 

Luiz Simas

Eu sou o Cremilson.

Essa questão dos símbolos nacionais, eu acho muito difícil a ressignificação. Nós não estamos num processo claro.

Já havia um desgaste envolvendo a seleção brasileira e o imaginário do futebol. Esse desgaste já vem apresentando há algum tempo.

Aquela comunidade de afetos e de sentidos que tinha na seleção algum elemento de identidade nacional foi esvaindo.

Esse futebol que transforma o torcedor em cliente, que se desliga da comunidade de afeto, leva a isso.

Essa tomada de símbolos da pátria eu não sou muito afim.

Quando você tem um procesos que ainda é marcado pelo fato de a camisa amarela ser apropriada por um projeto que flerta um fascismo tupiniquim… Acho muito complicado. Acho que vai ser um processo meio complicado lutar por esses símbolos.

Nem sei se essa luta é fundamental.

Estou com ojeriza da seleção brasileira.

Me vejo pagando uma promessa com a camisa do Flamengo, não da seleção.

 

A relação do torcedor com a seleção é diferente. Com o clube, mesmo em fase ruim, acompanha, torce.

A reconstrução desses afetos é complicada. A própria relação com os jogadores mudou. Até mesmo o Falcão, em 82, que estava na Itália, tinha uma relação viceral com o Inter.

É muito complicado. Vai ser ruim de reconstruir esse processo.

 

Xico Sá

Eu sou o grosso que faz gol.

Fecho com o Simas total.

Tenho até dúvida se algum dia podemos mudar esse processo.

A camisa de 58, azul, até vai.

Mas mesmo a preta do Dida não dá.

Eu guardo muito a seleção com a do Sócrates de 82.

Se a seleção for ruim, não tem jeito.

Em 70, quando havia a ditadura, tinha grande dúvida, mas com 10 minutos de jogo a esquerdona correu toda.

Se você não tem a capacidade de encanto do time, junta com esse bolsonarismo, fica difícil fazer alguma tabela com ela.

A própria seleção está numa sinuca medonha.

A CBF vai enfrentar isso. A crônica esportiva mais pacheca vai enfrentar isso. Essa praga vai ficar nas costas da CBF e da seleção.

 

 

Ainda sobre simbologia nacional, pensando nos ídolos, eles também foram roubados de nós, em termos. Desde o Ronaldo com o Aécio em 2014, o Ronaldinho Gaúcho e o Rivaldo debandaram em 2018, é possível seduzir esses caras para um diálogo?

 

Luiz Simas

O próprio processo de construção do futebol de um elemento no imaginário sempre esteve vinculado ao poder.

Escola de samba é como jogo do bicho é a favor de quem está no poder – Castor Andrade.

O Estado elaborou um certo discurso no futebol. O jogador está a serviço do clube e flerta com o poder.

Todos esses caras hoje têm media training, têm agentes. O Ronaldinho vestiu 17 no dia da eleição. Aquilo foi combinado com o irmão.

Exceções confirmam a regra. Tem monitoramento de jogador de futebol.

Eu conheço gente que foi Twitter de um jogador.

Quando aparece um jogador escrevendo a própria conta, faz merda.

O jogador é marionete muitas vezes.

Há uma certa percepção do clube do futebol que faz o jogo do poder. Isso é marcante na história do poder.

 

Xico Sá

Eles podem até ouvir algum líder na comunidade do futebol, na boleiragem. Mas eu duvido. O pensamento de quem pronunciou agora bate nesse fascismo tupiniquim.

Se fizer um passeio histórico, quem posicionou na centro esquerda são raríssimos. Afonsinho, Caju, Sócrates, Paulo André, Juninho Pernambucano. São raros os exemplos ao longo da histórica. Tanto que esses caras são cavaleiros solitários em seus projetos. O cenário é o de sempre.

A adesão ao Bolsonaro chamou atenção porque eles se posicionaram. É uma manifestação muito cômoda porque eles esperaram os cartolas. O Palmeiras era bolsonarista, a CBF. Ela não tem o peso de uma manifestação do Afonsinho nos anos 70 indo contra. Quando o Caju falava, ele estava provocando o poder do futebol. O Felipe Melo quando faz arminha quase puxa saco da diretoria do Palmeiras. É quase botando rubrica num manifesto do clube.

 

 

O Juninho Pernambucano na reportagem do The Guardian critica o Neymar. Há uma idealização sobre esse tipo de jogador, carreira é case de sucesso

 

Luiz Simas

Porque ainda está muito recente o jogador de futebol inserido no mundo das celebridades. Esse é um fenômeno muito recente. Jogador de futebol é influenciador. Às vezes, jogamos uma expectativa sobre o jogador que não corresponde ao que se espera.

É muito mais fácil ver o Neymar se manifestando contra algo se a turma do Neymar achar que aquilo é bom para ele. É um fingidor.

Não sabemos quando um atleta se manifesta contra o racismo se aquilo é proposital.

Esse mundo das celebridades, da coisa instantânea dos influencers é complicado.

A análise de gestão de carreira, uma expressão horrorosa, diz o que eles têm de fazer.

Trata-se de um fenômeno que temos de olhar com atenção.

 

O primeiro garoto propaganda no futebol brasileiro é o Leônidas. Hoje não aconteceria isso por ser chocolate.

O Gérson com cigarro é a mesma coisa.

Isso é interessante. Um estudo como personagem midiático nesse sentido é interessantíssimo.

“Eu sei o que ele está se sentindo” – eu sei o que é negro. → Mario Filho.

 

Xico Sá

O Neymar incorpora isso como ninguém. Ele é o exemplo acabado desse lugar ocupado pelo jogador de futebol hoje. Qualquer pôster em seu Instagram é pensado na planilha máxima em quanto vai render em imagem e em dinheiro.

Foge de nossa alçada.

Dali não dá para esperar, não vai sair um manifesto político, nem que seja mais unânime possível.

Ele é esse guri celebrizado, que marca toca pra cacete.

Ele tem até essa coisa de anjo torto nele que ele mesmo acaba estragando. Quando faz uma merda, ele até quebra um pouco esse roteiro de celebridade planejadíssima.

Ele foi perguntado por um repórter do JT e ele falou que não iria se manifestar porque não era negro.

Sai até pela caridade que essas pessoas famosas fazem. Isso ainda é o ponto mais positivo que ele consegue se manifestar. Não está inserido em pensar política, é uma ajuda solidária.

 

 

Os atletas são pouco engajadas tal qual a classe trabalhadora brasileira. Lá fora existem alguns atletas que dão mais a cara a tapa. Frase famosa do pofexô: “tal coisa pertence ao futebol”. Hoje a discussão é inversa. Para desconstruir essas narrativas é complicado?

 

Luiz Simas

Existiu sempre um certo discurso no imaginário, em que o torcedor iria ao estádio para extravasar. O estádio como elemento para extravasar era muito comum. O cara que estava fodido de segunda a sábado ia para o estádio para extravasar, era de certa maneira muito comum.

Falamos do Velho Maracanã. Mas cansei de ver no Velho Maracanã coisas como um coro de viado, de piranha. Esse discurso do estádio como ambiente como tudo é permitido foi um discurso que colocou o futebol como onde tudo era possível.

Depois da Copa de 50, a crônica discutia se a derrota não se devia ao desequilíbrio de negros. O futebol é um sintoma do país. Ele é explicado por ela. Esse território da barbárie em que tudo era permitido acaba sendo um cenário do que era o próprio Brasil.

Tem coisas que nós perdemos, tem coisa que ganhamos nesse ato de torcer.

Nós naturalizamos muito isso. Esse discurso do território mágico, fabuloso, em que o teu cotidiano poderia ser extravasado no estádio.

 

Xico Sá

Esse é o samba enredo da hora. O futebol é o último reduto. Finalmente, essa discussão chegou ao futebol. O poder do futebol, a crônica esportiva, o empresário, o universo do futebol consegue ser, no Brasil, mais reacionário, mais atrasado que a política convencional. A Federação de Pernambuco ou do Ceará consegue ser pior do que a política convencional. O futebol tem essa péssima mania de o poder ter sido o pior . Talvez hoje o presidente da República consegue ser pior que o da CBF. Mas sempre foi o inverso. Desde gritar viado a essa ideia de que no campo pode tudo, chegou só agora. A gente blindava, eu mesmo, de qualquer loucura da sociedade brasileira. Quantas vezes eu me peguei fazendo uma defesa da incorreção. Eu mudei meu pensamento. O futebol não pode ficar separado de resto do país, da sociedade, das instituições, de nada. Essa discussão é em bloco, mas chegou muito tardiamente ao futebol.

 

 

Futebol e política. Matéria feita pelo Breiller, do El País. Reportagem com o Alexandre Kalil. Futebol não é coisa para pobre. O que vocês responderiam se se encontrassem com ele Futebol e cultura como algo imbricado.

 

Luiz Simas

É curioso esse negócio. Uns diriam que ele cometeu um sincericídio.

Essa fala do Kalil está muito ligada a uma certa tensão que existe entre evento da cultura e cultura do evento. Por todo o processo de popularização do futebol no Brasil, o futebol ocupa um espaço de ascensão, de acessibilidade, a chance de se inserir de uma maneira, diferente. O futebol tem esse peso simbólico muito grande, de representar essa ideia. A imagem do Rei Sueco cumprimentar o Pelé e o Garrincha. Esse grande evento da cultura que é o futebol, orgânico, ao mesmo tempo que o Estado tentava utilizar o futebol… isso foi tragado pela cultura do evento, sobretudo nos anos 90. Nesse sentido, há um processo de deslocamento. O que passa a valer é o futebol visto como produto, do torcedor como consumidor. Ele é tragado pela cultura da economia, pela cultura do retorno. Isso cruza com outras coisas como lavanderia do crime organizado. Eles tragaram o futebol, cultura do evento.

Ele diz sobre o país não sobre o futebol somente. Quando se diz que no estádio não cabe o pobre, é que no país não cabe o pobre.

Quando você pega os discursos que vieram com o fim da geral do Maracanã, era contra o geraldino. Ele não vai torrar 120 reais em lanche no estádio. O que está sendo discutido é o país.

O futebol é um sintoma. Eu penso a partir do futebol.

O projeto de país é este: que mensura quem você é a partir da lógica de produzir a partir disso.

 

Xico Sá

Para não repetir o que ele disse de maneira excelente, eu pegaria a Copa feita no Brasil em 2014. Ela foi o marco disso tudo, um grande produto, que teria consumo e não cidadania. Para que colocar 200 mil no Morumbi se posso colocar 50 mil consumidores.

É uma escolha elitista do país.

O Kalil é um cara hiperbólico quis pôr na cara do pobre que aquilo não era para ele. A TV está deixando para o domingo o resto na TV aberta. Nem sempre é o melhor jogo. Ali não está tendo mais o grande jogo.

É um processo que está terminando na TV com o fim das gerais.

Retirar a ideia de ver futebol no campo a massa.

A torcida corinthiana muda inteiramente de perfil.

Eu presenciei jogos do Corinthians na Libertadores, antes do Mundial. Não era nem Arena, era o Pacaembu. Tinha o novo corinthiano indo ao estádio que não estava inserido no ritual, não sabia os cantos, os mantras. Esses consumidores recebiam o roteiro com as letras dos cantos. Era outro torcedor. Ele segue no Itaquerão.

Como modelo de negócios, pode ser extraordinário; mas como projeto de país, é péssimo.

O Kalil acabou sendo bastante pedagógico.

Hoje é muito difícil reverter isso.

Entregue a esse modelo, a gente vende jogador com 13 anos. Ele virou commodity como o aço no Brasil. Esse modelo que o Simas deu uma trajetória de quando começa fica no padrão FIFA. O jogo jogado de hoje é esse.

 

 

Aproximação do bolsonarismo com o Flamengo, ataque à reputação, aos jornalistas que cobrem o clube. Temos uma briga que pode ser positiva.

 

Luiz Simas

Eu tendo a não ser tão pessimista em relação ao término desse jogo. Quando vemos as Arenas, o projeto desses caras era muito pior, inclusive pelos movimentos críticos. Houve mobilização ali. De certa forma, o estádio vai sendo apropriado pelos torcedores que buscam uma brecha. O jogo está sendo jogado. Eu não acredito que não exista dinâmica. Nós estamos perdendo, mas tem jogo.

Uma operadora de celular, uma pesquisa estabeleceu que quase 80% entrou em uma rede social. O que importa é ele mostrar o que ele experimenta. São dinâmicas muito recentes.

Hoje eu vejo uma preocupação do torcedor de disputar o jogo. Nós estamos aqui por causa disso. Nunca o futebol foi tão estudado em nível tão alto.

Me parece que o torcedor está ativo, existe uma consciência de que o jogo está sendo jogado.

O projeto no futebol é o do país. Se ele deixar de ser marcadamente popular, é porque o país se abdicou de ser justo e igualitário.

Eu acho que tem brecha. A pressão dá certo. O torcedor é o baluarte da resistência. Tem dinâmica ainda. O futebol no Brasil é popular. A luta nele é por um país mais justo.

Da maneira como aconteceu, lembra muito do ruralismo do Sérgio Buarque de Holanda. Você vê um conchavo típico da Velha República. Em nome da modernidade, mergulha-se na política mais velha possível.

A Europa está rediscutindo esse modelo que vem matando os pequenos clubes.

O Rio de Janeiro tinha um elemento de sociabilidade do bairro inserida no futebol. A tendência desses clubes é sumir, desaparecer. Ou vai virar de empresário malandro que vai levar moleque de 12 anos para a Turquia, ou vai desaparecer.

 

Xico Sá

Eu fico feliz com a esperança do Simas. Esperança quando vem com consistência é fácil de pegar.

Todo esse esquema do futebol não vai suplantar um Fla-Flu. Ele transborda do Maracanã, sendo o antigo ou o novo e incendeia todo mundo.

Uma coisa que o Kalil faz é, mesmo com o sincericídio, é o porta-voz contrário dos cartolas deste momento, como o Landim. Ele parece ser um espertalhão de pegar carona no fascismo, que ajuda ali numa Medida Provisório. É casuístico, da política mais velha do processo. Ele não quer nem brincar com o time daqui, quer brincar com o Real Madrid. Ele foi em busca da FLATV quebrando contratos no meio. Deveria esperar acabar o contrato. É o cara que vai para o bastidor mais lamacento de Brasília. A MP é um artifício que o governo usa para ser o menos democrático possível. Esse modelo da cabeça e das ações dos dirigentes do Flamengo não batem com o do futebol jogado pelo time do Flamengo.

O coronelismo é o quercismo no interior de SP, ao aercismo em Minas.

Esse conchavo, essa aliança, é feita de quarta-feira à noite.

 

 

Queria ouvir de vocês a respeito de duas pessoas que faleceram de COVID-19: o Sérgio Santana e o Aldir Blanc, que se dedicaram aos elementos culturais do Brasil.

 

Luiz Simas

O Aldir tem uma coisa fenomenal. Era a obsessão pelo homem comum. Ele tentava observar tentando o cotidiano das pessoas comuns, do que tinha de tragédia e de sensacional. A música do Aldir é o cara que faz uma letra descrevendo algo corriqueiro (traição do homem). Ao mesmo tempo, ele entende o que representava o futebol para o cotidiano das pessoas comuns. O que interessava não era o futebol jogado, mas na cultura dos comuns. Vovelle → buscar os comuns. Quando ele vem, Tá lá o corpo estendido no chão, ele tem a dimensão do que representava o futebol, na alma das pessoas comuns. Ele transformava o corriqueiro numa epopeia. Aquilo que não tinha muita luz e mostrava o épico. Ele mostrava sob a perspectiva do torcedor.

No contexto do futebol estava tudo.

Pensar o futebol a partir das pessoas comuns, como lugar de pertencimento e de sentido de vida das pessoas comuns, é muito forte. Essa é a grande relevância do futebol no Brasil.

Na música popular, isso está muito presente. A preocupação do Aldir era com o homem comum, esse olhar da epopeia sobre o corriqueiro.

 

Xico Sá

O futebol e Aldir Blanc. Virou nome de lei, justíssima por sinal. Assim como ele próprio que não tinha nem plano médico. O Sérgio eu acompanho desde o primeiro momento o futebol como ficção. Talvez seja o maior trabalho nesse sentido. Futebol e ficção. Tem uma enxurrada de trabalhos. O futebol e a ficção sempre produziram de maneira acanhada. O Sérgio resolve isso. Ele consegue tornar ficção em futebol como quase algo orgânico. Talvez o primeiro texto dele, Na Boca do Túnel, 11 em campo e um time de primeira, o Sérgio nesse conto abre toda a caixa de ferramentas do que pode render o futebol para a ficção.

O conto era de um técnico bem cerebral que risca na lousa o esquema tático. Ele cria uma ficção genial.

O Rubem Fonseca também cria o cuspe do Gerson.

O Sérgio neste conto e no resto, Páginas sem Glórias, em que o personagem é um jogador de futebol, ele bota a alma do Rio de Janeiro inteira naquele conto de futebol.

Ele deixou para a gente uma herança, essa ideia de que o futebol pode render dramas sensíveis.

Qualquer cara mais experimentado como nós, se quer desenvolver algo no mundo da ficção tem que mirar ali no que o Sérgio Santana deixou. O conto dele sobre futebol não deixa transparecer por um segundo uma encomenda. Faz uma coisa extraordinária, de que o futebol rende uma puta ficção.

 

 

Futebol como fato social total. Talvez assuste dizer isso.

 

Luiz Simas

O futebol é um fato social total como o samba. no sentido de que pode pegá-lo como transcende a ele mesmo. Transcendência do campo. Ele cruza com as maneiras como você enxerga, com os sabores que você sente, com as roupas que veste, como você mata, morre, celebra, ama. Nesse sentido, ele é um fato social total. Há uma difenrença entre pensar o futebol e pensar a partir do futebol. Se pode pensar nos aspectos mais diversificados sobre o Brasil.

O futebol tem de ser pensado como elemento fundante do Brasil. A partir do futebol temos um arco imenso sobre os nossos modos de estar no mundo.

 

Xico Sá

O Sócrates defendia o futebol como disciplina de escola, de jardim de infância, como uma disciplina alternativa, é pelo futebol que o professor resolveria o problema de física, de portuguÊs. Esse moleque que ia mal na escola seria despertado se o futebol fosse usado como esse reforço na escola. Nesse desejo de participar mais da política, ele implantaria isso ou tentaria por esse projeto. Ele chegou a fazer essa fala em escolas. Ele chegou a praticar um pouco essa utopia, se é que isso é possível. O futebol seria um elemento que despertaria no aluno o gosto pela história, pela geografia. Era uma obsessão do Doutor Sócrates que só reforça essa fala do Simas.

Pelo futebol, explica a diferença social no Brasil.

Esse diabo é maior do que a gente imagina.

 

 

Dicas

 

Luiz Simas

Folha Seca, livraria fundamental no Rio, que luta para estar viva.

 

Xico Sá

22 contistas em campo

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#16 Craques e militantes com Juca Kfouri e Roberto Jardim

Os jornalistas Juca Kfouri e Roberto Jardim discutem rebeldia e atuação política de personagens do futebol.

Contaremos histórias de grandes jogadores que se manifestaram em favor da liberdade, justiça e democracia. E, claro, aprofundar a reflexão sobre até que ponto é possível esperar posicionamentos políticos de diferentes atletas.

As melhores histórias foram contadas no livro ‘Democracia Fútbol Club” escrito pelo jornalista Roberto Jardim e relançado pela Editora Ludopédio.

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#15 Observatório da Discriminação Racial no Futebol

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JULIA BELAS

Cada vez mais pessoas tem prestado atenção e se posicionado. Não consigo mais ficar calada.

Existe um conceito chamado interseccionalidade, você não tem como falar apenas sobre racismo sem considerar mulheres negras, LGBT, trans… Não tem como abordar racismo sem abordar essas outras vozes que não são ouvidas. Pras mulheres fica ainda mais restrito, porque ganham menos, têm menos espaço na mídia e precisam aproveitar pra manter a carreira delas.Você pode até falar sobre as dificuldades, como é ser mulher, como é ser mãe, quando vai racializar ainda é difícil, porque as pessoas não se posicionam tanto… Essa pluralidade que ainda não é vista…

Tá crescendo, mas também na hora de avançar.

É um debate que demorou tanto para ser feito, que eu não consigo enxergar após a pandemia como isso vai conseguir ser abafado. Talvez seja um pouco otimista da minha parte, porque são anos e anos abafando o assunto, mas não consigo enxergar as pessoas se calando. É um bom pensamento pro futuro.

Você não consegue pensar em racismo, sem pensar na mulher negra.

MARCIO CHAGAS

Tinha ambição de chegar ao quadro da Fifa, mas não consegui. Nem vejo isso como derrota. O futebol tem suas particularidades. A sua política.

No terceiro episódio que passei de racismo, em 2014, ouvi xingamentos por quatro vezes, antes de começar a partida, no fim do primeiro tempo, no intervalo e ainda ao encerrar a partida. “Negro”, “Macaco”, “Ladrão”, “Volta pra Selva”, “Volta pra África”… E o pior: “Matar negro não é crime, é adubar a terra”. Eu estive acompanhado em todo o momento pela Brigada Militar, que não fez absolutamente nada. Quer dizer, quem deveria me dar segurança e proteção estava compactuando com todo aquele crime. O que estamos fazendo aqui é resistência. Falando de um assunto que os clubes não querer abordar, que dizem que é chato, não precisa. Porque não é interessante politizar o ambiente. Quem está na esfera de poder é politizado e não quer que a parte mais baixa da pirâmide participe. O que mais se vê nos clubes é movimento político por conselhos e cargos. Como política e futebol não se misturam? Misturam, sim. Temos de ter força para potencializar esse assunto nesse momento para que continue depois. O que mais falta no futebol é a mentalidade coletiva. Ficamos nesse discurso do preto vencedor.

O que é de uma crueldade tremenda. Só conta os louros. Dos casamentos, não dos divórcios. A CBF é oportunista. Em cima de alguns casos, compra e banca uma propaganda midiática, mas não tem um trabalho efetivo de combate. O Marcelo nunca foi abordado pra falar sobre o trabalho que realiza. A CBF não tem interesse em combater. É outra entidade que adota um discurso da meritocracia. Sabe quantos árbitros negros no Brasil tem apitando?

O futebol brasileiro adota um discurso de democracia racial e até de alienação. Não colabora quase em nada para a consciência racial. Até me surpreendeu alguns brasileiros que jogam no exterior. Parece que temos de importar o debate. Os jogadores poderiam contribuir de maneira efetiva, não só com faixa e camiseta.

MARCEL TONINI

As pessoas sempre me perguntam se o racismo aumentou [por conta da divulgação dos dados e do aumento de casos registrados pelo Observatório], mas eu entendo que estão é tendo mais visibilidade, inclusive com contribuição da imprensa. Não significa que não existiam casos de racismo. Existiam, mas hoje temos um outro olhar sobre esses dados. Temos de transformar essa ação em vontade coletiva. Por que não manter essa luta constante?

MARCELO CARVALHO

A gente consegue ver uma mudança, mas a maioria das manifestações são peça de marketing. Elas têm uma importância porque mostram quem tem coragem de se manifestar.

Num segundo momento, vamos querer que tenham um posicionamento mais contundente. Por isso nasceu a última campanha: “poderia ser eu”. Para que tivessem um posicionamento um pouco mais forte. Nasce com a ideia de falar do genocídio da população negra.

Que a cada 23 min morre um negro no Brasil. Isso é subir um pouco o tom.

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#15 Observatório da Discriminação Racial no Futebol

Ludopédio em Casa #15 com Observatório da Discriminação Racial no Futebol

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Ludopédio convida Marcelo Carvalho, idealizador do Observatório da Discriminação Racial no Futebol para conduzir o programa especial sobre racismo e futebol. O programa ainda terá a presença da jornalista Julia Belas, o ex-árbitro Marcio Chagas e o pesquisador ludopédico Marcel Tonini. 

Confira alguns momentos da conversa:  

JULIA BELAS  

Cada vez mais pessoas tem prestado atenção e se posicionado. Não consigo mais ficar calada.  Existe um conceito chamado interseccionalidade, você não tem como falar apenas sobre racismo sem considerar mulheres negras, LGBT, trans… Não tem como abordar racismo sem abordar essas outras vozes que não são ouvidas. Pras mulheres fica ainda mais restrito, porque ganham menos, têm menos espaço na mídia e precisam aproveitar pra manter a carreira delas.Você pode até falar sobre as dificuldades, como é ser mulher, como é ser mãe, quando vai racializar ainda é difícil, porque as pessoas não se posicionam tanto… Essa pluralidade que ainda não é vista…  Tá crescendo, mas também na hora de avançar.   É um debate que demorou tanto para ser feito, que eu não consigo enxergar após a pandemia como isso vai conseguir ser abafado. Talvez seja um pouco otimista da minha parte, porque são anos e anos abafando o assunto, mas não consigo enxergar as pessoas se calando. É um bom pensamento pro futuro  Você não consegue pensar em racismo, sem pensar na mulher negra.

MARCEL TONINI  

As pessoas sempre me perguntam se o racismo aumentou [por conta da divulgação dos dados e do aumento de casos registrados pelo Observatório], mas eu entendo que estão é tendo mais visibilidade, inclusive com contribuição da imprensa. Não significa que não existiam casos de racismo. Existiam, mas hoje temos um outro olhar sobre esses dados.  Temos de transformar essa ação em vontade coletiva. Por que não manter essa luta constante?

MARCIO CHAGAS

A CBF é oportunista. Em cima de alguns casos, compra e banca uma propaganda midiática, mas não tem um trabalho efetivo de combate. O Marcelo nunca foi abordado pra falar sobre o trabalho que realiza. A CBF não tem interesse em combater. É outra entidade que adota um discurso da meritocracia. Sabe quantos árbitros negros no Brasil tem apitando?   O futebol brasileiro adota um discurso de democracia racial e até de alienação. Não colabora quase em nada para a consciência racial. Até me surpreendeu alguns brasileiros que jogam no exterior. Parece que temos de importar o debate. Os jogadores poderiam contribuir de maneira efetiva, não só com faixa e camiseta.

MARCELO CARVALHO

A gente consegue ver uma mudança, mas a maioria das manifestações são peça de marketing. Elas têm uma importância porque mostram quem tem coragem de se manifestar. Num segundo momento, vamos querer que tenham um posicionamento mais contundente. Por isso nasceu a última campanha: “poderia ser eu”. Para que tivessem um posicionamento um pouco mais forte. Nasce com a ideia de falar do genocídio da população negra. Que a cada 23 min morre um negro no Brasil. Isso é subir um pouco o tom.

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#14 Futebol e Democracia com José Paulo Florenzano e Gabriel Said

Futebol e Democracia em pauta!

Quando a força da arquibancada se torna protagonista na luta contra o fascismo, futebol e democracia se tornam ideias inseparáveis. Com a participação de José Paulo Florenzano e Gabriel Said, o Ludopédio em Casa debateu a importância das organizações de torcedores de futebol em prol da democracia.

A luta antifascista é a pauta prioritária no país. Dentro dessa luta, o antirracismo surge como o assunto mais comentado nos meios de comunicação, tendo em vista a repercussão do caso George Floyd nos EUA. Discutir a defesa da democracia e combater o racismo são a pauta do do Ludopédio em Casa #14!

Conheça a coluna Danúbio Azul de Gabriel Said no Ludopédio.

Conheça a coluna República do Futebol de José Paulo Florenzano no Ludopédio.

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#14 Futebol e Democracia com José Paulo Florenzano e Gabriel Said

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Análise geral do cenário em 2020. Impressões desse cenário? Aniversário do Maracanã.

FLORENZANO

O futebol conseguiu destravar um pouco uma certa paralisia do campo progressista diante da situação dramática que estamos vivendo. Crise na área da saúde. Desgoverno em que estamos. Ao lado dela, a crise econômica e a política. Nós, o Brasil, ainda acrescentamos uma crise política.

Vivemos uma encruzilhada em nossa história.

Alguns atores tomaram a frente no campo progressista, programaram ações contra o autoritarismo.

Esporte e democracia.

Grupos dentro das torcidas e os coletivos organizando setores na frente democrática.

Esforço tem que ser de todo mundo para tentar conter essa escalada autoritária. A democracia custou muito, foi fruto de uma conquista da sociedade civil.

É absolutamente estarrecedor pensar que há menos de 50 anos estávamos em uma ditadura e hoje estamos em algo talvez pior do que a ditadura. Não é a repetição de um autoritarismo passado. Se for adiante, esse cenário levará a algo ainda pior do que foi a ditadura.

SAID

Eu sou estudante de Sociologia da UFF, sou orientando do Marcos Alvito.

Estou acompanhando a manifestação das organizadas de longe. Acompanho muito pelo que o Irlan Simões tem argumentado.

Eu vi um pouco de preconceito com as torcidas organizadas como se elas não fossem politizadas.

Como você viu uma disputa dentro dos coletivos e das torcidas? Democracia corinthiana, antifascistas palestrinos

FLORENZANO

Não estou envolvido diretamente nessas manifestações. Estou acompanhando de longe, através de relatos e colegas.

Sempre acompanhei com otimismo essas primeiras ações.

Não eram as torcidas organizadas, mas coletivos.

A Gaviões da Fiel tem uma tradição, se situa mais à esquerda no espectro político.

É exagerado falar que era a torcida organizada do Corinthians. Aí houve um esforço para criar essa narrativa.

Por outro lado, não dá para falar só em torcida.

Não se pode falar em nome da Gaviões, mas pode organizar um grupo antifascista. Tem todo o direito a participar de um ato antifascista.

SAID

O Ludopédio ficou no bastidor, não fomos à rua. A gente debateu sobre a representatividade desses grupos. O lugar do torcedor. Qual sua expectativa de isso se tornar maior do que vimos até o momento?

FLORENZANO

Eu acho que está em aberto. Você pode pensar que essas iniciativas evoluam para arrastar mais gente para as ruas, de convencimento de pessoas, colocando acima das paixões clubísticas.

Lembremos da Primavera Árabe. Os dois clubes locais se colocaram na luta em comum pela derrubada do Mubarak.

Essa é uma batalha no plano das ideias.

Qual o projeto? Defender a democracia. É uma causa que comporta essa utopia. Devemos fechar numa causa comum.

Hoje o grande risco é permitir que essas manifestações sejam infiltradas por grupos que querem quebrar a ordem para justificar o uso das Forças Armadas.

É preciso estar muito atento. Lutar por democracia sempre e violência jamais.

É momento de muito cuidado nessas manifestações.

SAID

Criminalização das torcidas. As pessoas esperam por isso para banir as torcidas. Esse contra-ataque não pode ser um ataque contra?

FLORENZANO

Certamente é uma armadilha. Ela existe. É mais um motivo para que as manifestações sejam bem organizadas para evitar de cair nela.

Por outro lado, existe uma possibilidade histórica de luta.

Tudo é muito incerto.

Tem um caldo de cultura. O desemprego, pessoas passando fome.

Eu também tenho receio dessa armadilha.

Eu também temo pela criminalização das organizadas. Colocar a pecha de terrorismo e levar adiante essa intervenção.

SAID

As TOs vivem na criminalidade sempre, pelo menos de acordo com as forças de repressão da polícia.

É com a rua que esperamos fazer algo contra o governo.

Por um lado é verdade que o governo pode usar isso para impor ordem. Por outro, é pelas ruas que sairemos disso.

Papo sobre liderança e tática/estratégica de rua. A polícia já tem lado. Ganhou simpatia o movimento antifascista? Tem um esvaziamento dos grupos políticos mais organizados? Ocupações de rua acabaram gerando historicamente outras consequências. Frente ampla da esquerda? Se até torcidas estão indo juntas às ruas… Quadros políticos progressistas.

FLORENZANO

Tão dramático perceber que existe uma força autoritária com um projeto tenebroso para o país, é ver a esquerda sem ação conjunta.

Não acho que vai ser a reprodução do autoritarismo de 64, repito.

Não acho que tem sentido neste momento debate de divergências na esquerda.

Frente ampla pela democracia. ARticular essas forças. Desde as organizadas até os liberais que não fecham com esse processo autoritário.

Resgatar as Diretas Já. Tinha vários espectros.

Essa é a questão hoje.

Segundo, essa questão é dificílima de discutir: o papel da violência e da manifestação de massa.

Martin Luther King: apostou ao máximo até seu assassinato.

É difícil avaliar essas armas, essas estratégias, sobretudo quando o movimento de massa toma as ruas.

Se a estratégia de luta for não violenta, isso é muito bom. Com a Diretas Já foi assim.

Estratégia da não violência sempre. Sempre.

SAID

Manifestações de corinthianos em Brasília. Acompanhou isso? Qual o relato sobre essas impressões? Qual o clima em Brasília? A grosso modo, a ficha virou para o lado progressista.

FLORENZANO

SAID

As manifestações aqui em Brasília não foram a primeira vez que acontecem. Essa divisão já ocorreu antes. Se tiver violência, é problema pelo espaço amplo…

Acho que aqui não é tão diferente assim. De uma forma geral, está tendo uma boa aceitação desse movimento de torcida organizada. Na tentativa de movimento amplo pela democracia.

Talvez aqui tenha um pouco mais de dificuldade por conta de movimentos organizados da direita, de 31 de maio.

Mas tem uma resistência.

Texto do Roberto Requião, crítica sobre as manifestações, sobre falta de pauta objetiva, luta pela democracia pouco palpável, criticou as Diretas. Para ele foi um fiasco, já que a Emenda não foi aprovada. A frente ampla para ele é um objetivo difícil de ser alcançado. O que pensa disso?

FLORENZANO

De fato, a campanha pelas Diretas Já teve acordos que traíram o movimento. Falar em fiasco é forte. Tem um movimento traído, digamos assim. Mas eram as possibilidades que estavam em jogo naquele momento. Havia uma história em aberto que poderia levar a uma democracia mais participativa. Por outro, um acordo político das elites por uma democracia representativa.

Falar em articular uma frente, hoje é um cenário diferente. Nossas escolhas, todas, estão colocadas em pensar a liberdade de imprensa, de expressão. Não é a mesma situação das Diretas Já.

Há claramente um projeto autoritário de armar as milícias. Não cabe neste momento de falar em caráter abstrato de discutir democracia. É objetivo, sair à rua e não ser preso por pensar diferente.

Para além desse círculo instruído de classe média alta, é falar para os outros o que significa a democracia ,para pobres e negros que não têm os direitos civis respeitados. É o que disse Martin Luther King. Como diz o Gramsci, é uma batalha de ideias. Quantas vezes ouvi de pessoas humildes, “pelo menos ele deu os 600 reais…)”

Para mim é o projeto urgente em defender a democracia.

SAID

Estou de acordo com o professor.

Uma das questões sobre a frente ampla está no centramento do problema na questão econômica. Ela está conectada com tudo o que o governo está fazendo.

Analisar a questão do outro grupo, daquele que está atentando contra a democracia, do discurso linguístico de inverter o jogo das ideias para tentar tirar os argumentos da esquerda? Como fazer esse debate trazendo o futebol, como qualificar o debate?

FLORENZANO

SAID

O futebol está tomando desde os anos 90 uma guinada econômica.

A coluna que escrevi tento fazer uma ligação entre economia e sociedade.

Articular o boxe com essa discussão. Parte 6 – A revolta racial no Harlem prenunciava os acontecimentos dramáticos nos anos 1960. Se você não estivesse colocado a data, pareceria que estava falando de hoje. Por que caminhamos e não saímos de 64, como escrever uma nova história diante desse quadro? A polícia tem uma só opção.

FLORENZANO

Eu tenho procurado resgatar a luta pelos direitos civis nos EUA. Não é uma questão doméstica, como ficou clara agora no caso George Floyd. Porque aquilo tocou fundo com aquela violência simbólica.

É tentar extrair dali algo que sirva para a luta presente.

A violência policial ocorre no Brasil.

A democracia é o direito de ir e vir sem ter seus direitos violados. Resgatar essa passagem tem me ensinado muito nessa miragem. Às vezes pensamos que a estrada está pavimentada, que as conquistas são cumulativas. Mas não.

A todo momento desde os anos 50 temos violência policial.

Tivemos vários movimentos e a cena se repete.

É difícil superar a estrutura racista.

É entender como o racismo vai se reinventando. A sociedade dos EUA os grupos hegemônicos reemprendiam um movimento de reinstituir a segregação.

Esse mergulho tem me ensinado como o racismo não é algo passado, ele se reinventa, tem estratégia.

As pessoas que estão no poder no Brasil estão comprometidas com essa questão.

SAID

Personagem do Pelé, silêncio dos atletas negros que não se manifestam. Queria que desse seu olhar sobre isso, pressão sobre o posicionamento dos atletas?

FLORENZANO

Muito legal a reflexão do Gabriel.

Muitos ativistas têm colocado: a maneira como o mito da democracia racial tem funcionado no Brasil. Coibir qualquer reflexão, romper com o mito.

Vocês estão de parabéns pelo debate com o Observatório.

Sobre o Pelé… ele é uma figura fascinante. Ele, claro, é contraditório. A maneira como ele tentou a todo momento se eximir dessa questão.

Um ponto importante. Passou batido por ele ser claramente vítima do racismo. Esse episódio. O episódio que deixa claro isso é quando ele decide sair da seleção brasileira. O quanto foi chantageado, pelo João Havelange, para continuar sendo instrumentalizado pelos militares. Agora ele queria servir à sociedade brasileira de outra maneira: visando lucro, no capitalismo é legítimo, queria ser empresário. Foi cobrado, taxado de mercenário.

“Teu lugar é no futebol, espaço para o qual os negros são canalizados.” Ser empresário não era algo disponível, nem para o Pelé, que ele acreditava estar acima do poder.

A imprensa na época usa e abusa de charges e frases abertamente racistas contra ele.

SAID

Eu li o texto do Marcelo, excelente texto.

A gente está com o terreno preparado para que ninguém se manifeste.

No futebol americano, tem o Kapernick. Tem o Aranha, que se posicionou e sumiu.

Hoje a gente pensa o futebol diferente. Há media training. Há pressão para que não se posicione.

No dia 07 de junho, um jogador do PSV foi às manifestações vidas negras importam e foi afastado do elenco.

O Raí também foi criticado na Globo.

Falta de negros como dirigentes e técnicos?

FLORENZANO

Essa questão também é nuançada. É bem-vindo para ser técnico de base, na segunda divisão. O lugar dele no futebol é dentro de campo, não fora.

SAID

Documentário “Last dance” Trajetória do Chicago Bulls e Jordan. Dá para fazer associação com o Pelé. Ele estava focado para ser o melhor do mundo. Só pensava o jogo. Ele tinha tempo para fazer boas propagandas, em inúmeras campanhas de marketing. Como fica o espaço do contraditório nessa narrativa? Tem a figura do próprio Neymar. Tem como alcançar outros lugares na estrutura?

FLORENZANO

Eu não vi o documentário. O Jordan pautou a carreira dele pelo apoliticismo. A Nike hoje mudou, patrocinou o Kaepernick. Ele seguiu o apoliticismo. Tentou evitar por tudo aquilo que o documentário mostra. Os Ronaldos… Ele se negou a apoiar um democrata dizendo: “Os republicanos também compram tênis.”. Ele também se eximiu em outro momento. Ele tinha muita preocupação em não se posicionar.

A contradição dele é: se não fosse o Ali e outros atletas que pagaram com suas carreiras, Smith e Carlos, se não fosse esses caras, o Jordan não poderia ter o sucesso que ele teve. Ele não poderia se inscrever na Carolina do Norte e ser um dos melhores atletas de todos os tempos. Aqueles atletas permitiram isso a ele.

SAID

Tem outros jogadores que se manifestam. O Sterling, o Rashford também se manifesta. Não sei se é por falta de atenção ou por medo de perder contrato.

O. J. Simpson, símbolo de sucesso do esporte americano. Ataque a ele como racismo usado pelos republicanos. batalha de discursos, foi usado pelos conservadores. Vamos pensar juntos. Será que esse momento é a hora de puxar a pauta antirracista para o antifascismo? Que democracia é essa que o policial não deixa de puxar o gatilho contra pretos e pobres no Brasil? Que lugar que estamos em relação aos Estados Unidos?

FLORENZANO

Eu não acho que sejam coisas distintas. A defesa da democracia. A democracia é um conjunto de regras, ideias, direitos. Defender os direitos das pessoas de não serem violentadas. Isso é defender, ampliar a democracia para grupos que são violentados. Um grupo vive sob terror, de ser espancado ao descer de um carro. Outro é diferente.

Este é o momento em dar esse conteúdo à palavra “democracia”. Nós não teremos democracia se a luta antirracista não estiver dentro dela.

SAID

Essa relação está conectada desde sempre. Sobre as manifestações aqui no Brasil de não ter tanto barulho quanto lá. Eles já tiveram outras revoltas de uma maneira que não tivemos aqui. Normalmente, quando acontece aqui esse tipo de violência está muito localizado, isolado e distante. Talvez a ruptura lá esteja mais latente do que aqui.

Caio e Casagrande. Como acompanharam esse debate? De tempos em tempos isso volta. Jogadores falando de política. Mesmo que em alguns momentos que isso se volte a apoiar o Bolsonaro, como o Pato.

FLORENZANO

Nesta discussão do Caio com o Casagrande, é preciso fazer uma distinção. Uma coisa é se manifestar em defender um político em uma eleição. A discussão do Casagrande é defender um projeto civilizacional. Viver na democracia é civilizacional, simples assim. As pessoas não têm memória do que é viver em um regime autoritário.

O debate para mim está muito claro. O que é incompreensível é a omissão neste momento. Não dá para ninguém se omitir neste momento. Não é uma questão partidária, sequer ideológica. É em defesa da vida democrática, que inclui o direito político, mas civil, social.

Se espera que os atletas, pelo menos os que têm consciência, se manifeste.

Eu tenho certeza que a direção do Palmeiras vai lamentar profundamente a imagem da comemoração do título de 2018. Essa imagem vai envergonhar a história do Palmeiras. Vai custar muito a imagem simbólica do clube… A conta vai chegar.

SAID

O Igor Julião é formado no Fluminense. No tempo fora do Brasil, na Eslovênia, ele pegou o gosto pela leitura e passou a pensar. Ele é reserva. Mas é importante ter alguém no elenco que se manifeste politicamente. São coisas que ficam marcadas, essa relação com o presidente e a luta pela volta do futebol.

Pensando de novo nos clubes, ele não vestiu a camisa do São Paulo, provavelmente por um discurso machista, homofóbico. O Marcos sempre se posicionou de maneira objetiva. Ele foi criticado no vestiário. Você esperava dele uma posição contrário a esse governo ou ele é fruto de um local conservador? Como que ele pode trazer a figura do Diniz nesse embate discursivo?

FLORENZANO

Claro que fico decepcionado com o Marcos, por tomá-lo como ídolo. Não me incomoda em ver um ídolo ter votado num candidato conservador, liberal. Na Democracia Corinthiana, o Biro Biro votava na direita. Eu espero que o Marcos consiga avaliar a escolha que ele fez.

Embora não se pode falar que o Bolsonaro não se revelou antes da eleição.

Por um lado, as pessoas têm direito de optar por suas escolhas.

O autoritarismo não é privilégio da direita.

Eu espero que esteja claro que um contingente votou nele com uma expectativa. Espero que agora ele tenha um distanciamento crítico de reavaliar suas escolhas.

SAID

O Diniz sofre pelo modo que entende o futebol. Ele acha que pelo futebol pode repensar a vida, acredita que a forma dele de pensar o jogo, ele pode repensar a vida. 

Dicas?

FLORENZANO

Documentário no canal Curta, “O Movimento Negro”. São vário episódios. É excelente. Do Luther King ao Malcolm X. Fica muito apropriado para o Futebol em Casa.

SAID

Três: clubes associados com o desgovernante do Brasil: recomendo o livro chileno Luiz Urrutia: “Colo-Colo 73”, documentário do Peleja, livro do Luis Antônio Simas.

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#13 Puntero Izquierdo e Guilherme Trucco

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Literatura, ficção e futebol

Paulo Junior (jornalista)

Para mim, a coisa mais gratificante é a gente ter chegado a bastante gente. O Puntero é filho do Impedimento.

A gente sonha com o Puntero ser o lugar de promover e reunir uma produção ficcional sobre futebol.

246 textos. Fechamos em 40.

Encontramos texto com raiz literária, com história, curva narrativa e o futebol perpassando tudo.

Tem aquele relato cronista mais comuns. Relatos factuais do futebol. Pênalti.

Relato de torcedor clássico, crônica esportiva cotidiana.

Valorizamos a diversidade.

Uma chamada de ficção trouxe muita gente diferente. Alcançamos uma camada de pessoas das quais não temos muito acessos.

Queremos dar vazão a essa produção ficcional.

O número (246) fala por si só.

Quais abacaxis nesse trabalho?

PAULO

O critério nosso era subjetivo, lógico. Originalidade do texto, relação com futebol, fluência da história, qualidade em geral.

Chegamos a uns 50-60 textos acima da média. Enxugamos.

Fiquei com medo de o torneio ficar muito longo.

A gente foi enxugando e chegamos em 40. Criamos grupos e cada um ficou com 5.

Tivemos textos “cabeças-de-chave”.

O restante sorteamos para não deixar muito parecidos em cada grupo.

Fizemos um misto de nosso gosto pessoal, pensando no leitor do Puntero, e essa divisão por grupos.

Pensamos em uma votação popular para os premiados.

Não queríamos entrar com uma coisa de júri. Achava que isso engessaria um pouco. Ele teria de contemplar uma pluralidade, daí passar para o público.

Tentamos deixar uma coisa anônima.

Um autor ou outro publicava o nome e pedia votos.

Queríamos premiar o texto e não de seguidores de rede social.

Jogamos para a galera votar.

PAULO

A votação era mais dos próprios autores ou dos leitores?

Tivemos votação bem maior do que de inscritos. Alguns grupos pelos times e textos foram bem disputados.

Conseguimos criar um público fiel que acompanhou todas as votações.

Os novos contistas são reminiscentistas. Acho que tem isso. Nossa referência de relato de futebol ainda é muito masculina, do moloque de ir sempre a estádios. Pelo enredo das histórias, muitas delas são do rolê para o estádio e como o futebol influencia a vida das pessoas. Essa relação da memória do futebol com a vida. Muito masculina, de pai para filho. Tem um certo padrão.

Pessoalmente, os textos que mais gosto são aqueles que fogem disso.

Acho que tem uma coisa que somos muito influenciados pela crônica. É do épico. Do palmeirense que ama o Galeano, do corinthiano que gosta do Wilson Mano.

E tem uma característica que o futebol é metáfora do cotidiano, da vida. É algo difícil de ser feito. Os 40 textos dão conta, respondem bem a esse desafio, de trazer esse futebol e virar história.

Precisamos ver o futebol em outros lugares também. Tentar se emancipar do relato da crônica, do Mario Filho, do Nelson Rodrigues. E também se libertar dessa coisa do futebol explicando minha vida.

Se o futebol é tão importante em minha vida, onde consigo colocá-lo? Uns textos têm mais futebol, outros menos. Eu, pessoalmente, prefiro os que têm menos.

Mulheres

Tinha 15 inscritas, 6 ou 7%.

No torneio, foram selecionadas 3.

O que vem daqui em diante?

Até para completar o que falaram do livro, acho que o torneio é diferente de um livro. O torneio é uma parada. Escrever, inscrever e acompanhar o trabalho, o que o público está achando.

O torneio não teve revisão nem edição dos textos.

Obviamente, todos aqueles 40 textos teriam qualidade para virarem livro. Para mim, torneio é torneio, livro é livro. Sou bem resolvido com isso.

A gente como site não temos capacidade para isso. Nós podemos nos assumir como conteúdo de internet.

Super-entendo a importância do livro, mas acho que esse torneio na internet funcionou muito bem.

Para o futuro, terão outros torneios. O Puntero é isso. Vai seguir fazendo chamados, remunerados. Sempre é um foco do Puntero remunerar o trabalho. O caminho é continuar tentando viabilizar verba para viabilizar conteúdo.

Por que não pensar outras formas de chamado?

Sobre viés político e pautas identitárias:

Eu tenho um palpite. O lance da ficção assusta um pouco. A maioria das pessoas envolvidas não é escritor. Acho que tem uma questão de linguagem. Quando abrimos chamada de pauta, esses chamados passam muito por isso. Passam por pautas quentes, pelo que se está passando pelo futebol. Vão estar sempre falando de politização. Tivemos pautas muito lidas, sobre homofobia, sobre política, sobre a camisa do Rivellino, textos de ditadura. Tudo isso está tão presente no jornalismo.

As próprias pautas da Copa América 2019 falavam de algo paralelo. A gente como veículo independente, que em tese para o leitor, não tem vazão na grande mídia. As pessoas entendem a pegada do Puntero.

A ficção é mais difícil de trabalhar mesmo.

Isso faz sentido.

O professor Zeca Marques. A crônica tinha um sentido de relato histórico. As crônicas eram um relato da história do jogo com o resultado ao final do texto.

A crônica virou um elemento do jornal. Ela virou um lugar para reflexão.

A nossa relação com a crônica é tão grande que isso fica de lado.

O Puntero é culpado disso também, que é essa coisa do futebol que não está na grande mídia. É uma coisa vaga. A gente nega tanto o futebol pop, mainstream, temos uma síndrome do time pequeno. Vamos olhar para frente. Vamos falar do Flamengo, do Corinthians também. Não temos só que falar do Brasil de Pelotas. O freelancer independente tem de ir para o mainstream também.

Lugar do texto de futebol com olhares sensíveis:

A crônica esportiva na concepção clássica está em desuso. Ninguém vai dormir sem ver um resumo em vídeo das partidas.

Qual foi o grande texto sobre o 7 a 1? Eu sempre me apeguei aos mundiais pré-1970. A gente teve uma Copa no Brasil, mas ninguém leu textos.

Gosto do Tostão, do Mansur, do Martin… Mas eles não estão na pauta do dia. Tem uma questão de formato.

O futebol deixou de ser algo contado. Talvez ele vai acabar ser cada vez mais literário. O livro do Simas é ótimo. Ou vamos pelo caminho ensaístico, como um perfil na Revista Piauí.

Essa briga do texto estamos deixando passar no sentido de imagem ser protagonista do futebol hoje.

Não dá mais para debater.

Como contar a história do jogo resolvido no VAR? As pessoas estão cagando para seu texto.

A linguagem do celular é o da imagem. O texto fica perdido. Talvez o Puntero pudesse retomar o Impedimento. Poderíamos pegar a final da Libertadores e colocar seis pessoas escrevendo de forma original sobre ela.

Quem pauta o imaginário? A crônica está no Mauro Cézar, no PVC. O subjetivo está com eles.

Por que nas Copas do Mundo, os jornais trazem pessoas de outros lugares? Por causa disso. Para trazer pessoas de outros lugares, para falar não do factual.

Em nossa rotina, eu estou junto nesse debate. Precisamos reconquistar esse espaço. Precisamos sair da ditadura da imagem. Parar de discutir se o jogador se jogou ou não.

Pensando numa geração mais jovem, não é só a ditadura da imagem, mas o da estatística. A gente está na merda. A gente que gosta de imaginar o futebol, a objetividade pautou a discussão mesmo.

O Messi alcançar o número de gols do Pelé é simbólico nesse sentido. Isso não é pachequismo, não é coisa de brasileiro saudosista. Como argumentar que o tamanho do Pelé não foi só forjado em campeonato? Esse é um longo papo, de entender como combater a objetividade extrema.

O comentarista da TV parece o explicador de filme no início do séc. XX.

A crônica, se não falar do subjetivo, está a serviço da imagem mesmo.

Considerações finais:

Só agradecer também.

Indico o texto do Guilherme mesmo. Seu texto se alinha com o que a gente falou, de levar o futebol para outros lugares.

Vou indicar dois livros bem aleatoriamente:

“Entre as quatro linhas”

“Contos da várzea e outros blues”

“Flamengo é puro amor”, Zé Lins do Rego.

Acho que tem uma narrativa em disputa mesmo. Esse nosso movimento faz parte de tratar disso também, de inaugurar olhares. Essa coisa não se perdeu. Precisamos pôr a mão na massa. Tem a próxima geração. O futebol é muito de criança. Precisamos pegar essa juventude que sai do jogo e quer ler textos bacanas.

Léo Lepri (jornalista)

Classificação dos textos – pergunta

O que fazer com a quantidade de textos?

Ainda não sabemos o que fazer, mas queremos dar visibilidade a todos os textos enviados.

Tinha um texto sobre um mascote do Botafogo que era maravilhoso.

Fizemos quase uma defesa de cada texto.

Virão outros torneios para pessoal que faz outro tipo de produção (charges, por ex.)

O dinheiro do Apoia-se deve retornar aos leitores e produtores de texto.

Vamos ver o que vamos fazer com esse material…

Que acha da votação ser no escuro? Mudaria o resultado?

O Paulo é bem mais prático do que eu.

A gente achava que o anonimato era importante para que os autores não pedissem votos para seus seguidores.

A gente pedia boa fé das pessoas.

Acho que deu certo.

No comentário, no Twitter, no Puntero, houve a revelação das autorias de cada texto e até mesmo da escolha dos times. Teve bastante envolvimento com os leitores.

Tentamos pegar esses times sem tanta visibilidade no futebol sul-americano para fugir do estereótipo dos times tradicionais, como por ex. Colo-Colo e Racing. Mantivemos o anonimato com essa capa de anti-heróis.

Nesse sorteio, escolhemos times underground para não gerar mobilização pelo nome dos autores e também dos times dos países sul-americanos.

O que mais te chamou, o que te deixou mais contente ao ler os textos?

Gostava das histórias em que o futebol era perpendicular à história. De alguma forma, o futebol acontece, é o estopim, mas não o protagonista da história.

O que mais me surpreendeu foi a quantidade de contos que fizeram esse trabalho.

A ideia era 32 textos, mas precisamos fechar em 40 para abarcar todos os textos muito bons.

Fomos surpreendidos por ter muita gente produzindo e muita gente com qualidade.

É claro que temos nossas referências, como o Trucco falou do Sérgio Rodrigues. Até o Borges, que falava que o futebol não servia para isso. Hoje tem muita gente boa. Descobrimos que tem muita gente falando de futebol sem falar exatamente de futebol.

Mulheres

Tivemos um grande número de torcedoras do Paysandu. Acho que caiu o edital do torneio no Whatsapp dessas torcedoras.

Sobre a ausência da política:

Os textos foram muito mais suaves. Fizeram parte, mas de modo suave. Tivemos textos que falavam de homofobia, racismo, mulheres, mas acho que conseguimos equilibrar os grupos para que não caíssem esses assuntos em um mesmo grupo. Até para não ficar pesado. Queríamos que eles não competissem entre si, mas que todos eles tivessem possibilidade. Às vezes um texto aparecia como azarão e um texto com essa discussão perdia de lavada.

Conseguimos identificar a quantidade de pessoas que liam do que de votantes.

Ficamos surpresos com textos que não eram de panfletagem aberta, mas que não deixavam de abordar esses assuntos.

Falou-se de tudo.

Concordo com tudo o que o Raul já disse.

Tem o cara que quer o relato factual, tem o cara que quer a leitura de um determinado jornalista e tem aqueles que querem visões com mais dedicação aos assuntos.

O Puntero surge com a proposta de fazer uma grande reportagem por mês. Queríamos fazer a roda do jornalismo girar.

Queríamos dar vazão para alguém que tinha um tempo maior para escrever.

Existe público para tudo.

O pessoal da Trivella consegue fazer esse trabalho de modo equilibrado.

E existe vitrine para tudo.

O grande segredo é como fazer essa roda girar.

É o momento de reconhecer a produção de sites, revistas, editoras que trabalham nesse caminho do financiamento.

Eu me canso de ler crônicas que trazem um “resumo” do jogo.

As produções com mais tempo são a proposta do Puntero. Queremos diversificar não só nessa pauta de literária e de ficção e também àquilo que está para além do Boletim de Ocorrência.

Considerações finais:

Queria só agradecer mesmo.

Recomendo a gente mesmo: Ludopédio, Puntero, Trucco e Dolores.

O Puntero não tem dono. A porta está aberta.

Guilherme Trucco (colunista)

Como foi lidar com a expectativa de não poder revelar ser autor de um dos textos? Ponto de encontro com a literatura do futebol.

Vou falar de minha experiência como participante.

O esquema todo foi muito interessante, a escolha dos times.

Quando vi os times que saíram, achei muito bom.

A gente só descobria quando os grupos eram publicados.

Essa divulgação dava a oportunidade de ler os textos dos outros e com a emoção de achar o seu próprio texto. Esse sistema foi bem interessante. Criou essa integração.

Eu concordo com o Paulo.

O futebol como pano de fundo.

Sérgio Santana, Michel Lopes.

Prefiro sair desse saudosismo constante, das crônicas.

Falar do processo:

Eu tenho um projeto literário com o futebol. Eu gosto do realismo mágico, do Gabriel Garcia Marques e do Guimarães Rosa. O futebol está intrínseco na cultura brasileira. Tento juntar essas duas coisas. Tento fugir da crônica e tento trazer esse lirismo do realismo mágico. O futebol é realismo mágico. Tudo pode acontecer ali. E tem um viés político também. Meu projeto literário é encontrar histórias em que o futebol esteja como pano de fundo e que essa mágica, esse além, essa cultura seja o principal.

Tento trazer algum tipo de reflexão sobre o contexto. Esse é meu approach. Tento trazer o futebol para dentro de uma discussão. Tem tudo a ver com minha coluna no Ludopédio.

Considerações finais

O Woody Allen é um cara que gosto, mas não sei da onde veio isso.

Enfim, finalizando o tema em pauta, lançando o desafio, eu como escritor, um dos elogios mais bacanas é quando alguém diz: “Não gosto de futebol, mas gostei do seu livro”.

A literatura de futebol e essa literatura produzida no torneio tem essa capacidade de dialogar com todo mundo, com outras camadas. É onde está essa profundidade.

É difícil produzir texto nessa densidade com a internet.

Precisamos quebrar esse paradigma. Precisamos de tempo para pensar o futebol.

Meu livro é “Saída Bangu”.

Raul

Entrevista de ? para o Roberto Jardim.

“A vida é metáfora do futebol. Não o inverso.” Acho que é por aí.

Acho que o torneio de vocês fez com que muita gente se exercitasse para escrever sobre futebol ou que pelo menos compartilhasse esses textos para o público.

Pensando em literatura do futebol ficcional, eu gosto de algumas que encontro em viagens pelo Brasil. É uma literatura dispersa. O Guilherme traz mais a isso. Cenas específicas de algum assunto. A cena do punk, do dadaísmo. Está surgindo uma cena de futebol. Teve muita gente criada na virada do analógico para o digital. Tem gente que não suporta só o factual, do comentário de tv. Talvez a pandemia fez saltar isso. É a nossa sensibilidade. Alguém se vê escrevendo. Isso é cultura, arte.

Ao pensar nas crônicas em minha vida, lembrei-me que para entrar no Lance, onde trabalhei por 5 anos, a gente tinha que escrever uma crônica. Aquele romantismo de moleque começou a ser quebrado ali. Eu fiz parte de bastidor. Escrevia crônica vendo da tv, não no estádio.

Sim, tem muita gente que vai a estádio. Mas tanto está cada vez mais difícil ir a jogos, quanto massificou a transmissão de jogos.

15 anos atrás os estudantes de jornalismo tinham como teste escrever crônicas vendo pela tv.

Existia ali um padrão para se adequar a isso.

Às vezes você está fazendo o tempo real do jogo e ao mesmo tempo estávamos escrevendo a crônica do jogo. Não podíamos publicar depois de meia hora do jogo. E esse é um lado interessante também: o torcedor que via o jogo queria ler sobre ele.

Hoje há uma fragmentação tão grande também que muito empobrece as crônicas atuais. As melhores são as das crônicas de finais, de grandes jogos.

A crônica ter se perpetuado é muito ruim.

Precisamos, como no torneio, incentivar a escrever diferente. Não precisamos ler o texto no minuto seguinte do término do jogo. Quero o texto que escreva diferente. Não faz sentido o texto que só retrata o factual.

Considerações finais:

A experiência com o Guilherme tem sido bacana.

Eu entendo o depoimento meio pessimista do Paulo Júnior. Não tenho resposta imediata para o que ele trouxe. Eu provoco: vamos fazer a crônica de segunda-feira, vamos fomentar isso, incentivar as pessoas a escreverem.

Domingadas era uma pegada de ter o prazer de ler o caderno de esportes de domingo. É uma ideia. Eu espero que as pessoas se sintam provocadas a exercitar uma solução.

O torneio de vocês me animou, é muito mais qualitativo do que quantitativo, uma galera engajada.

Precisamos de pessoas que valorizem o trampo que a gente faz pelo trampo, não por nós.

Precisamos conseguir monetizar. Essa virada está para acontecer apesar dos tempos em que vivemos.

Dicas: Stanislau Pontepreta, “Bola na rede: as batalhas do Bi” e “O futebol”.

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#13 Puntero Izquierdo e Guilherme Trucco

O texto de futebol e o Torneio de Contos Mario Benedetti!  

O Torneio de Contos dos parceiros do Puntero já tem um campeão. Mais de 200 textos de todos os cantos do Brasil disputaram o título. O sucesso do projeto abre uma discussão importante a respeito do papel da crônica e literatura esportiva na construção do imaginário do futebol.

Pensando nisso, o Ludopédio em Casa recebe nesse episódio especial Paulo e Léo (editores do Puntero Izquierdo) e Guilherme Trucco, cronista e colunista do Ludopédio.

Paulo:

O critério nosso era subjetivo, lógico. Originalidade do texto, relação com futebol, fluência da história, qualidade em geral.

Chegamos a uns 50-60 textos acima da média. Enxugamos.

Fiquei com medo de o torneio ficar muito longo.

A gente foi enxugando e chegamos em 40. Criamos grupos e cada um ficou com 5.

Tivemos textos “cabeças-de-chave”.

O restante sorteamos para não deixar muito parecidos em cada grupo.

Fizemos um misto de nosso gosto pessoal, pensando no leitor do Puntero, e essa divisão por grupos.

Pensamos em uma votação popular para os premiados.

Não queríamos entrar com uma coisa de júri. Achava que isso engessaria um pouco. Ele teria de contemplar uma pluralidade, daí passar para o público.

Tentamos deixar uma coisa anônima.

Um autor ou outro publicava o nome e pedia votos.

Queríamos premiar o texto e não de seguidores de rede social.

Jogamos para a galera votar.

 

LEO:

Ainda não sabemos o que fazer, mas queremos dar visibilidade a todos os textos enviados.

Tinha um texto sobre um mascote do Botafogo que era maravilhoso.

Fizemos quase uma defesa de cada texto.

Virão outros torneios para pessoal que faz outro tipo de produção (charges, por ex.)

O dinheiro do Apoia-se deve retornar aos leitores e produtores de texto.

Vamos ver o que vamos fazer com esse material…

Que acha da votação ser no escuro? Mudaria o resultado?

O Paulo é bem mais prático do que eu.

A gente achava que o anonimato era importante para que os autores não pedissem votos para seus seguidores.

A gente pedia boa fé das pessoas.

Acho que deu certo.

No comentário, no Twitter, no Puntero, houve a revelação das autorias de cada texto e até mesmo da escolha dos times. Teve bastante envolvimento com os leitores.

Tentamos pegar esses times sem tanta visibilidade no futebol sul-americano para fugir do estereótipo dos times tradicionais, como por ex. Colo-Colo e Racing. Mantivemos o anonimato com essa capa de anti-heróis.

Nesse sorteio, escolhemos times underground para não gerar mobilização pelo nome dos autores e também dos times dos países sul-americanos.

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#12 Peleja e Doze Futebol

Ludopédio em Casa #12 com Peleja e Doze Futebol

PELEJA

Do nosso caso são audiências diferentes. No IGTV, a audiência é diferente. Tem gente que só consome a gente no Instagram. No Facebook, por ex., eu vejo que a galera é mais descontraída. No YouTube, o público está mais preparado para receber outras coisas. No YouTube são quase 500 mil pessoas inscritas. No Facebook, são 450 mil.

DOZE

 “Com a gente acontece a mesma coisa” O que a gente tentou fazer foi postar numa rede e colocar o link na outra.

A gente pensa muito em expandir, não ficar restrito ao YouTube. No Twitter, a gente faz threads. A gente usa Stories. A gente percebeu um pouco essa zoação, mais no Face.  Em Campinas, tem uma galera bastante mobilizada por conta do dérbi.

O que vocês acham das franquias da Red Bull espalhadas pelo mundo? Ex. futebol moderno.

 

DOZE

Pensando na linha editorial do DOZE, a gente tentaria pensar o que é o torcedor do Red Bull, a partir da fala deles. Esse é um debate muito presente e a gente tem que pensar bem. Tem de entender a lei sobre futebol empresa. No main stream, vi que exaltam demais. Mas existem diversos exemplos que isso deu errado. A ideia no Doze traria a discussão à tona para discutir com pessoas, como o Irlan. Tem de tentar ver com quem entende.

Em determinados momentos, a gente quer falar, trazer à tona questões que torcedores não abordam. Não estar exposto, dá uma sensação de que a gente está mais protegido, principalmente questões políticas.

A nossa voz, na edição ou no roteiro, sempre deixa presente nossa posição.

PELEJA

Sempre entendi o Doze assim. Por vocês não aparecerem no vídeo.

Somos dois sócios. Nem sempre temos posições idênticas, políticas. O Pacheco e eu temos questões que acreditamos. A linha editorial do Peleja não é a visão do Murilo ou do Pacheco.

Sobre a polêmica do Caio, ele pedir para alguém falar menos me soa ingênuo. O entorno dele é político. O horário do jogo é política. Não é tudo pelo futebol. Se fosse por isso, talvez não teria jogos às 10h da noite. A escala para um jogo é política. O Cléber Machado fazer chamada de vídeo cassetadas é política. Não estou dizendo que é certo ou errado. A transmissão é política. Tem coisas muito mais políticas do que isso. Tudo é política.

Sobre o Red Bull. Fizemos um Fora do Eixo sobre os clubes Red Bull no mundo. Fizemos um vídeo mostrando a situação, tentamos incentivar um debate sobre isso.

Eu acho que tem que ser respeitado o torcedor. Você acha que funcionaria isso com a Ponte ou o Guarani? Eu acho que não funcionaria.

Eu tento não ser a favor de mudar um clube. Esse lance do futebol moderno é perigoso para mim. Sou contra esse futebol das marcas, mas ao mesmo tempo me pergunto: quando ele não foi das marcas? Tem muita gente dos anos 90 que é nostálgica, mas o que foi aquilo? Futebol era político, fazia grana. Futebol moderno é um pouco do que estamos fazendo aqui, discutindo produção de futebol durante uma pandemia. Não posso ser contra o futebol moderno. Isso tudo é futebol moderno. Tem coisas do futebol moderno que eu odeio. As páginas que odeiam futebol moderno enaltecem aquilo que também gosto.

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